Alunos de escola técnica de Carapicuíba (SP) são vítimas de racismo
Cinco estudantes relataram comentários criminosos sofridos nas redes sociais. Boletim de ocorrência foi registrado depois de "muita insistência"
Primeiro Impacto
Alunos de uma escola técnica de Carapicuíba, na Grande São Paulo, foram vítimas de racismo em ofensas nas redes sociais. Até o momento, ninguém foi preso.
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As ofensas foram publicadas em comentários violentos contra os estudantes negros e começaram há duas semanas, chocando a comunidade escolar da cidade. Cinco alunos se apresentaram relatando os crimes cometidos por meio das mensagens racistas.
Um dos adolescentes, de 17 anos, teve a foto divulgada seguida de ofensas: "seu macaco, se recolha ao lixo de onde você veio, seu preto safado". Uma jovem foi chamada de "preta suja, safada, dentuça, cabelo di bombril [sic]".
As vítimas também sofreram ameaças de morte. "Você é uma macaca. Deveriam te dar um tiro por ser preta. Você e sua raça mancham o mundo. Deveria ser pisada igual lixo. Você não merece nem ter nascido só por ser negra, quem dirá estar na ETEC. Se retire de lá, lá é para brancos, você não faz parte de nós", escreveu o criminoso, que criou covardemente um perfil falso.
Uma jovem que aceitou ser entrevistada pela reportagem do SBT afirmou que vai à escola assustada, com receio do que pode acontecer no trajeto. O autor das mensagens racistas diz que "está mais próxima do que os envolvidos pensam", relatou a mãe de uma das vítimas.
A ETEC de Carapicuíba divulgou uma "nota de repúdio" condenando as ofensas e que, ao saber do crime, deu entrada em um boletim de ocorrência e orientou os alunos a denunciar a página do racista. A escola, porém, reforçou que o crime foi cometido na internet e não na unidade, tratando-se de um caso de polícia.
Para os pais das vítimas, as medidas são insuficientes. "Como a Etec tem profissionais que trabalham na área de TI [tecnologia da informação], eu creio que se eles pegassem esse caso e se dedicassem, com certeza eles descobririam", afirmou a mãe.
Ainda segundo a mãe de uma das vítimas, policiais não queriam registrar boletim de ocorrência do caso. Apenas depois de muita insistência por parte dos pais é que a delegacia registrou o crime. Apenas o registro. Já a estudante afirmou que, por parte da diretoria da escola, "apenas me chamaram, pediram desculpas e ficou por isso mesmo".
O caso é investigado pela Polícia Civil de Carapicuíba, segundo a Secretaria de Segurança Pública e que, por ser um crime de ação condicionada, a vítima deveria ir à delegacia para representar contra o autor. O autor, porém, ainda não foi identificado e a estudante desabafou na internet, ganhando apoio, com mais de 10 mil compartilhamentos e curtidas.
Sonhando em ser advogada e lutar por um mundo mais igual, a estudante quer "Falar sobre o cabelo dos pretos, falar sobre a afrodescendência, nossa ancestralidade no geral. Porque eu acho que tudo isso hoje em dia perdeu um pouco de valor, as pessoas deixam de ver isso, deixaram de lado, mas eu gosto muito de enfatizar a história".
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