Tarifaço reduz em 18% as exportações de calçados do RS para os EUA
Estado é o líder nacional do setor e estima a perda de 8 mil postos de trabalho em um ano, se taxa adicional for mantida

Lenise Slawski
O Rio Grande do Sul já sente os efeitos do tarifaço aplicado pelos Estados Unidos ao Brasil. Em agosto, foram exportados 804 mil pares de calçados para o mercado americano, uma queda de quase 18% em relação ao mesmo mês de 2024. O setor calçadista, em que o estado é líder nacional, está entre os mais impactados.
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A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) alerta para riscos no emprego. "Nossa preocupação, sem dúvida, acaba sendo com relação aos postos de trabalho. O setor é intensivo em mão de obra e, em regiões como o Rio Grande do Sul e o Nordeste, é um dos principais empregadores. Se a tarifa adicional se mantiver, a projeção é de perda de oito mil postos de trabalho diretos em um ano", afirmou Priscila Linck, coordenadora de inteligência de mercado da entidade.
O Sindicato dos Trabalhadores de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, informou que o impacto nas vagas ainda não foi sentido neste primeiro mês. Além da perda no mercado americano, com a cobrança de 50% extra sobre as exportações, cresce a concorrência externa. Em agosto, as importações de calçados chineses subiram cerca de 40%. "Se a gente olhar em dólares, o crescimento foi de quase 70%. Isso mostra uma aceleração do redirecionamento do produto chinês para mercados latino-americanos e também para o Brasil", completou Linck.
O prejuízo para setores gaúchos atingidos pelo tarifaço em agosto foi de R$ 30 milhões, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). A redução equivale a 19% das exportações para os Estados Unidos.
O economista-chefe da entidade, Giovane Baggio, destacou os segmentos mais afetados. "Foram aqueles que já esperávamos como os mais expostos ao mercado americano: armas, com queda de quase 70%, transformadores também próximos de 70%, além de madeira e utensílios domésticos. Os dados confirmam menor volume e receita nas negociações", explicou.
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A Fiergs defende a via diplomática como saída para reverter o cenário. "O diálogo e a negociação são as principais ferramentas que o governo tem. Acreditamos que a retaliação não é o melhor caminho. Precisamos que os principais atores demonstrem disposição de negociar para termos alguma esperança", afirmou Baggio.