Médicos cobram incorporação imediata pelo SUS da trombectomia
Quem passa pelo procedimento tem 52% de chance de sair de um AVC sem sequelas ou com consequências menos graves

José Luiz Filho
Casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) provocaram uma morte a cada seis minutos no Brasil, somente no primeiro semestre deste ano. Médicos cobram a incorporação imediata pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de um procedimento capaz de reverter esse cenário: a trombectomia.
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A manicure Ercília de Lima estava em um ônibus, em 20 de março deste ano, quando surgiram os sintomas. "Já perdi os movimentos no lado esquerdo e aí, voltando, a gente resolveu ir para o pronto-socorro, ali foi quando fui medicada e eles pediram a remoção minha para o Hospital das Clínicas", relembra.
No hospital, a equipe percebeu se tratar de um Acidente Vascular Cerebral, doença que, só no primeiro semestre de 2023, matou 50 mil brasileiros.
"O médico olhou e falou: 'nossa, ela é nova, 40 anos, como é nova, vamos tentar salvar a vida dela que ela está entrando em óbito'", fala Ercília.
E os médicos agiram rapidamente. Pela gravidade do quadro, em vez do tratamento convencional com remédios, eles decidiram submeter Ercília a uma trombectomia mecânica. O procedimento, realizado em poucos hospitais da rede pública, não só salvou a vida da manicure, mas também garantiu que ela ficasse sem sequela alguma, algo não tão comum em casos de AVC.
Na trombectomia, um cateter é inserido na artéria -- pela perna -- e faz o caminho até o cérebro, em que retira o coágulo que está bloqueando a passagem de sangue. "Os AVCs podem ser classificados em isquêmicos e hemorrágicos", explica um médico. Ainda segundo ele, nos isquêmicos, cerca de 30% são muito graves, "que vão matar um indivíduo ou deixar uma incapacidade neurológica muito severa". E é justamente para esses indivíduos, ressalta, "que a trombectomia faz muita diferença".
Quem passa pelo procedimento tem 52% de chance de sair de um AVC sem sequelas ou com consequências menos graves. Mais que o dobro do percentual de pacientes tratados com medicamentos (23%).
Segundo o neurologista Pedro Magalhães, um dos coordenadores do estudo, a recuperação mais efetiva também reduz o custo médio anual, por paciente, provocado pela doença, que é de R$ 134 mil. "Setenta por cento desse custo é do indivíduo que sofre a doença, pela perda da capacidade laboral, neurológica, da expectativa de vida", explica Pedro.
A trombectomia foi aprovada pela comissão técnica do Ministério da Saúde, há quase dois anos, mas ainda não foi incorporada aos hospitais públicos. "Tmos uma promessa da ministra [Nísia Trindade] que isso seria liberado no SUS até o final do ano, então temos essa expectativa", diz o médico.
Segundo o Ministério da Saúde, o protocolo para o uso da trombectomia mecânica pelo SUS já está em fase de conclusão. Porém, a pasta não informou quando entrará em vigor.