Refugiados no Brasil: 66% têm dificuldade em conseguir emprego
Principal obstáculo dos imigrantes é a pouca fluência na língua portuguesa
Luciano Teixeira
O Brasil tem hoje cerca de 65 mil refugiados, das mais diversas nacionalidades, mas que compartilham um mesmo sonho: encontrar um trabalho e recomeçara vida por aqui. Apesar disso, uma pesquisa mostra que 66% deles encontram dificuldade para encontrar um emprego. O principal obstáculo é o idioma.
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É o caso do venezuelano Carlos Romero. Ele chegou ao Brasil em 2017, fugindo da crise no país natal. Formado em turismo, ele trabalhou em restaurante e em um parque de diversão. Agora, conseguiu uma vaga em uma agência de telemarketing, onde usa sua língua nativa, o espanhol, para atender países da América Latina.
"Desde o primeiro momento que cheguei, foi um acolhimento impressionante. Não só eu, mas com todos os refugiados que fazem parte da equipe", lembra o venezuelano.
Dos 4.500 funcionários da empresa, 700 são refugiados. Todos contratados em regime CLT, algo incomum para quem vem de outro país. Tão raro quanto poder trabalhar falando o idioma nativo.
E o número de refugiados contratados deve aumentar. O Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing (Sintelmark) aderiu ao Fórum Empresas com Refugiados da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e do Pacto Global da ONU no Brasil.
Segundo Luis Carlos Crem, presidente do Sintelmark, objetivo da iniciativa é a contratação pelas empresas associadas, de refugiados de vários países que dominem os idiomas espanhol, inglês e francês para atendimento de clientes internacionais, localizados na Europa, EUA e outros países, cujas empresas de contact-center atendem a partir do Brasil.
Aprender a falar português e conseguir uma vaga no mercado de trabalho são as principais dificuldades para duas em cada três pessoas em situação de refúgio no Brasil, segundo levantamento da ONG 'Instituto Estou Refugiado'.
"Você tem que olhar ao redor, ver onde você chegou, e falar aquela língua, entender aquele novo costume. Isso é difícil para línguas distantes, como no caso da Síria, do Afeganistão, que o aprendizado pode levar mais de dois anos", explica a presidente da ONG, Luciana Capobianco.
O 'Instituto Estou Refugiado' oferece aulas de português e curso de capacitação para inclusão no mercado de trabalho.
Em 2022, o Brasil recebeu 50.355 pedidos de refúgio, um aumento de 73% em relação a 2021. A maioria foi de venezuelanos, 67%. Depois, vieram os cubanos (10,9%) e angolanos (6,8%).
O congolês Shambuyi fugiu da guerra civil de seu país. No começo, teve que se virar na construção civil. Agora, luta para viver apenas do trabalho de artista plástico. "Cada um vive do seu trabalho. É bom viver do que você tem, do que você faz com facilidade e felicidade", ele observa.