Apesar de oposição a Lula, PP promete independência
Presidente do partido diz em entrevista ao SBT News que "terá boa relação com governo eleito"
Roseann Kennedy
Embora integre a base do governo Jair Bolsonaro (PL), o Partido Progressistas (PP) tem aberto diálogo com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e promete postura independente no Congresso Nacional no próximo Governo.
"Como partido somos oposição. Mas, nós não seremos, pelo menos por parte da bancada, contra aquilo que for bom. O PP enquanto partido político não integrará o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso não significa que a sua bancada e alguns partidos não possam ter uma relação boa com o governo", afirmou o presidente do PP, deputado federal Cláudio Cajado, em entrevista exclusiva ao SBT News.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Cajado disse que o partido ainda terá reunião para decidir, por exemplo, seus interlocutores na próxima Legislatura, mas é certo que vai deixar os parlamentares livres para votarem as matérias como entenderem ser melhor, sem risco de punição na sigla.
"As bancadas de deputadas e deputados federais não vão ter condição de fechamento de questão de matérias a serem discutidas. Ainda temos um líder a ser escolhido, para falar dentro do partido e também com o governo. Todas essas questões serão encaminhadas no momento adequado", observou.
Apoio do PT a Arthur Lira
O presidente do PP admitiu que a decisão do Partido dos Trabalhadores de apoiar a candidatura à reeleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara facilita a aproximação das duas siglas, que atualmente estão em posições políticas opostas. Mas destacou que o avanço do diálogo depende também dos espaços que o PT vai querer ocupar no Congresso e das propostas que apresentará.
"A decisão do PT de apoiar Lira é uma demonstração que nós vimos com muito bons olhos. Obviamente que, a partir do momento que o PT assume esse compromisso de apoiá-lo na reeleição, nós temos também um entendimento político positivo. O que acontecerá vai depender de como vão ser feitas as tratativas tanto sobre os espaços do PT dentro da própria Câmara - nas comissões, na Mesa Diretora - como nas propostas como essa da PEC e outras que virão, a terem encaminhamento da nossa parte dentro de um diálogo que seja muito positivo para o Brasil", ponderou.
Na avaliação de Cajado, a reeleição de Arthur Lira está bem encaminhada, pela sua habilidade política, diante dos compromissos assumidos e cumpridos e, também, "por ser um quadro qualificado do Partido Progressistas".
Na entrevista ao SBT News, Cláudio Cajado também falou da tramitação da PEC da Transição; de alternativas para garantir recursos para o Bolsa Família a partir de janeiro; e sobre a possibilidade de o Congresso estender os trabalhos para além de 17 de dezembro, quando começa o recesso parlamentar.
Consenso sobre o Bolsa Família
"Há consenso na Câmara e no Senado para colaborar para a aprovação da PEC da Transição. O que traz discussão é a questão do tempo - um ano, quatro anos ou por tempo indeterminado. Há consenso de que 4 anos é muito tempo. O segundo ponto relevante é o valor. Mas isso será equacionado no Congresso, porque é necessário".
Pandemia
"Ainda estamos em momento de pandemia, o que significa que os efeitos da pandemia vão persistir, consequentemente com os problemas sociais. Não podemos deixar as pessoas mais vulneráveis sem o aporte financeiro dos R$600. Portanto, não vislumbro que não haja solução. Agora, caso o consenso (para votação da PEC da Transição) não aconteça e não dê tempo de votar, há outras possibilidades".
Alternativas à PEC
"Ano que vem o presidente eleito Lula poderá editar uma Medida Provisória, pelo prazo de um ano, prevendo valores tanto para o Bolsa Família, quanto para o aumento do salário mínimo etc. E dentro do Orçamento Geral da União de 2023 poderá se prever essa excepcionalidade. O ideal é que o Orçamento para o ano que vem possa aguardar sua votação para depois da PEC aprovada. Mas se isso não acontecer, vamos reunir o colégio de líderes, os partidos, e definir algumas possibilidades. Por exemplo, condicionar algum valor para efetivar no futuro o pagamento de uma MP. Isso é normal que aconteça no orçamento. Não foi discutida ainda, mas é uma possibilidade. O cronograma da comissão de orçamento também está apertado.
Acredito que entre o dia 15 e 20 de dezembro tenhamos esse cenário equacionado e possamos votar na Comissão de Orçamento com a PEC aprovada ou não".
Recesso parlamentar
"Já houve vários momentos que tivemos autoconvocação para estender os trabalhos até perto do Natal. Há outra possibilidade, se houver consenso, também poderemos fazer uma autoconvocação em janeiro, não vejo problema. O importante é que tenhamos a responsabilidade de que o Brasil tem que ter uma visão importante do ponto de vista econômico e social e que essa temporaneidade de final de ano, ou de mudança de governo, não impeça que possamos atuar".
O que o PP não aceita na PEC
"O Partido Progressistas tem uma visão de que vai defender um ano e valor não pode ser exorbitante. Porque há de se considerar que a proposta apresentada prevê R$170 bilhões fora do Bolsa Família. Só que já está contido dentro do teto R$105 bilhões. Então, estamos falando de R$280 bilhões. É um valor que na visão do PP é muito alto. Isso vai ter de ser resolvido dentro da bancada e com os outros partidos".