"Porta aberta", diz presidente do Banco Central sobre queda de juros
Campos Netos afirma que houve ruído e comunicado anterior à ata do Copom trouxe consenso
Isabel Mega
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se defendeu das críticas após a diferença de tom entre o comunicado do Comitê de Política Monetária, que manteve na semana passada a taxa de juros em 13,75%, e a ata divulgada nesta semana.
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Segundo ele, o objetivo de cada instrumento é diferente, com o comunicado tendo a função de comunicar e expressar a opinião de consenso e ata, divulgada na semana seguinte, o objetivo de explicar o que foi debatido na reunião, detalhar divisões e a opinião mais predominante entre os membros do BC responsáveis pela análise.
"A gente entende que o comunicado deixou a porta aberta. Vejo bastante ruído nisso", afirmou.
Campos Neto confirmou que falou com parlamentares após os ruídos e se colocou à disposição do presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para prestar esclarecimentos. Isso, segundo ele, ocorreu antes da aprovação de um novo convite para que ele falasse ao Congresso.
O presidente do Banco Central afirmou ainda que o debate, que teve impacto por quatro dias nos preços do mercado financeiros, acaba deixando em segundo plano o cenário de melhora da inflação, que é justamente a sinalização que o Banco Central (BC) afirma ser essencial para que a taxa selic comece a cair a partir de agosto.
"A gente tá perdendo o pano de fundo de que temos uma melhora. Temos um processo em que a desinflação está em curso".
Na tarde desta 5ª feira (29.jun), o Conselho Monetário Nacional vai se reunir para discutir a possibilidade de mudança nos parâmetros da meta de inflação, fixadas para 2023, 2024 e 2025 são de 3,25%, 3% e 3%, nesta ordem.
Está em discussão a mudança de ano calendário para contínua, o que pode trazer flexibilidade para a meta, na avaliação de especialistas. Campos Neto defendeu um aperfeiçoamento no sistema de metas e que a adoção do sistema contínuo, pode ser interessante.
O presidente do Banco Central, no entanto, criticou a defesa feita pelo presidente Lula para que a meta seja elevada: "Quando você aumenta [a meta], você não ganha flexibilidade. Você tem uma percepção que ganha, mas o que acontece na prática é que você não ganha".
Mais cedo, o presidente Lula voltou a criticar Campos Neto em uma entrevista à Rádio Gaúcha dizendo: "Agora, você tem um cidadão que me parece que não entende absolutamente nada de país. Não entende nada de povo, não tem sentimento com o sofrimento do povo e mantém uma taxa de juros para atender aos interesses de quem? A quem esse cidadão está servindo nesse momento?", questionou.
Na réplica, Campos Neto afirmou que o país está comemorando uma inflação mais baixa e que, em parte, é um trabalho feito pelo Banco Central.
"O país está comemorando que o PIB [Produto Interno Bruto] melhorou, então a gente está em um processo de desinflação onde o custo para o PIB tem sido menor, então a gente tem tido previsões melhores para o PIB. O país está comemorando uma confiança do consumidor melhor. Então a gente fica muito feliz de estar participando desse processo onde o país está comemorando algumas melhoras. Nos cabe explicar o que tem sido feito", concluiu.
+ Para Lula, não existe explicação para nível atual de taxa de juros