"Bolsonaro foi mal entendido sobre explorar Amazônia com EUA", diz Mourão
Vice-presidente é entrevistado no Poder em Foco neste domingo (04), no SBT
"Bolsonaro foi mal entendido sobre explorar Amazônia com EUA", diz Mourão
SBT News
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O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro quis demonstrar simpatia mas foi mal interpretado quando falou ao ex-vice-presidente americano, Al Gore, que gostaria de explorar os recursos da Amazônia com os Estados Unidos. A conversa foi divulgada no documentário alemão O fórum, recém-lançado em plataformas de streaming, e mostra bastidores do Fórum Econômico Mundial de Davos de 2019. "Al Gore é um daqueles que advoga a internacionalização da Amazônia. Temos vários depoimentos dele a respeito disso. Então, eu acho que o presidente fez um gesto diplomático e mal compreendido", disse em entrevista ao Poder em Foco, que vai ao ar neste domingo (04), no SBT.
Hamilton Mourão preside o Conselho da Amazônia. Ele defendeu as medidas adotadas pelo Ministério do Meio Ambiente para proteger a região e ressaltou a necessidade de levar promover o desenvolvimento econômico local. "Concordo com o ministro Ricardo Salles quando diz que a repressão pura e simples às ilegalidades de desmatamento e queimada não vai resolver o problema, será um eterno jogo de gato e rato", avaliou. Entre outros temas, o vice-presidente também falou sobre a estrutura dos órgãos de fiscalização como Ibama e ICMBio e da necessidade do uso das Forças Armadas. A íntegra da entrevista tem 50 minutos e vai ao ar logo após o Programa Silvio Santos. Abaixo, trecho da conversa de Mourão com o jornalista Fernando Rodrigues. O Poder em Foco é uma parceria editorial do SBT com o jornal digital Poder 360.
Poder em Foco - Quando a gente olha as estatísticas ao longo dos anos, não só do governo do presidente Bolsonaro, houve uma diminuição acentuada do número de funcionários do Ibama, do ICMBio -aqueles funcionários que fazem as ações, em teoria, dissuasórias e que ajudam a reduzir, também em teoria, o desmatamento na Amazônia. O que se pretende fazer no governo do presidente Bolsonaro com entidades como essas? Haverá uma recuperação dos quadros?
Mourão - O que ocorre muito claramente é que nós herdamos uma situação que já vinha ocorrendo desde o ano de 2010, quando o atual quadro de servidores do Ibama e ICMBio começou a entrar na sua fase de aposentadoria. Foi se aposentando, não foram realizados novos concursos -que aí é um problema do serviço público que você só pode contratar mediante concurso, contratação temporária também é complicado, principalmente para uma atividade dessa natureza- então nós recebemos essas agências com metade do seu efetivo. E dessa metade, um terço trabalha na fiscalização em campo, os outros dois terços estão em atividades administrativas. Portanto, é uma das prioridades do Conselho da Amazônia. Nós conseguimos colocar um planejamento e aí isso tem que ser trabalhado junto à área econômica para fazer uma recuperação da capacidade operacional desses organismos e, como consequência, deixar de empregar as Forças Armadas no apoio aos mesmos.
Poder em Foco - Em breve haverá concurso para reequipar com servidores essas duas entidades, Ibama e ICMBio?
Mourão - Não vejo ainda sinal verde para que a gente faça um concurso para o ano que vem. Podemos, no ano de 2021, montarmos um edital e aí acertarmos com a área econômica a entrada desse novo grupo de funcionários para 2022. Portanto, a nossa visão é que no ano que vem ainda teremos que estar empregando as Forças Armadas no apoio às ações das agências de fiscalização.
Poder em Foco - O senhor acha que o discurso hoje, do governo em geral, está mais ponderado em relação a esse tema? E pergunto especificamente sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que ainda sofre muitas críticas pelo trabalho que executa.
Mourão - O ministro Ricardo Salles é um camarada extremamente competente, já tinha conhecimento de questões ambientais porque foi secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo, tem uma visão de solução econômica dessa questão. E eu concordo com ele quando ele diz que a repressão pura e simples às ilegalidades de desmatamento e queimada não vai resolver o problema, será um eterno jogo de gato e rato. Nós temos que oferecer condições para que as pessoas que moram na Amazônia tenham emprego, tenham renda e com isso atinjam um nível de desenvolvimento maior. Então, o ministro ele tem sido muito criticado, às vezes, por ter essa visão mais econômica que a visão pura e simplesmente repressiva. Mas eu acho que se nós analisarmos o conjunto das medidas que vêm sendo tomadas pelo Ministério do Meio Ambiente elas estão coerentes com a nossa visão de proteger e preservar a Amazônia.
Poder em Foco - O ministro Ricardo Salles deveria fazer alguma adequação ao discurso que tem?
Mourão - Não digo uma questão de adequação porque o ministro é do presidente Bolsonaro. Vamos lembrar que a nossa Constituição é clara, o Poder Executivo é exercido pelo presidente e seus ministros, e o ministro Ricardo Salles, ao que me consta desfruta da confiança do presidente.
Poder em Foco - Acabou de sair, nem sei se o senhor já assistiu, um documentário sobre o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e a participação de vários chefes de Estado, inclusive o presidente Bolsonaro. Num dos trechos, aparece uma conversa do presidente Bolsonaro com o Al Gore, que foi vice-presidente americano, quando o presidente Bolsonaro disse que gostaria de explorar os recursos da Amazônia em conjunto com os Estados Unidos. A reação do americano é de um pouco de incompreensão. O que exatamente o presidente Bolsonaro queria dizer quando fez essa afirmação?
Mourão - Vamos lembrar que esse Fórum de Davos foi realizado no ano passado, foi a primeira viagem internacional do presidente Bolsonaro, que tinha 20 dias -eu acho que era isso -que ele tinha assumido o governo. Ainda não tinha feito a cirurgia para retirada da bolsa de colostomia. Ou seja, com todas as limitações ele se deslocou daqui para lá para se apresentar ao resto do mundo. Acredito que naquele momento ele procurou fazer um gesto, vamos dizer assim de simpatia ao Al Gore. Eu, da minha parte, acho que o presidente ele foi extremamente diplomático ali, o presidente Bolsonaro. Até porque o Al Gore é um daqueles que advoga a internacionalização da Amazônia. Temos vários depoimentos dele a respeito disso. Então, eu acho que o presidente fez um gesto diplomático e mal compreendido.