Aliado de Bolsonaro, Crivella diz que mudou de opinião sobre PT por "mudança de doutrina" do partido
"Na época do Lula, o Brasil cresceu", afirmou o prefeito ao SBT
Bárbara Schneider
Candidato à reeleição, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), diz ter mudado de opinião sobre o Partido dos Trabalhadores (PT) - a quem apoiava quando foi ministro da Pesca, de 2012 a 2014, no governo Dilma Rousseff - por uma suposta "mudança de doutrina" da legenda. A afirmação foi feita nesta 4ª feira (25.nov) em entrevista ao SBT.
O candidato à Prefeitura do Rio chegou atrasado para a entrevista ao vivo, marcada para as 12h30, após participar de um compromisso relacionado a seu mandato. Com isso, o tempo de exibição foi reduzido em comparação com as demais entrevistas feitas pela emissora com postulantes à Prefeitura. O SBT manteve a sabatina, que teve início às 12h47, reafirmando o compromisso com a população carioca e com a democracia.
Atualmente autodeclarado "soldado" do Presidente da República Jair Bolsonaro, Crivella afirma que deixou de apoiar o PT porque o partido teria sido a favor do que ele chama de "kit gay" e impostos sobre igrejas. O candidato também citou a existência de corrupção no partido, o que diz abominar, e alegou que era aliado, mas não cúmplice. Por outro lado, Crivella elogiou o governo Lula e teceu considerações sobre sua fala em que relaciona igrejas a propósitos comunistas:
A respeito de um possível lockdown para conter uma potencial segunda onda de contaminações e óbitos na pandemia de covid-19, Crivella disse que não cogita implantar tal medida e que o importante no momento é a reabertura de leitos em hospitais privados."Realmente, na época do presidente Lula, o Brasil cresceu. Teve um momento que cresceu 7%. Quando eu disse que o início da igreja primitiva era comunista, é porque todos os membros da igreja vendiam tudo o que tinham e traziam aos pés dos apóstolos. Não deu certo, e depois acabou-se com isso. Mas foi assim o início, a utopia inicial. Então não quer dizer que eu disse que subiu para sempre, não. O texto que você citou, se você continuar lendo... Começou assim a igreja primitiva, não deu muito certo. E aí, cada um por si"
Crivella também foi questionado sobre um possível esvaziamento da candidatura, diante da desistência de políticos coligados ao seu partido, principalmente vereadores, em apoiá-lo e indo para o lado de seu oponente. Até mesmo o líder do Governo na Câmara dos Vereadores, o vereador Jairinho (Solidariedade), apareceu nesta nesta segunda-feira em um compromisso de campanha de Eduardo Paes (DEM). Para Crivella, não há significância. "Eles não eram do meu partido. Eles fizeram coligação comigo, mas o meu partido, o PRB, continua unido e muitos outros vieram nos apoiar. Hoje, o Eduardo Paes tem 200 mil votos a mais que eu. Os vereadores são 10, 12, 13 mil votos... São importantes, mas não fazem mudanças no cenário eleitoral", minimizou."A rede pública tem limite, mas a rede privada, os hospitais privados, fecharam muitos leitos. Nós tínhamos dois hospitais de campanha feitos pela rede D?or, um no Recreio e outro no Leblon, que também fecharam. Então, o grande problema hoje é pedir à rede privada de hospitais, que é o pessoal que tem plano de saúde ? não é o SUS, que eles reabram os seus leitos. O problema é a rede privada. Eles devem retornar aos seus leitos de covid-19 para atender essas pessoas. Na rede pública, temos muitos leitos ainda para serem abertos agora, em parceria com o Governo do Estado."
Confira as perguntas e respostas na íntegra:
SBT: A gente tem presenciado nessa reta final de eleição um esvaziamento da sua candidatura. Vários vereadores pulando para o lado adversário. Até o líder do seu governo na Câmara dos Vereadores está apoiando o Eduardo Paes. Isso não é uma sinalização de que os seus aliados estão jogando a toalha porque não acreditam numa vitória sua?
Marcelo Crivella: Absolutamente. Eles não eram do meu partido. Eles fizeram coligação comigo, mas o meu partido, o PRB, continua unido e muitos outros vieram nos apoiar. Portanto, Humberto, isso daí não tem relação nenhuma. Veja, nós estamos disputando uma eleição de milhões de votos. Hoje o Eduardo tem 200 mil votos a mais que eu. Os vereadores são 10 mil votos, 12 mil votos, 13 mil votos, são importantes, mas não fazem mudanças no cenário eleitoral. Uma coisa é o Executivo e outra coisa é o Legislativo.
Minha pergunta hoje vai diante de uma notícia que saiu em relação ao governador em exercício, Cláudio Castro, tentou um pacto com os prefeitos do Rio de Janeiro para que se evite o lockdown. Caso o senhor seja reeleito, existe em janeiro uma perspectiva de a gente estar em mais um momento de crise - nessa chamada segunda onda, ou segunda onda iminente. O senhor aceitaria esse pacto? Qual seria o posicionamento em relação ao Rio de Janeiro?
Não, nós não pensamos em lockdown, não. Durante toda a crise, na primeira onda, nós tivemos abertos supermercados, tinturaria, petshop, e mantivemos abertas as clínicas de saúde. Então, eu pergunto a você: teve mortalidade lá? Morreram, por exemplo, tintureiros, veterinários, farmacêuticos ou gente de supermercado? Não. As pessoas idosas e com comorbidade se afastaram e quem estava trabalhando, sempre usando as regras de ouro: lavar a mão, usar a máscara e evitar aglomerações. Não teve necessidade nenhuma de lockdown.
Agora, o que é muito importante alertar é que hoje o nosso grande problema é na rede privada. A rede pública tem limite, mas a rede privada, os hospitais privados, fecharam muitos leitos. Nós tínhamos dois hospitais de campanha feitos pela rede D?or, um no Recreio e outro no Leblon. Eles também fecharam. Então o grande problema hoje é pedir à rede privada de hospitais, que é o pessoal que tem plano de saúde ? não é o SUS, que eles reabram os seus leitos. Não sei se vocês viram umas imagens, aqui no hospital Vitória na Barra da Tijuca, com muita gente na porta. O problema hoje é a rede privada. Eles devem retornar aos seus leitos de covid-19 para atender essas pessoas. Na rede pública temos muitos leitos ainda para serem abertos, e agora, em parceria com o governo do estado, vamos abrir.
Candidato, o senhor se colocou nesta campanha como um "soldado bolsonarista" e está procurando colocar a sua imagem ao presidente Bolsonaro. O que aconteceu com o Crivella que homenageia os governos do PT? Em 2013, por exemplo, o senhor disse a seguinte frase: "a nossa presidente Dilma e o presidente Lula fizeram a gente crescer porque apoiaram os pobres, e o que nos sustenta são dízimos e ofertas de pessoas simples e humildes". Em 2007, numa sessão do senado em homenagem ao Partido Comunista do Brasil, o senhor discursou e disse a seguinte frase: "Não há cartilha mais comunista que o evangelho". Por que a sua opinião mudou de noite para o vinho?
Porque o PT e os outros partidos de esquerda mudaram a sua doutrina. Eles apoiaram o kit gay, e apoiaram os impostos sobre as igrejas. As igrejas foram taxadas em R$ 1 bilhão e o kit gay é um absurdo. Portanto, eu era aliado, mas não era cúmplice. É isso que eu sempre disse.
Agora, tem outra coisa. Se envolveram em corrupção ? coisa que eu tenho a total abominação. Eu tenho quase 20 anos de vida pública, Humberto. Não tenho um processo. Eu respondi agora lá no Superior Tribunal Eleitoral, e fui inocentado de cinco a um. Diferente do Eduardo. Humberto, quando o Eduardo vier aqui, pergunta pra ele todos os processos que ele responde por corrupção. Foi delatado em todas as empresas da Lava Jato. Ele tem um secretário de obra preso em 76 anos, fora os outros funcionários. O que pegou menos pegou 13 anos. Pergunte a ele como é que ele está concorrendo. É com uma liminar. A minha foi derrubada, a dele há 4 anos não é julgada. Ele pegou R$ 7 milhões da prefeitura para fazer um plano de governo com Pedro Paulo em 2016. Isso é crime, isso é roubo. Completamente diferente.
Realmente, na época do presidente Lula o Brasil cresceu. Teve um momento que cresceu 7%. E quando eu disse - não foi exatamente como você falou - que o início da igreja primitiva era comunista, é porque todos os membros da igreja vendiam tudo o que tinham e traziam aos pés dos apóstolos. Não deu certo e depois acabou-se com isso. Mas foi assim o início, a utopia inicial. Então não quer dizer que eu disse que subiu para sempre não. O texto que você citou, se você continuar lendo, começou assim a igreja primitiva, não deu muito certo, e aí cada um por si.
Pauta de transportes: a gente viu aí nos últimos tempos que o que já não era bom conseguiu ficar pior, que é a questão do transporte público. O último levantamento da própria prefeitura mostra que 20% das linhas de ônibus na zona oeste praticamente desapareceram. Isso sem contar o sucateamento do BRT, que a gente sabe que é uma importante ligação da zona oeste, Barra da Tijuca, fazendo a transferência no Alvorada. Vai ter algo mais efetivo, mais imperativo por parte da gestão do Crivella para tentar de alguma forma acabar com esse abandono?
Isabele, se você é justa, você vai ver que a gente lutou muito e melhorou. Por exemplo, você paga pedágio na linha... você pagava R$ 15,00 todo o dia para ir trabalhar no SBT, agora não paga mais. Isso já foi um grande avanço na mobilidade. Eu nomeei interventor no sistema do BRT, e nós verificamos que era preciso R$ 150 milhões para consertar o sistema que eu peguei quebrado. Já estava esculhambado na época do Eduardo. Como é que eu iria arrumar R$ 150 milhões se eu tive menos R$ 15 bilhões para administrar a cidade? Começou-se os processos administrativos para responsabilizar. Responsabilizar principalmente a Andrade e Gutierrez, a Odebrecht, a OAS e a carioca Engenharia. A Carioca Engenharia duas semanas atrás já me devolveu alguns milhões. A Odebrecht vai me devolver R$ 36 milhões, a OAS está me devendo R$ 60 milhões e a Andrade R$ 40 milhões. Somando isso tudo vai dar quase R$ 150 milhões que é tudo que eu preciso para consertar o sistema todo. O sistema foi feito com corrupção. Na delação da lava-jato, o fiscal da obra Alexandre Fagundes disse que as obras eram calculadas e multiplicadas por 2.2. A propina era maior do que a obra. Não tinha fiscalização e eles faziam o que queriam. Quebrou t/udo. Aquelas estações que estão depredadas custaram 30 mil reais o metro quadrado. Trinta mil reais o m² é o preço de um apartamento na Vieira Souto. As que eu estou fazendo na Avenida Brasil custaram R$ 5 mil, são muito melhores.
Agora, isso demora para consertar, não é de uma hora para a outra. Então as pessoas precisam me dar o segundo mandato, que é para eu terminar. Se o Eduardo voltar vai engavetar tudo porque a corrupção foi toda na época dele, e aí eu não sei como isso vai ser resolvido. Eu já fiz os processos, têm R$ 150 milhões para receber, a Carioca já me devolveu R$ 11 milhões, a Odebrecht R$ 36 milhões ? está faltando R$ 40 milhões da Andrade, R$ 60 milhões da OAS, e aí nós vamos consertar tudo. Detalhe, Isabelle, nossa passagem de ônibus é a mais barata do Brasil; R$ 4,05 não existe em lugar nenhum. E eu vou dizer uma coisa pra você: o Eduardo, na época dele, a passagem era altíssima e ainda pagava a gratuidade das crianças. Pegaram agora da conta dele R$ 240 milhões. Bloquearam na conta do Eduardo, Humberto, pergunta isso para ele, R$ 240 milhões. Por quê? Além da passagem ser cara, ainda pegava dinheiro da educação para pagar a gratuidade. No meu governo é a passagem mais barata do Brasil. Mais barata que São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, procura aí. E eu não pago um centavo na gratuidade.
A agência de checagem Lupa constatou que o seu programa de governo é uma reciclagem das propostas apresentadas em 2016. Ou seja, o senhor está prometendo agora o que tinha prometido fazer lá em 2016. Pelo menos quinze propostas iguais foram constatadas pela Lupa. O senhor acha que essas mesmas promessas vão sensibilizar o eleitor?
Eu tive menos R$ 15 bilhões. Eu tentei fazer, mas não consegui. Quinze bilhões a menos, Humberto. R$ 5,2 bilhões eu tive que pagar, e R$ 10 bilhões a arrecadação caiu. Agora eu já paguei os R$ 5,2 bilhões. O que eu vou fazer? Vou diminuir o IPTU, com o Carlos Eduardo eu tive que aumentar. Deu um índice de débito de 50%, as pessoas não conseguiam pagar 30%. Agora vai diminuir. Vai melhorar a economia, vai gerar melhor. Vamos continuar fazendo outros programas. Agora não é mais Minha Casa Minha Vida, é casa Verde e Amarela ? tem um aqui na Barra da Tijuca, e vai envolver um investimento de R$ 5 bilhões e 300 mil empregos. Vamos trocar toda a iluminação da cidade. Eu comecei, não consegui terminar, mas já troquei mais de 50 mil lâmpadas. Vamos botar câmeras também e wi-fi gratuito. Isso vai fazer do Rio uma smartcity. Estamos asfaltando a Avenida Brasil todinha. O presidente Bolsonaro me arrumou R$ 100 milhões. Aliás, o Eduardo se ganhar não vai fazer autódromo porque o Dória não vai deixar, que ele quer que a gente vá assistir corrida lá em Interlagos. Esses programas, esses projetos eu não consegui fazer porque não tinha dinheiro.