Brasil lançará fundos de investimentos para Cerrado e outros biomas na COP28
Objetivo é desenvolver a bioeconomia: "é a solução para o desmatamento", aposta braço direito de Marina Silva
Pablo Valler
O que se espera do Brasil na 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28), realizada até 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes? Números que comprovem a redução do desmatamento? Se depender apenas disso, a acolhida poder não ser tão boa.
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"Hoje, falar que o Brasil teve nos últimos 10 meses uma redução de 49% no desmatamento é uma conquista, é um número positivo. Mas, é muito aquém do que necessitaríamos ter para, de fato, conseguir uma mitigação climática", pondera o Dr. Fabrício Stocker, um especialista no tema. Ele explica que a diminuição se deu em cima de um exorbitante aumento do ano passado. Ou seja, mesmo com a redução, o desmatamento continua excessivo no Brasil.
Parte da explicação para essa decepção é que, nos últimos quatro anos, o Brasil desinvestiu em fiscalização por meio do Ibama, por exemplo. "Espera-se que a comunidade internacional entenda isso", dispara Fabrício.
Ele chama atenção para essa situação. Pois, nos últimos quatro anos, o Brasil foi acusado de "pedalada climática". Termo criado para explicar, justamente, que a comparação escondia dados: "A gente tem ainda um trabalho muito grande com relação a isso. Mostrar exatamente de qual ponto que eu estou partindo e quanto eu quero alcançar. A gente espera dados mais robustos e transparentes. É uma possibilidade de ganho de reputação com o mercado".
Essa chance será aproveitada com o lançamento de mais projetos para investimentos. Assim como o Fundo Amazônia, serão apresentados planos para os outros biomas. O do Cerrado poderá receber recursos já no início de 2024.
"Pra mim, a solução para o desmatamento está na bioeconomia", aposta Carlos Netto, que foi chefe de gabinete do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática até o mês passado e coordenou boa parte do que o Brasil apresentará à COP28. "Esses fundos são para desenvolver a bioeconomia. Uma árvore mogno derrubada vale R$ 20 mil. Ou seja, que alternativa você traz para aquelas pessoas que vivem alí? A bioeconomia é a solução".
Ainda sobre, Netto conta que "o Sebrae vai levar 250 startups com soluções para desenvolver a bioeconomia. Mais de 70% delas já em atuação. E já estão na Câmara de Comércio Brasil-Noruega sendo muito bem avaliadas".
Ele continua: "Agora tem que ganhar escala. Assim como os projetos de reflorestamento. A gente fala muito do desmatamento e tem que falar. Mas, existe uma oportunidade enorme de PPPs, parcerias público-privadas, para reflorestamento. E aí, a gente precisa regular o mercado de crédito de carbono no Brasil. A comissão de Meio Ambiente do Senado deu um primeiro passo e eu entendo que até a COP28 isso deveria ser deliberado. Porque, com a regulação, se cria uma oportunidade grande de projetos de reflorestamento. Porque o município tem alçada para reflorestar. O município não tem muitos instrumentos em relação ao desmatamento. Isso é mais dos governos estadual e federal. Mas, para reflorestar nós temos essa possibilidade. Isso é recurso para os municípios e para as empresas", esclarece Netto.
Os projetos com propósitos objetivos são vistos com bons olhos por Fabrício. Para explicar, ele usa como exemplo o que não deu certo até então. Como os pedidos de ajuda milionária dos países em desenvolvimento aos mais desenvolvidos. Promessas que nunca foram cumpridas. Com um plano que inclua onde, como e quando as ações serão empregadas, além dos resultados, fica mais fácil convencer. "Uma grande discussão esperada para essa COP é como torná-la mais inclusiva. A gente tem a necessidade de limitar o aquecimento global em 1,5°C em relação ao período pré-industrial. Essa é a met. Agora, tem que desenvolver o roadmap, como fazer isso? Os países ricos podem conseguir. Outra coisa é saber como os países vulneráveis vão fazer isso. Então, a grande discussão desse ano é um fundo de perdas e danos. Quem mais tem sofrido são os países em desenvolvimento e a justiça climática exige que se crie um fundo para saber, de fato, para onde destinar recursos".
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