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Que fim levou o Risco Brasil?

Indicador que assustou o Brasil hoje deixou de ter relevância: número atual é de 252 pontos

Que fim levou o Risco Brasil?
imagem de gráfico
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Para um indicador econômico ou financeiro figurar entre as principais notícias dos jornais e da TV quase diariamente, é sinal de que é grave a crise. Ali pelos anos 1990 - com uma sequência inédita de sobressaltos  internacionais -, o Risco Brasil apareceu no vocabulário do dia a dia da população como um termômetro a aferir a febre da economia brasileira. De lá pra cá... quanta diferença. 

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O Risco Brasil é medido pelo banco americano J.P. Morgan (EMBI+: Emerging Markets Bond Index Plus ) e firmou-se como um fiel indicativo da saúde das principais economias, a serviço sobretudo dos mercados financeiros e do investidor internacional. Mais marcadamente, apurava as chamadas economias emergentes, termo que passou a agrupar os países subdesenvolvidos e com grande potencial de crescimento e de influência sobre os mercados internacionais.

Conceitualmente, o Embi+ aponta a diferença, em pontos, que um país teria de pagar, em taxas de juros, para atrair o capital internacional em busca de oportunidades - ou seja, qual o preço a ser pago pela economia de um dado país para que o investidor global ajudasse a "rolar a dívida" desse país. A comparação é feita sempre - e ainda hoje - com os títulos do Tesouro dos Estados Unidos: para escolher entre investir nos papéis americanos - considerados os de melhor combinação entre segurança e rentabilidade - ou investir no Brasil, por exemplo, é o país latino americano quem tem que oferecer mais vantagem ao dono do dinheiro, na forma de retorno financeiro patrocinado pelos juros maiores. Justamente por não dispor da situação econômica estável o suficiente para atrair capital com tanta segurança quanto os EUA.

Dupla face 
A questão é que, imediatamente, o mundo passou a ler os números contidos no Risco Brasil (e risco-país, de maneira geral, aplicado a todas as demais economias em vias de desenvolvimento) não mais apenas como o índice da vantagem a auferir com investimento nos mercados, mas também como grau de risco de uma quebra ou de calote eventual. Assim, muito rapidamente, quanto mais o risco de um país subia, mais o cenário da finança global botava as barbas de molho: maior o índice, maior a chance de, não apenas não haver retorno, mas de haver insolvência e perda do capital investido. E a referência para decidir ou não "comprar" um determinado país, passou a ser a cesta de mais de 100 nações avaliadas pelo indicador internacional de riscos desses países.

"O Risco Brasil ganhou relevância porque o país, por volta dos anos 1990, 2000, passou a ter grande necessidade de buscar financiamento externo, na tentativa de fazer a engrenagem da economia rodar", aponta Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BCB) e consultor da Schwartsman & Associados.

Linha do Tempo

O risco-país testemunhou alguns dos mais importantes momentos da economia brasileira, inclusive as crises. Já em 1994, tempos de hiperinflação no Brasil, o risco batia nos 1.100 pontos. A partir da efetivação do Plano Real, elaborado para enfrentar o custo de vida galopante, o indicador passou a apontar visivelmente para baixo: 811 pontos em agosto; 923 pontos em 30 de dezembro daquele ano. Veja abaixo as flutuações do Embi+ em função das mais destacadas crises na economia brasileira e mundial.

1995: Crise da dívida do México (Efeito Tequila)

  • em 22/03/95 => 1.521 pontos
  • em 29/12/95 =>    933 pontos

1997/98 : Crise dos Tigres Asiáticos

  • em janeiro/97 =>467 pontos 
  • em nov/97     => 772 pontos

1998: Crise Russa

  • em 08/98 => 1.524 pontos

1999: Crise do câmbio no Brasil ( maxidesvalorização do Real )

  • em jan/99 => 1.723 pontos
  • em dez/99 =>  636 pontos

2000/01: Crise Turquia

  • em 05/2001  => 827 pontos
  • em 16/07/01 => 1.004 pontos

2002: ataque especulativo ao Real

  • em  fev/2002 => 1.709 pontos
  • em  ago/ 2221 => 2.221 pontos

Primeiro governo Lula

  • em 20/06/08 => 197 pontos

2008/2009: Crise Americana (Subprime)

       -   em 27/10/2008 => 613 pontos

       -   em 27/10/2009 => 239 pontos

2015/2016: desaceleração no Brasil

  • em 07/08/15 => 343 pontos
  • em 01/07/16  =>347 pontos

2020: Pandemia de Covid-19

  • em 08/10/20 => 315 pontos
  • em 08/10/21 => 326 pontos

Hoje em dia
De maneira geral, os números acima atestam com bastante exatidão o comportamento da economia brasileira ante às crises externas. E mostram que, passado o tempo, o risco-Brasil volta a um patamar de aceitável regularidade. Os recordes atingidos pelo indicador foram nas situações em que o Brasil esteve no foco das apreensões globais: na maxi-desvalorização do Real, em 1999 (1.723 pontos)  e no ataque especulativo contra a moeda brasileira, às vésperas da primeira eleição de Lula (1.709 pontos). 

Nas medições atuais, o quadro se mostra bem diferente - e não é de hoje. Segundo tabela elaborada pelo Ipeadata, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 03/01/23 a marca era de 257 pontos. No último dado divulgado, resultado parecido: 252 pontos em 13/01/23.

"Nenhuma das assinaladas  variáveis de crise teve o condão de movimentar mais do que 200 pontos de base sobre uma media na faixa de 220 a 250 pontos, número mais ou menos em que se encontra hoje o embi+"  - Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES e CEO da RC Consultores.

A sinalização vai no sentido de que, nos últimos 15 anos, aproximadamente, o Brasil revelou capacidade de resistir firmemente às desconfianças dos investidores. Mas há também uma outra interpretação, não necessariamente excludente do bom desempenho do Brasil atestado no Embi+: a de que, aos poucos, ele vai  sendo substituído na escolha das finanças globais como principal atestado da situação econômica do Brasil. "De fato o risco Brasil, medido pelo JPMorgan, é uma medida que deixou de ser charmosa, deixou de ser sexy. Em grande medida pela abundância relativa de reservas do brasil [ que se mantém ao redor de US$ 330 bilhões ] e pela menor dependência do país em buscar financiamento lá fora", sentencia Rabello de Castro. 

Novas contas 

"O mercado interno se desenvolveu, e também porque a gente acabou mudando o regime cambial. Então só empresas que têm uma receita grande em dólares, entre outros, é que se sentem confortáveis pra ir a mercado internacional", observa Alexandre Schwartsman.

Vale entender como, hoje o brasileiro compra mais papéis do Tesouro Nacional, via investimentos cotidianos como CDBs e Tesouro Direto. E é ele quem mais faz a rolagem da dívida brasileira acontecer. "A verdade é que o peso de credores externos na dívida pública hoje é baixo em relação a outros emergentes, além da situação de balanço de pagamentos estar tranquila", calcula Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 

Não quer dizer que as "coisas do Brasil" estejam serenadas. O desequilíbrio fiscal é dos fatores a ligar o alerta dos observadores com frequência. As próprias palavras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente Lula, passam pelo crivo dos mercados todo dia, sem exceção. E "novos" indicadores ganham o espaço que o Risco-Brasil já chegou a ocupar, até em momentos dramáticos, assustando os mercados.  "Outro indicador usado é o Credit Default Swap, CDS. O preço de garantia com respeito a calote. Também vem se comportando estável em torno de 250 pontos depois de ter subido bem em setembro", expõe Canuto. Opinião compartilhada por Schwartsman:  

"A aferição da situação da economia brasileira aparece na curva de juros, ou seja, quão mais caro eu preciso pagar para emitir dívida de prazo mais longo relativamente ao mais curto. E ele acaba aparecendo também um tanto no mercado de moeda, de câmbio. então muito do que a gente tá vendo essa força do dólar no Brasil hoje, onde ele não cai de forma sustentável pra baixo dos 5 reais, é uma referência [ do pé-atrás do investidor quanto ao Brasil]. Todo mundo que olha, faz conta, acha que um dólar justo para o Brasil hoje teria que ser abaixo de R$ 5,00 se a gente tirasse os elementos de risco principalmente do ponto de vista do comportamento das contas públicas" - Alexandre Schwartsman 

Política Econômica

Daí que cada posicionamento, na política, tenha reflexo também nas aferições de resiliência do Brasil aos olhos do mundo. E, nesse terreno, os últimos anos não têm colaborado. As curvas de juros, citadas dia sim e outro também nos informativos sobre área financeira, a cotação do dólar que parece nunca mais desistir dos R$ 5,00, acabam por funcionar também como farol do que o investidor mundo afora pensa das chances do Brasil se reerguer. Ou não.

"O desequilíbrio fiscal que vivemos, e não é de hoje, vai estar na pauta ainda durante muito tempo", diz o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson da Nóbrega. "Tudo o que Lula disser, tudo o que Haddad disser, serão termômetros do que se pode, deve ou não atribuir ao Brasil", finaliza Maílson.

Leia também: 

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