Guerra pode atingir as trocas comerciais entre Brasil e Israel no curto prazo
O acordo recente entre os dois países para venda carne de frango do Brasil para Israel deve se manter
Ainda não é possível saber a extensão das possíveis consequências da guerra entre Israel e o Hamas para o fluxo de comércio entre Brasil e Israel. A opinião é do presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (BRIL Chamber), Renato Ochman. Mas ele afirma que, ao menos no curto prazo, haverá efeitos sobre as duas vias de trocas comerciais. "É natural que pelos episódios recentes na guerra os negócios sejam afetados no curto prazo, mas não se sabe quais serão as consequências.
"Existem vários negócios entre Brasil e Israel, especialmente na área de commodities e na área de tecnologia, que cresceram muito nos últimos anos, aumentando muito a balança comercial de US$ 1,5 bilhão para US$ 4,0 bilhões em 2022, só que não se sabe exatamente qual será a repercussão desse episódio", comenta Ochman.
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Cenário
A participação de Israel no mapa de destino das exportações/importações brasileiras é de pouco menos de 0,40% do total da balança comercial brasileira, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria e Comércio. De janeiro a setembro deste ano, de acordo com a secretaria, o Brasil vendeu US$ 570 milhões para Israel, e comprou US$ 1,068 bilhão. No ano passado, só em petróleo e derivados, o Brasil vendeu mais de US$ 1 bilhão para Israel. Confira os principais produtos comprados por Israel ao Brasil.
- Combustíveis minerais, lubrificantes e materiais relacionados
- Produtos alimentícios e animais vivos
- Matérias em bruto, não comestíveis
- Artigos manufaturados
Recentemente, os dois países assinaram acordo para exportação de frango do Brasil para Israel. O mercado do país do Oriente Médio é de 600 mil toneladas de carne de frango por ano, ou US$ 4 bilhões/ano. Pelas projeções dos especialistas, o Brasil poderia assumir 1/3 do total de vendas de frango anual para Israel. Os judeus são os maiores consumidores per capita de frango do mundo, com 65 kilos/ano. O Brasil consome 48 kilos/ano. Os Estados Unidos consomem 58 kilos/ano.
Respeitadas as condições da produção kosher [fala-se cachér], que é um conjunto de normas estabelecidas pela religião judaica para o consumo de alimentos (veja abaixo), o Brasil teria condições de repetir o sucesso das vendas de carne bovina para Israel. As exportações brasileiras saltaram de US$ 60 milhões em 2003 para US$ 250 milhões há dois anos.
"Nós temos desde setembro [o acordo] e isso possivelmente vai ser uma grande saída para o incremento das relações comerciais Brasil-Israel. Especialmente nesse momento dessa guerra, onde precisará obrigatoriamente alimentar o povo de Israel, e o Brasil poderá ser um grande fornecedor disso", avalia Ochman.
Importações
Do ponto de vista das compras feitas pelo Brasil do país judaico, o alerta mais evidente diz respeito a questão dos fertilizantes. Se eventualmente houver bloqueio de portas, por exemplo, pode haver diminuição no embarque do produto em direção ao Brasil. Atualmente o fluxo comercial deste item é da ordem de US$ 1,2 bilhão. E a exemplo das dificuldades lançadas ao mercado internacional de fertilizantes pela guerra da Ucrânia, o agronegócio brasileiro sofreria novo duro golpe com a falta das vendas de Israel para o país.
Outro componente da pauta comercial entre os dois países é a tecnologia. Neste aspecto, a influência pode ser de outra natureza.
"De uma maneira geral, todos os produtos devem sofrer um prejuízo, especialmente todos aqueles exportados de Israel para o Brasil, como commodities e até as questões relacionadas com tecnologia: é precisso gente pra trabalhar nessa área, e a maior parte, que são os jovens que trabalham com tecnologia, estão sendo recrutados para o exército. Então eu tenho falado com empresas de tecnologia em Israel diariamente e eles estão conseguindo conciliar isso através do home office que se torna uma grande facilidade pra poder superar essa situação" , disse Renato Ochman, presidente da Bril Chamber
Tradição kosher
As regras judaicas são muito rígidas para tratar a carne para consumo. Os judeus não podem comer o sangue dos animais, logo o cozimento não pode permitir que o sangue penetre a carne para o consumo. Condições de abate têm de ser supervisionadas por Rabinos. Há restrições com relação a quais animais podem ser consumidos: porco e coelho, entre outros, não podem fazer parte do cardápio.
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