Desmatamento diminui 32,4% em 2024; Cerrado reúne mais de 50% das perdas
Relatório do MapBiomas mostra que cinco dos seis biomas brasileiros tiveram queda na destruição da vegetação nativa

Warley Júnior
Cinco dos seis biomas brasileiros registraram redução no desmatamento em 2024. De acordo com a entidade, foram desmatados no país 1.242.079 hectares de vegetação nativa no ano passado, o que representa uma queda de 32,4% em comparação a 2023. Os dados são do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), divulgado nesta quinta-feira (15) pelo MapBiomas.
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A exceção foi a Mata Atlântica, que se manteve praticamente estável em relação a 2023. Também houve redução de 26,9% no número de alertas de desmatamento, que somaram 60.983 em todo o território nacional.
Confira principais destaques do relatório:
Redução por bioma
Na comparação com 2023, os biomas com maior queda no desmatamento foram:
- Pantanal: -58,6%;
- Pampa: -42,1%;
- Cerrado: -41,2%;
- Amazônia: -16,8%;
- Caatinga: -13,4%;
- Mata Atlântica: +2% (único bioma com aumento).
Apesar da queda, a Amazônia e o Cerrado concentraram 89% de toda a área desmatada no país em 2024. O Cerrado, sozinho, respondeu por 52,4% do total. As formações florestais vieram em seguida, com 43,7%.
Segundo Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, o impacto de eventos climáticos extremos impediu uma queda maior no desmatamento da Mata Atlântica. "Se não tivesse os desmatamentos que foram computados por conta dos eventos extremos, o desmatamento teria sido 20% menor", afirmou.
Dados gerais de 2024
Em números absolutos, foram desmatados 1.242.079 hectares de vegetação nativa, com 60.983 alertas registrados. A área média desmatada foi de 3.403 hectares por dia, ou 141,8 por hora. O pico foi no dia 21 de junho, com 3.542 hectares desmatados em 24 horas.
No Cerrado, o ritmo foi ainda mais intenso: 1.786 hectares por dia.
A redução do desmatamento pode ser atribuída a três fatores, segundo os pesquisadores:
1. Criação de planos de enfrentamento ao desmatamento em todos os biomas;
2. Maior atuação dos estados nas ações de embargo e autuações;
3. Uso dos dados para concessão de crédito rural.
Cerrado lidera perda de vegetação
Apesar da redução, o Cerrado foi o bioma mais desmatado em 2024, com perda de mais de 652 mil hectares, o equivalente a 52,4% de todo o desmatamento no país. A Amazônia aparece em seguida, com 37% das perdas.
De acordo com Marcos Rosa, coordenador técnico do Mapbiomas, "essa mudança ocorreu pela primeira vez em 2023". "A gente sempre teve historicamente o desmatamento concentrado em regiões da Amazônia", afima.
Destaques regionais
A região Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia) teve queda de 13% no desmatamento, com 5.753 alertas e 89.826 hectares perdidos.
Já a região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) respondeu por 42% da perda de vegetação nativa no país, sendo responsável por 75% do desmatamento no Cerrado.
Estados com maior desmatamento
Cinco estados concentraram 65% de toda a área desmatada no Brasil em 2024. Os três principais foram:
- Maranhão: 17,6%;
- Pará: 12,6%;
- Tocantins: 12,3%.
Em contrapartida, Goiás, Paraná e Espírito Santo reduziram em mais de 60% a área desmatada. Os maiores aumentos foram observados no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Acre.
No RS, os desmatamentos ocorreram principalmente na Mata Atlântica, em função de eventos extremos climáticos registrados entre abril e maio, conforme explicou Natália Crusco, da equipe Mata Atlântica do Mapbiomas.
Municípios em alerta
Mais da metade dos municípios brasileiros (54%) teve ao menos um alerta validado de desmatamento em 2024. Os maiores aumentos proporcionais ocorreram em Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal – todos no Piauí.
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Terras indígenas e Unidades de Conservação
As terras indígenas (TI) perderam 15.938 hectares, o que representa uma queda de 24% e 1,3% do total desmatado no país. A TI Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou, com 6.208 hectares desmatados – um aumento de 125%.
Já nas Unidades de Conservação, o desmatamento somou 57.930 hectares – 42,5% a menos que em 2023. A APA Triunfo do Xingu (PA) teve a maior perda: 6.413 hectares.
Desmatamento autorizado
Em 2024, 43% da área desmatada teve algum tipo de autorização. No Cerrado, esse percentual foi de 66%; na Amazônia, de apenas 14%.
Maranhão foi o que menos apresentou dados sobre transparência e fiscalização, segundo Marcondes Coelho, pesquisador do Instituto Centro de Vida (ICV). "O estado do Maranhão segue com essa dificuldade de dar transparência a essas informações ambientais para o controle do desmatamento", afirmou.
Vetores e histórico
Desde o início da série histórica do relatório, em 2019, o Brasil já perdeu 9.880.551 hectares de vegetação nativa, sendo 67% na Amazônia Legal.
Mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos seis anos no Brasil foi provocada pela pressão da agropecuária, segundo o MapBiomas.