Levantamento mostra que pelo menos oito remédios contra o câncer não obedecem ao prazo de entrega
Pacientes também reclamam que o valor repassado pelo Ministério da Saúde aos hospitais não cobre o custo
Rafael Batalha
Pacientes de câncer reclamam que novos medicamentos incorporados ao SUS demoram muito para chegar, e que o valor repassado pelo Ministério da Saúde aos hospitais não cobre o custo.
Um levantamento feito por uma instituição de apoio a pessoas com câncer lista pelo menos oito remédios que não obedecem ao prazo máximo estipulado, que é de 180 dias, e reembolsos prometidos.
A lista alerta que o erlotinibe, usado no tratamento de câncer de pulmão, pode demorar nove anos para chegar aos pacientes. O estudo também mostra que o valor repassado do SUS para os hospitais que fornecem os medicamentos é muito inferior ao custo mensal.
O trastuzumabe, para câncer de mama, custa mais de R$ 18 mil por mês, e o repasse é de apenas R$ 34. O tempo médio de entrega é de 304 dias.
A fisioterapeuta Luciana Valejo precisou recorrer à Justiça para ter acesso a esse medicamento: "são noites e noites sem dormir, pensando se vai dar certo, se o tempo está hábil, se você está perdendo tempo, é uma briga, é um cabo de guerra com a doença, é desgastante".
Os centros de saúde que atendem pelo SUS precisam usar recursos próprios, e dependem de doações e emendas parlamentares para dar um retorno positivo aos pacientes que necessitam desses remédios de alto custo.
Há sete meses, a adolescente Sabrina Victória, de 16 anos, recebeu o diagnóstico QUE estava com neuroblastoma em estágio 4, um tipo de câncer que ataca o sistema nervoso.
"Disseram que eu tinha seis meses, por aí, porque esse é um tratamento muito complicado. No começo foi um baque, eu fiquei muito nervosa, com medo", conta a adolescente.
Ela e a mãe moravam no Rio de Janeiro. Por lá, Sabrina não conseguiu ter acesso ao medicamento indicado a pronta-entrega. Desesperada, a mãe começou a buscar ajuda.
"Eu fiz o que acho que qualquer mãe faria. Eu, por conta própria, comecei a enviar e-mail pra vários hospitais pedindo pelo amor de Deus pra aceitar o caso da minha filha", conta Elaine Alves.
Numa verdadeira corrida contra o tempo, elas tomaram uma decisão: se mudaram para São Paulo em busca de esperança.
"Deixei tudo pra trás, deixei amigos, deixei meu irmão. A gente está com muita esperança de que a gente vai conseguir, de verdade", afirma.