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Marajó: exploração sexual na ilha volta a ser assunto nas redes

Publicações sobre supostos casos de abuso infantil no arquipélago começaram com vídeo de cantora evangélica

Marajó: exploração sexual na ilha volta a ser assunto nas redes
Ilha do Marajó | Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Publicações com denúncias sobre exploração sexual de crianças na Ilha do Marajó, no Pará, vêm tomando as redes sociais desde quarta-feira (21). O movimento se iniciou após um vídeo da cantora evangélica Aymeê Rocha em um reality gospel viralizar no Youtube.

Ao terminar de cantar a música "Evangelho dos Fariseus", Aymeê relata que crianças da região chegam a se prostituir por R$ 5 para os turistas. O vídeo da cantora, assim como vários outros com denúncias de abuso sexual no Marajó, foi compartilhado por diversos influenciadores digitais, como Juliette e Rafa Kalimann, e o tema virou um dos mais comentados nas redes desde então.

Entre as publicações, muitos são os comentários afirmando que "Damares tinha razão". Damares Alves foi ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo de Jair Bolsonaro (PL) e atual senadora pelo Republicanos. Em outubro de 2022, ainda no Ministério, ela disse, em um culto evangélico em Goiânia, que havia recebido denúncias de exploração sexual contra crianças no arquipélago.

Segundo Damares, elas eram submetidas a alimentação pastosa para facilitar os abusos sexuais. A ministra afirmou ter imagens de crianças que tinham seus dentes arrancados para "não morderem na hora do sexo oral". Apesar das declarações e de dizer ter recebido vídeos que comprovavam os relatos, ela não fez uma denúncia às autoridades.

Damares durante lançamento do projeto Abrace o Marajó, revogado pelo governo Lula após denúncias | Divulgação/PR
Damares durante lançamento do projeto Abrace o Marajó, revogado pelo governo Lula após denúncias | Divulgação/PR

Na época, a Polícia Federal informou que nenhuma investigação da corporação coincidia com os fatos narrados pela senadora. O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública contra Damares, pedindo uma indenização no valor de R$ 5 milhões por danos sociais e morais coletivos, a serem revertidos em favor de projetos sociais na região do arquipélago.

Na ação, 20 procuradores da República afirmam que Damares fez "utilização sensacionalista da vulnerabilidade social daquela população, associada à divulgação de fatos falsos, como palanque político e eleitoral em benefício do então presidente da República e da própria ministra". A Justiça ainda não julgou o caso.

Nesta quinta (22), após a repercussão do vídeo de Aymeê, Damares voltou a denunciar os supostos casos de abuso infantil no Marajó. "O Marajó pede socorro e não é de hoje", escreveu Damares. Um vídeo em que crianças aparecem em um caminhão, insinuando que elas eram supostas vítimas de exploração sexual, também circulou pela internet. As imagens, porém, foram gravadas no Uzbequistão.

Vídeo com supostas crianças do Marajó na verdade foi gravado no Uzbequistão | Reprodução
Vídeo com supostas crianças do Marajó na verdade foi gravado no Uzbequistão | Reprodução

O Observatório do Marajó, que monitora as políticas públicas na ilha, publicou uma nota nas redes sociais acusando a senadora de atentar contra a honra da população marajoara e de entregar os programas sociais da região nas mãos de "grupos privados de São Paulo" com o Abrace o Marajó, criado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O projeto foi encerrado pelo governo Lula (PT). Segundo relatório da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados, o programa foi denunciado por suspeita de explorar riquezas naturais e atender a interesses estrangeiros, sem benefício ou participação social da população local.

A ONG Cojovem (Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável), que atua na região, também se pronunciou, afirmando que um instituto evangélico de São Paulo estaria arrecadando dinheiro "sem qualquer compromisso com a transparência e muita desinformação".

O instituto citado pela ONG é o Akachi, que tem como um de seus sócios diretores Teofilo Hayashi, pastor da Zion Church. Ao SBT News, o Instituto Akachi confirma realizar ações de assistência a vítimas de abusos no Marajó e diz que não recebe dinheiro público para mantê-las.

O Instituto Akachi tem parceria desde 2019 com a Fraternidade Católica Missionária Ágape da Cruz e promove atendimento odontológico, médico e psicológico para crianças vítimas de abuso. “Já enviamos mais de 200 voluntários para as ações. Em 2024, distribuímos 100 kits de prevenção ao abuso sexual infantil e impactamos 265 crianças com treinamentos de prevenção também”, diz Lucas Hayashi, um dos líderes do Instituto Akachi.

Em 2022, a pastora Sarah Hayashi, uma das fundadoras da igreja, foi homenageada pelo governo Bolsonaro com a Medalha da Ordem do Mérito Princesa Isabel. A honraria foi entregue por Damares.

Damares entrega homenagem a Junia e Teófilo Hayashi, fundadores da Zion Church | Reprodução
Damares entrega homenagem a Junia e Teófilo Hayashi, fundadores da Zion Church | Reprodução

Em 2022, uma publicação da então ministra falou da atuação da Zion Church no Marajó. "Esta já é a terceira vez que eles vão ao Marajó e nos ajudarão a cuidar do povo marajoara", disse ela.

Publicação de Damares no Facebook mostra relação de ministra com a Zion Church
Publicação de Damares no Facebook mostra relação de ministra com a Zion Church

Lucas Hayashi, outro pastor da Zion Church – que esteve no Marajó em diversas oportunidades e também atua no Instituto Akachi – publicou em seu Instagram uma foto com a cantora Aymeê Rocha, fazendo campanha para sua música chegar à final do reality gospel de que ela participa.

Lucas Hayashi e Aymmê Rocha | Reprodução/Instagram
Lucas Hayashi e Aymmê Rocha | Reprodução/Instagram

Segundo o governo federal, o programa Abrace o Marajó não atingiu o objetivo de melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios que compõem o arquipélago. "A cobertura vacinal nos municípios do Marajó foi de 59,20% em 2019 para 42,20% em 2022. Já a taxa de mortalidade infantil, que era de 7,54 em 2018, foi de 7,89 em 2022. E a taxa de gravidez na adolescência se manteve praticamente estável, sendo de 28,6% em 2019, 27,5% em 2020 e 28,0% em 2021", afirma o Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, atualmente comandado por Silvio Almeida.

Em maio de 2023, a pasta criou o programa Cidadania Marajó, com o objetivo de "enfrentar situações de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e promover direitos humanos e a garantia de acesso a políticas públicas".

*CORREÇÃO: A primeira versão desta reportagem identificava erroneamente a homenageada como a pastora Junia Hayashi. A homenageada é Sarah Hayashi, fundadora da Zion Church. Pedimos desculpas aos leitores pelo erro. A reportagem foi atualizada após contato do Instituto Akachi.

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