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Eleições

Eymael critica uso da religião e diz que eleição deste ano foi sua última

Ao SBT News, ex-deputado afirma não ver risco à democracia em Bolsonaro, mas faz mistério sobre voto

Imagem da noticia Eymael critica uso da religião e diz que eleição deste ano foi sua última
Eymael
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Deputado constituinte e seis vezes candidato à Presidência da República, José Maria Eymael não vai disputar mais eleições. A declaração foi dada em entrevista ao SBT News, na qual o experiente político de 82 anos -- quase 60 deles dedicados à vida pública -- faz uma análise do segundo turno da corrida ao Planalto. Presidente nacional da Democracia Cristã, ele critica o uso da religião como "força eleitoral" e diz que Jair Bolsonaro (PL) está "pagando um preço alto" por "usar o cenário de Aparecida para propaganda eleitoral".

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Seria então uma declaração de voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT)? Não. Eymael resiste em apontar sua preferência: "Depois de terminar a eleição eu posso falar". Oficialmente, o partido liberou seus filiados para votarem "conforme sua consciência". Porém, ao contrário de outros nove candidatos que disputaram o pleito de 2018 e declararam apoio ao petista -- Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSB), Guilherme Boulos (PSol), Henrique Meirelles (União Brasil), João Amoêdo (Novo), João Goulart Filho (PPL), Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU); Alvaro Dias (Podemos) não declarou apoio; Cabo Daciolo (PDT) defende voto nulo --, o democrata cristão não vê no atual presidente um risco à democracia. "Não vejo Bolsonaro nem com esse querer nem com essa força."

Entre críticas e afagos, o ex-candidato, que chegou a dar uma declaração interpretada como apoio a Fernando Haddad em 2018, fala ainda sobre a "premonição" que disse ter de que derrotaria Lula no segundo turno. Segundo o ex-deputado, a Democracia Cristã era a sigla que o petista "menos gostaria de enfrentar" por ser a autora "de todos os grandes avanços sociais dos trabalhadores". Mas ressalva: "Quero homenagear também o PT por seu trabalho na Constituinte". Nem mesmo pelos "sinais, fortes sinais" é possível captar o voto de Eymael.

Confira a íntegra da entrevista: 

Que avaliação o senhor faz dessa corrida eleitoral, uma das mais polarizadas desde a redemocratização?
Inicialmente, fazer uma consideração sobre a própria polarização. Nós assistimos agora em 2022 um cenário que nunca aconteceu no país, na intensidade que aconteceu. Na verdade, mais de 90% dos votos divididos entre dois candidatos. Isso representou para o cenário político brasileiro uma grave distorção. Na medida em que mais de 90% -- 92%, 93% -- dos votos sendo em duas pontas, isso gerou um enfraquecimento em termos de votos de todos os demais partidos, e nós fomos um dos partidos alcançados por essa onda. Mas, hoje, a Democracia Cristã, nesse cenário de segundo turno, nós estamos olhando para frente. Nós liberamos os nossos filiados no segundo turno para que votem de acordo com as suas consciências e a nossa visão já é na frente. É a preparação de 2024 na eleição para vereadores e prefeitos. 

A Democracia Cristã, mesmo quando ainda não tinha esse nome, sempre defendeu os valores cristãos. E a religião está sendo um tema muito debatido nesta eleição. Qual a sua percepção em relação a esse debate religioso nas eleições?
Que não se deve misturar religião com processo eleitoral. Podemos falar de princípios, mas não de religiões. Porque isso vicia o processo. Princípios são fundamentais. E são os princípios que têm que nortear a vida de qualquer agente político. Por exemplo, na Democracia Cristã nós temos católicos -- eu sou católico -- nós temos evangélicos, nós temos espíritas, nós temos filiados que praticam outras religiões, inclusive afrobrasileiras. Mas o que nos une, o que nos reúne são os valores do Cristianismo. Então isso é muito forte, né? E o povo brasileiro é um povo ligado ao Cristianismo. Mas sem um rótulo 'eu sou católico, eu sou evangélico ou eu sou espírita'. O que nos leva como povo, como nação é o Cristianismo. É a palavra de Cristo. São os princípios que ele apresentou para a humanidade. Então, usar a religião como uma força eleitoral, eu acho negativo. Falar de princípios, ótimo. Falar dessa ou daquela religião pedindo voto, na nossa visão é um erro. 

Como católico, eu queria perguntar se o senhor se sentiu de alguma forma incomodado com as cenas que a gente tem visto nos últimos dias de ataques a padres. Como é que o senhor recebeu essas essas ações, inclusive lá em Aparecida? 
[Bolsonaro] pagou um preço alto por isso. Foi o castigo. Apareceu lá com seus assessores. Não tinha lógica. Se fosse lá com humildade, né? Fazer a sua prece, sozinho, seria uma coisa muito bem vista. Agora, usar o cenário de Aparecida para propaganda eleitoral, negativo.

Ainda falando sobre o presidente, os opositores o acusam de ser uma ameaça à Constituição. O senhor enxerga o presidente Jair Bolsonaro como uma ameaça à Constituição e ao Estado democrático de Direito?
Não, não vejo. Não vejo o Bolsonaro nem com esse querer nem com essa força. Acho muita manchete. Eu tenho fé que se o presidente não lograr ser reeleito, ele terá serenidade para enfrentar a derrota e pensar para frente. 

A Democracia Cristã liberou seus filiados a votarem em quem quiser. E eu queria perguntar, enquanto cidadão, em quem o José Maria Eymael vai votar?
Depois de terminar a eleição eu posso falar, antes não.

E em 2018? Como já passou o senhor pode falar em quem votou?
Em 2018, na eleição para 2018? Falei na época, agora não devo repetir. [NR: Após declaração do deputado Eduardo Bolsonaro sobre "um cabo e um soldado" para fechar o STF, Eymael fez uma publicação conclamando o então candidato Fernando Haddad a reunir as forças democráticas. Ele negou, contudo, que tenha sido uma declaração de apoio]

Sobre o futuro, o senhor falou muito das próximas eleições, de 2024, das municipais. Mas em 2026? O senhor vem candidato novamente? Já está pensando nisso? 
Veja bem, na eleição de 2018, eu tinha considerado encerrada a minha tarefa da reconstrução da Democracia Cristã [...] Mas os meus companheiros do Brasil inteiro insistiram para que eu fosse mais uma vez candidato a presidente para consolidar essa refundação da Democracia Cristã. E fui como candidato a presidente com esse objetivo, com essa determinação. Claro, sempre buscando a vitória. Mas eu considero concluída esta minha fase na política brasileira. Nós temos excelentes lideranças já maduras e um grande esforço nosso para que novas lideranças venham para a Cemocracia Cristã. Então nós teremos candidatura própria à Presidência da República lá em 2026, teremos candidatos próprios a prefeito em 2024 -- em um número enorme imenso de cidades --, mas a minha participação como candidato na vida pública essa está encerrada. 

O senhor falou que não vai abrir o voto. Então a chance de estar em algum dos palanques é zero?
No segundo turno, não. No segundo turno, eu, como presidente nacional, não posso estar nesse ou naquele outro palanque, porque eu inibiria os nossos afiliados para exercerem aquilo que nós dissemos: a liberdade para escolher o seu candidato de acordo com a sua confiança. 

O senhor falou que teve uma premonição de que estaria no segundo turno com Lula...
Falei. Uma premonição. Eu acho que era o que eu queria. E, na verdade, o que Lula menos gostaria de enfrentar é a Democracia Cristã. Porque nós somos autores de todos os grandes avanços sociais dos trabalhadores. Mas eu não quero tirar o mérito do PT na Constituinte, porque o PT perdia a tese que estava defendendo e depois me acompanhava. O PT queria 40 horas [de jornada semanal de trabalho], não conseguiu. Eu sou autor das 44 [horas]. E aí o PT veio junto. Então quero homenagear também o PT por seu trabalho na Constituinte. 
 

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