O Caminho da Indústria: o declínio do setor que já foi quase metade do PIB
Série de reportagens especiais traz um raio-x dos principais motores da economia
Simone Queiroz
O SBT Brasil começou a exibir, nesta 2ª feira (10.abr), a série de reportagens especiais "O Caminho da Indústria", que vai fazer um raio-x de um dos principais motores da economia.
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No primeiro episódio, você vai acompanhar como o setor industrial brasileiro, que já representou quase metade das riquezas do país, entrou em declínio. Ano após ano, governo após governo.
Não é uma simples visita ao museu de uma das mais antigas montadoras de carros do país, é como entrar na máquina do tempo, um tempo em que o Brasil crescia a partir das fábricas. A indústria era a locomotiva do país até os anos 1970. Ter um carro era o sonho de consumo de milhares de brasileiros.
Eram os anos de chumbo na política, mas tínhamos uma indústria vigorosa, relembra o historiador do departamento de economia da Universidade Federal de São Paulo, Julio Cesar Zorzenon Costa: "nós tínhamos uma indústria pujante, o Brasil dos chamados terceiro mundo na época, chamados mundo periférico, subdesenvolvido, era industrializado. Até o começo dos anos 1980, o planejamento estava muito vinculado ao desenvolvimento industrial".
É a partir daí que o Brasil começa a assistir ao declínio do setor na economia. Em 36 anos, entre 1985 e 2021, a indústria reduziu à metade sua participação no PIB, a soma das riquezas produzidas no país, de 45,8% para 23,6%. O setor, que já empregou 27,1% dos brasileiros, tem hoje 14,9% da massa trabalhadora. Isso impacta toda a economia e o nível de renda do povo. Por essa e outras, uma ideia parece unânime: a necessidade de reindustrializar o Brasil.
Nesse período, a agroindústria e os serviços foram os setores que passaram a ter mais peso no cálculo do PIB.
"Quando a indústria vai bem, todo o país vai bem, porque ela puxa outros setores. Pra um país poder gerar riqueza ele precisa ter industria. A sociedade brasileira teve uma condição melhor de vida foi no período em que a indústria se desenvolvia", afirma Nelson Marconi, professor de economista da FGV.
E já foi assim em mais de um período da história. A revolução industrial, que começou na Inglaterra, chegou aos poucos, numa época em que o Brasil era um império e tinha o trabalho era escravo.
Uma exceção era Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, que teve a biografia escrita pelo sociólogo, cientista político, jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras, Jorge Caldeira. O barão criou, em 1846, uma siderúrgica, que também era um estaleiro, em Niterói, no Rio de Janeiro.
"Ele não usava trabalho escravo, já era trabalho livre, assalariado, ele era totalmente contra o trabalho escravo, num tempo em que se achava normal no Brasil, e tinha 700 operários. Era uma fábrica razoavelmente grande, ele produzia ferro, daí do ferro ele produziu cano, e aí encanou a água do Rio de Janeiro, produzia trilho, fez a primeira ferrovia do Brasil. Ele fez uma usina de gás que usava ferro, então canalização de ferro para distribuição de gás, e por aí ia", afirma Jorge Caldeira.
Outro nome não pode faltar: Francisco Matarazzo. A partir do início do século 20, o grupo empresarial fundado por ele, chegou a contar com mais de 350 empresas como estaleiros, metalúrgicas, indústrias de alimentos, bebidas, tecidos.
O Brasil vivia a Era Vargas nos dois governos de Getúlio, o Brasil incentivou à iniciativa privada e a criou as grandes empresas nacionais como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce, a Petrobras.
Nos anos JK (1956 - 1961), o Brasil viveu nova efervescência industrial. Juscelino Kubitschek atrai as multinacionais, aqueceu o consumo. Nascia a classe média brasileira, deslumbrada com automóveis e eletrodomésticos modernos, como uma enceradeira.
O que inverte essa trajetória, a partir dos anos 1980 e 1990, é a hiperinflação. A disparada diária dos preços, corroendo o poder de compra dos brasileiros, era tão cruel que os planos de estabilização da moeda passaram a ser, claro, uma obsessão dos governos desde o final da ditadura até a redemocratização.
Ee deu certo com, o Plano Real, mas teve um preço: "quando o governo decidiu praticar uma política de juros altos, moeda muito valorizada, isso realmente prejudicou muito a indústria. Se for querer tomar dinheiro do mercado financeiro pra financiar investimento, produção, vai ter um custo muito alto", diz Nelson Marconi.
O emprego na indústria, que se reduziu ao longo dos anos, é o tema da próxima reportagem.
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