Salles: "Não é papel do Brasil vestir máscara de culpado por mudança climática"
Ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro prestou depoimento à CPI das ONGs
Guilherme Resck
Em depoimento, como convidado, à CPI das ONGs, do Senado Federal, nesta 3ª feira (15.ago), o deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) criticou organizações não governamentais e afirmou que o Brasil não deve "vestir máscara de culpado por mudança climática". O parlamentar foi titular do Ministério do Meio Ambiente de 1º de janeiro de 2019 a 23 de junho de 2021, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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"Hoje, com todos esses movimentos internacionais falando, o secretário-geral da ONU com essas manifestações catastróficas e totalmente hipócritas dizendo 'o mundo tem que fazer tal coisa', mas a conta nas costas do Brasil. De 100% das emissões globais hoje [de gases de efeito estufa], é 30% China, 18% Estados Unidos, estou falando números gerais, 17% União Europeia, 7% Índia, 5% Rússia. O Brasil é quanto? O Brasil é 2,9%", afirmou Salles em determinado momento, durante o depoimento aos senadores.
"Quer dizer, nós somos dez vezes menos do que a China. Nós somos seis vezes menos que os EUA e cinco vezes menos do que a União Europeia. Portanto, não é papel do Brasil vestir máscara de culpado por mudança climática".
E esse tema é importante para a CPI das ONGs, segundo ele, "porque é incutindo um sentimento de culpa nos brasileiros, culpa essa que nós não temos, mas é incentivando, incutindo este falso sentimento de culpa que eles nos enfiam goela abaixo todos esses projetos, todas essas ONGs, todas essas restrições, como se nós fôssemos o culpado por algo que eles criaram e eles estão ampliando".
De acordo com Salles, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), há um "afluxo muito grande" de entidades do terceiro setor para a Amazônia e a maioria das que foram para lá "decorrem de esforços internacionais, de ao aliarce com representantes aqui no Brasil, quer seja de partidos políticos, de membros da academia, de representantes de órgãos ambientais estaduais e até federais e municipais, enfim, há uma gama de autoridades que se uniram com o recurso internacional para desenvolver atividades na Amazônia".
Ainda conforme o ex-ministro, foi migrando para a região amazônia "uma série de atividades ligadas a pesquisa, e pesquisa muito entre aspas, pesquisa de recursos naturais e biodiversidade que nós temos no nosso território na Amazônia. Essas pesquisas, algumas delas, com o fito realmente de pesquisar, pela ótica acadêmica, mas outras conhecidas da Amazônia muito mais ligadas à obtenção de informações comerciais estratégicas ligadas aos recursos naturais brasileiros".
Desde o governo FHC também, pontuou, "há um grande envolvimento das autoridades governamentais federais, sobretudo na área de meio ambiente, mas não só, ligados a essas entidades estrangeiras que operam na Amazônia, e também ligados, um pouco depois, às brasileiras que se formaram, mas muitas delas com ramificações lá fora". Segundo Salles, "as pessoas envolvidas nesse tema são praticamente as mesmas desde a época do FHC".
É possível fazer, em suas palavras, "uma lista de 20, 30, 40 figuras públicas, umas mais conhecidas, outras nem tanto, que se revezam em posições que são ora em cargos públicos, seja ministro, secretário, secretário de Estado, secretários municipais, ora em entidades do terceiro setor, ONGs portanto, e ora na academia. E mais recentemente no setor privado. Antigamente havia uma menor intersecção com o setor privado. Talvez e dez anos para cá essa intersecção tenha aumentado".
Ele prosseguiu: "Por que esse dado é importante? Porque aqueles que num dado momento estavam na academia produzindo textos sob encomenda ou com fito predeterminado vão para o governo de determinado estado ou Governo Federal. Aqueles que estavam no governo migram para as ONGs, e os que estavam nas ONGs vêm para a academia ou voltam para a academia, e essa ciranda dos mesmos nomes se retroalimenta a todo momento". Isso é de "fundamental relevância", afirmou Salles, "porque um legitima o outro, um dá dinheiro para o outro, um cava oportunidade para o outro atuar e assim a coisa vai levando".
O ex-ministro ressaltou que vem acontecendo uma sistemática na qual "quem está no governo arranja um jeito de mandar dinheiro para pesquisa do seu colega que no momento está na academia. O seu colega que está na academia, por sua vez, produz sob encomenda uma série de estudos e pareceres e teorias". Entretanto, complementou, "produzem textos acadêmicos, estudos, pareceres para sustentar a visão política daqueles que estão no governo e a visão econômica daqueles que se dizendo defensores de causas muito relevantes e não agem com tamanho desprendimento na hora de receber recursos públicos".
"Quer seja recursos públicos diretamente ou numa outra modalidade, que é talvez a mais dissimulada, a mais astuciosa modalidade de fazer de conta que não é financiado com dinheiro do governo ou pelo menos com dinheiro sob a responsabilidade do governo".
Essa "mais dissimulada", de acordo com ele, são os recursos internacionais, de várias fontes, como organismos internacionais cujos líderes "lá fora, inclusive o secretário-geral da ONU, fazem grandes estardalhaços quando dizem que vão mandar dinheiro para salvar a Amazônia, biodiversidade, isso, aquilo, aquilo outro". Salles afirmou que esses líderes não contam "que depois que eles fazem divulgação desse suposto recurso, para essa finalidades, o recurso vem carimbado para projetos que eles querem que seja feito, através de ONGs que eles dizem que tem que executar. Cujos amigos deles são os administraodres dessas ONGS, ou pesquisadores, ou consultores, e que recebem salários bastante significativos".
Nas palavras do ex-ministro, "há ONGs que fazem bons trabalhos, e há bons profissionais dentro dessas ONGs. O problema é que não são os que mais aparecem, não são os que mais relevância tem nesse meio. E com isso acabam tendo a sua imagem manchada pelos que sabem manejar muito bem os recursos, as pressões políticas e todo esse emaranhado de relações indevidas no Brasil e no exterior".
Acusações
Salles acusou ONGs de cooptarem funcionários, por exemplo, do ICMBio e do Ibama e colocarem eles "para ficar produzindo narrativa contra qualquer tipo de investimento mais racional na Amazônia". Conforme o deputado, "as ONGs, sobretudo as ligadas aos indígenas, o ISA, a Apib, não sei mais quem, o que que eles fazem? Usam o indígena, o indígena é um pretexto para eles ganharem dinheiro e poder político. Não é muito diferente ao MST com relação aos coitados dos sem-terras. Usam as pessoas, a miséria alheia, a ignorância dessas pessoas para manipular".
Em outro momento, após o relator da CPI das ONGs, senador Marcio Bittar (União-AC), perguntar a Salles se as ONGs financiadas por organismos internacionais põem em cheque a soberania nacional, o deputado pontuou: "Não há dúvida que a autação das ONGs na Amazônia subtrai em larga medida a autonomia brasileira sobre a gestão do seu território. Porque ela se apoia em sanções internacionais ao Brasil, e não é um pequeno número de entidades aqui, dessas ONGs estrangeiras que aqui atuam, que atuam com estreita relação com os seus governos dos seus respectios países e empresas".
Posteriormente, Salles disse considerar "fundamental" não deixar criar mais unidade de conservação e terra indígena na Amazônia, pois, segundo ele, não há sentido. Para ele, as já criadas precisam ser "adaptadas à realidade".
"Echendo o saco"
Em seu depoimento também, Ricardo Salles disse que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ficava incomodando: "Os EUA acabou de aprovar quatro meses atrás o aumento expressivo de exploração de petróleo no Alasca. Justo o Joe Biden, que é o cara que ficava enchendo o saco do mundo inteiro com esse programa dele de termas ambientais e o governo dele aprovou o aumento substancial de eploração de petróleo no Alasca, não perguntou nada para ninguém".