Personagens de junho: Benedito Meira, ex-comandante-geral da PM de SP
Coronel da reserva relembra espanto com as manifestações e defende atuação dos policiais

Emanuelle Menezes
Fabio Diamante
As manifestações de junho de 2013, iniciadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento na tarifa do transporte público, trouxeram à tona uma nova forma de protestar, o que surpreendeu até mesmo a Polícia Militar de São Paulo.
A surpresa atingiu não só os policiais que estavam nas ruas naqueles primeiros dias de junho. Ela chegou também aos altos postos de comando da corporação. É o que conta Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM de São Paulo em 2013, em uma entrevista para o SBT News.
As estratégias do MPL, que iam desde não comunicar aos policiais o itinerário dos atos até a divisão das manifestações em grupos (os protestos tinham um ponto de partida, mas vários pontos de chegada) causaram confusão e expuseram a corporação, que também precisava se dividir e acabava acuada por estar em número menor que o habitual.
"Aquilo nos surpreendeu", declara Meira.
E esse não foi o único espanto para os policiais. Um grupo de pessoas, vestidas de preto, mascaradas e que usavam da ação direta, depredando agências bancárias e concessionárias de veículos, chamou a atenção. Eram os adeptos da tática black bloc.
"Eles têm uma tática, uma ação de anarquismo, sem partido político, que não tem hierarquia entre eles. E eles depredaram algumas propriedades privadas, em especial bancos, porque o banco é a representação do capitalismo. E eles são totalmente contra o capitalismo", afirma o ex-comandante.
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Violência
Relembrando a "Batalha da Consolação", confronto que ficou marcado pela repressão da Polícia, pelo número de feridos e pelo uso excessivo de balas de borracha -- que atingiu, inclusive, o fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego do olho esquerdo --, o ex-comandante afirma que a quantidade de disparos com elastômeros (as balas de borracha) foi necessária para não acontecer uma fatalidade ainda maior.
"Se eles não efetuassem aquela quantidade de disparos com elastômeros, eu tenho quase certeza que o resultado seria fatal. Os policiais iriam morrer", defende ele.
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A violência policial vista no dia 13 de junho foi fundamental para a mudança do olhar da população em relação às manifestações. Nos dias seguintes, o número de pessoas nas ruas aumentou consideravelmente e, a partir daí, as pautas relacionadas ao transporte passaram a dar espaço para insatisfações diversas, como os gastos com a Copa do Mundo e a corrupção.
Para Meira, os policiais seguiram o procedimento. O que, nos termos da PM, é conhecido como o "uso progressivo da força".
"A Polícia faz o uso, ela utiliza como norma de procedimento, do protocolo, o uso progressivo da força... Nós vamos tentar dialogar, para resolver na base da conversa. Não conseguiu? Aí eu uso progressivamente a força", destaca.
E o que seria essa progressão? É, segundo ele, a técnica não-letal: uso de escudo, do cassetete, de balas de borracha, munição química e gás lacrimogêneo.
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O que a PM aprendeu após 2013?
Meira acredita que 2013 foi um marco para a Polícia Militar de São Paulo. Para ele, a corporação ficou muito mais preparada após os acontecimentos de junho daquele ano. "A Polícia Militar estava preparada. E hoje está muito mais preparada, hoje os policiais têm uma vestimenta até diferente. Você pega os policiais do choque: hoje todos eles têm aqueles equipamentos que protegem os joelhos, protege o peito, protege a cabeça, protege tudo", diz o ex-comandante.
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Ele destaca que, após 2013, o governo do estado investiu pesado na compra de blindados exclusivos para a Tropa de Choque. São quatro veículos, que transportam, cada um, 30 policiais.
"Eu tenho absoluta convicção de que hoje a Polícia, pelo menos em termos de equipamentos, meios, ela está muito mais bem equipada do que naquela época", conclui Meira.
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