Governo suspende fundação IBGE+ em meio à crise com servidores
Horas antes, em evento em Brasília, presidente do órgão negou que iniciativa, alvo de críticas, representasse a entrada de interesses privados na instituição
Paola Cuenca
O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciaram que a Fundação IBGE+, lançada em julho do ano passado, será suspensa temporariamente. A iniciativa que permite a entrada de recursos privados para o desenvolvimento de trabalhos é alvo de críticas de servidores.
No comunicado, o MPO afirma apoiar o IBGE+ e que, frente ao desafio de ampliação das fontes de recursos do IBGE, "estão sendo mapeados modelos alternativos que podem ensejar alterações legislativas, o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional". Novas decisões, diz a pasta, serão tomadas em debate entre os Poderes Executivo e Legislativo.
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O movimento representa um recuo em relação à postura do presidente do Instituto, Márcio Pochmann. Durante a manhã, em evento de lançamento do plano de trabalho do órgão para 2025, Pochmann negou que o IBGE+ representasse a interferência de interesses privados nos trabalhos de pesquisa e estatística.
"É um tema que gera controvérsias não apenas no IBGE, mas em várias outras instituições públicas que tomaram essa decisão [de criar Fundações]. Há uma perspectiva de entender que uma fundação desta natureza ou fundação pública de direito privado poderia levar a uma espécie de privatização, não é? Pelo contrário. São modelos necessários para ampliar o orçamento e permitir a inovação tecnológica absolutamente necessária nos dias de hoje", sustentou Pochmann.
O IBGE+ é alvo de críticas dos servidores do órgão que reclamam não terem sido consultados ou terem participado de diálogos para a construção da iniciativa. Há temor ainda de que a Fundação seja uma porta de entrada para a privatização do IBGE. Segundo o diretor da executiva-nacional do Sindicato dos Trabalhadores do IBGE, Antônio Carlos da Mata, outro ponto crítico da proposta é a possibilidade de contratação de pessoas de fora do Instituto para atuação na Fundação.
"O que a gente precisa não é uma fundação. A gente precisa que o governo injete dinheiro dentro do IBGE para a gente continuar fazendo o trabalho com toda a qualidade que nós sempre demonstramos", defende.
Crise no IBGE
Para além dos conflitos envolvendo o IBGE+, desde setembro do ano passado, servidores do Instituto têm realizado manifestações contra a gestão de Marcio Pochmann, que é considerada autoritária. Na manhã desta quarta (29), houve outro protesto em frente à sede do IBGE o centro do Rio de Janeiro. Faixas diziam "O IBGE não é o Pochamnn! O IBGE é orgão de Estado!" e "Precisamos de orçamento, servidores efetivos e gestão democrática".
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Em janeiro, quatro diretores do órgão -- dois da área de Pesquisas e dois de Geociências -- deixaram os cargos . De acordo com Da Mata, a saída das diretoras está relacionada à falta de diálogo da nova gestão. No dia 20, uma carta assinada por mais de 100 gerentes e coordenadores de pesquisas, apontou que "a condução administrativa do Sr. Pochmann tem sido pautada por posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico da casa". No documento, os técnicos ainda afirmaram que "o clima organizacional está deteriorado e as lideranças encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções".
Em comunicado divulgado no dia 24, a presidência do IBGE rebateu as críticas afirmando que as manifestações contrárias à gestão se intensificaram após outubro de 2024, momento em que a administração do órgão "deflagrou uma apuração interna sobre a existência de consultorias privadas de servidores instaladas ilicitamente dentro do IBGE". O caso também foi repassado para o Ministério Público Federal.