PM reformado e ex-PM são presos acusados de assassinar Marielle Franco
De acordo com as investigações, os criminosos planejaram detalhadamente o ataque por três meses. As investigações não descartam um possível mandante do assassinato.
SBT News
Na madrugada desta terça-feira (12), no Rio de Janeiro, foram presos o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
De acordo com as investigações, os criminosos planejaram detalhadamente o ataque por três meses. Lessa, inclusive, acompanhava os passos de Marielle, pesquisando na internet sobre a agenda de compromissos da vereadora, assim como endereços dela e de sua família.
O ex-PM Élcio Vieira de Queiroz foi preso em sua casa, localizada na Zona Norte do Rio. Já o sargento reformado Ronnie Lessa foi detido enquanto deixava sua residência, que fica dentro do Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, o mesmo endereço em que mora o Presidente Jair Bolsonaro.
Para a polícia, Élcio dirigia o veículo, um cobalt prata, que emparelhou ao lado do carro da vereadora. Coube, então, a Ronnie efetuar os disparos que executaram Marielle Franco e o Anderson Gomes.
As suspeitas contra Ronnie Lessa ganharam força nas investigações em outubro do ano passado, após uma denúncia anônima.
Um ano de apuração do caso, o inquérito ganhou quase seis mil páginas e cerca de 230 testemunhas foram ouvidas. O sigilo de mais de 33 mil linhas telefônicas foi quebrado, incluindo a do próprio Lessa.
A polícia ainda cumpriu 32 mandados de busca e apreensão e encontrou um paiol com 117 fuzis e munição que ficava na Zona Norte, dentro da casa de uma pessoa ligada a Ronnie Lessa.
Os investigadores afirmam que já iniciaram a segunda fase do inquérito que tem como objetivo descobrir o mandante do assassinato de Marielle Franco.
Os acusados
Acusado por efetuar os disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa tem 48 anos e é sargento reformado da PM. Iniciou sua carreira na corporação em 1992 e atuou principalmente no 9º Batalhão de Rocha Miranda que, na época, carregava a fama de ser violento.
Em 1998, Lessa chegou a ser homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O chefe do então Sargento era o Tenente-Coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira que, mais tarde, seria condenado a 36 anos de prisão por ser o mandante do assassinato da Juíza Patrícia Acioli, em 2012.
Mais tarde, Ronnie Lessa foi transferido para a Polícia Civil e passou a atuar na Delegacia de Combate ao Tráfico de Armas.
Em 2009, sofreu um atentado: uma bomba explodiu dentro da caminhonete blindada que ele dirigia. O ex-PM precisou amputar uma das pernas e passou a usar prótese.
Aposentado por invalidez, foi contratado pelo bicheiro Rogério Andrade. Porém, em 2010, uma bomba matou o filho de Andrade, e Lessa foi demitido.
Com fama de exímio atirador e de um agente frio em ações externas, a suspeita é que Lessa tenha passado a atuar como matador de aluguel para bancar a vida de luxo.
O outro acusado, Élcio Vieira de Queiroz, tem 46 anos e uma carreira nem tão vistosa quanto o parceiro. Élcio foi expulso da Polícia Militar em 2016 por fazer segurança ilegal para casas de jogos de azar no Rio de Janeiro.
Os motivos
Em pronunciamento, a promotoria afirmou que a operação que levou à prisão de Ronnie Lessa e Élcio Vieira teve que ser antecipada para evitar possíveis fugas dos suspeitos. De acordo com as autoridades, existe a suspeita de vazamentos de informações do caso.
Para as promotoras responsáveis pelo caso, a execução de Marielle Franco foi motivada por uma espécie de repulsa que o atirador tinha em relação à atuação política da vereadora em defesa das minorias, como a defesa de causas LGBTs, feministas e negras.
Contudo, ressaltaram ainda que não está descartada a participação de possíveis mandates do crime, movidos por outros interesses.
Em quase um ano, a polícia seguiu algumas linhas de investigação. Dois meses após o crime, uma testemunha afirmou ter visto um encontro entre o vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Curicica, um dos suspeitos de ordenar a execução. A denúncia sugeria a participação de Siciliano no crime.
Em agosto de 2018, surgiu a hipótese de vingança e o possível envolvimento de policiais no assassinato, o que explicaria a dificuldade em esclarecer o caso.
O crime
Na noite de 14 de março de 2018, às 21h30, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, um veículo emparelhou com o carro onde estava o motorista e a vereadora e, em seguida, efetuou treze disparos.
Marielle Franco foi atingida por quatro tiros na cabeça e, Anderson Gomes, por ao menos três nas costas. Ambos morreram no local.
Nesta quinta-feira, completa-se um ano da morte de Marielle e Anderso e algumas perguntas ainda seguem sem respostas.