Exclusão digital dificultou a educação na pandemia, diz especialista
Inclusão das escolas no edital do 5G pode ajudar a diminuir a desigualdade social no ensino
Grupos com menor acesso às tecnologias foram aqueles que mais enfrentaram dificuldades para acompanhar as aulas e atividades remotas durante a pandemia, de acordo com dados do Painel TIC Covid-19, Painel TIC Covid-19, monitorado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), ligado à Unesco.
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Enquanto nas classes AB apenas 11% dos estudantes usuários de Internet dessa faixa etária não acompanhavam as aulas e atividades remotas, esta proporção entre os estudantes das classes DE foi de 29%.
Para 39% dos estudantes das classes D e E, a falta ou baixa qualidade da conexão à internet era uma das barreiras para acompanhar as aulas. Outra barreira era a falta de equipamentos, citada por 18% dos estudantes usuários de Internet das classes DE, 19% dos estudantes da classe C e 12% dos estudantes das classes AB.
A coordenadora da pesquisa TIC Educação, Daniela Costa, avaliou que a pandemia tornou mais evidente que a exclusão digital está estreitamente vinculada também à exclusão educacional, assistencial, econômica, entre outros aspectos.
"A falta ou a baixa qualidade de acesso à educação pode ter um impacto ainda maior para as populações mais vulneráveis, que não contam com outras opções de mediação da aprendizagem para além da escola, estão mais expostas às demandas por conciliar o estudo com o trabalho e por auxiliar os familiares nas tarefas domésticas e no orçamento familiar", disse a especialista.
Segundo o Painel TIC Covid-19, 56% dos estudantes usuários de Internet que não acompanharam atividades ou aulas remotas afirmaram que a necessidade buscar emprego era um dos motivos para a não participação nas práticas educacionais, 48% mencionaram a necessidade de cuidar da casa, dos irmãos, dos filhos ou de outros parentes, 45% não sentiam motivação para estudar e 34% não possuíam acesso à internet ou a qualidade do acesso não permitia o uso nas atividades educacionais.
"Ou seja, as desigualdades em relação ao acesso às tecnologias fazem parte de um contexto mais amplo de exclusão dos estudantes da participação na sociedade", afirmou Daniela.
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Daniela diz ainda que a relação entre educação e tecnologias digitais pode ser uma via de apoio às atividades curriculares, impulsionar o desenvolvimento de habilidades digitais e incentivar a formação de um pensamento crítico sobre o uso das tecnologias e os seus impactos na sociedade, mas faz uma ressalva: "Não se trata apenas da oferta de pontos de acesso à Internet e dispositivos, de forma isolada de outras políticas. Para a realização do objetivo de melhorar a qualidade do acesso à educação por meio da inclusão digital é necessário também atentar para o apoio e a valorização dos professores, para a formação dos gestores escolares de forma que desenvolvam projetos mais condizentes com as demandas da comunidade da qual a escola faz parte".
Inclusão das escolas no edital do 5G
A Anatel aprovou, no último dia 24, o edital para o leilão do 5G no Brasil. Entre as muitas exigências para as empresas que desejam entrar na concorrência pelas frequências da nova tecnologia, está a obrigatoriedade de cobertura de internet de todas as escolas de ensino básico até 2024.
A inclusão atendeu a uma recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) após pedido da Frente Parlamentar Mista de Educação (FPME). O deputado e presidente da FPME, Israel Batista (PV-DF), afirmou que a inserção das escolas no edital é uma vitória da educação.
"No âmbito do Congresso Nacional, tivemos audiências públicas. Os membros da Frente da Educação também foram a campo em uma série de reuniões com agentes envolvidos no edital. Fomos recebidos pelo ministro do TCU Raimundo Carneiro, que sugeriu a inclusão das escolas no edital como contrapartida. Também conversamos com o conselheiro da Anatel Emmanoel Campelo, que acatou os nossos pedidos e levou essa obrigatoriedade para a discussão na agência reguladora. Foi uma grande vitória para a educação", disse o parlamentar.
Falta de conectividade
"A inclusão da obrigatoriedade do 5G deve beneficiar 14 milhões de escolas públicas. O Brasil ainda tem 28% dos domicílios sem internet, segundo o TIC Domicílios de 2019, então muitos estudantes precisam da conexão da escola. Fizemos questão de lutar pela inclusão no edital para garantir que seria feito", afirmou Israel.
Em 2019, ano anterior ao início da pandemia no Brasil, uma pesquisa do IBGE mostrou que 4,3 milhões de alunos não tinham conexão de internet, sendo que 4,1 milhões estudavam na rede pública. Com a chegada do novo coronavírus e implantação de medidas de isolamento social, como o estudo remoto, essa falta de estrutura ficou ainda mais evidente.
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De acordo com TIC Educação 2020 -- levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação -, 86% dos alunos tiveram dificuldade para estudar de casa por falta de computadores, celulares e internet. "Hoje, o acesso à internet é o acesso à educação", pontuou o deputado.
O estudo apontou ainda que 82% das instituições escolares de ensino fundamental e médio, de áreas rurais e urbanas, públicas (municipais, estaduais e federais) e particulares possuem acesso à internet. Entre os 18% de escolas que não possuem conexão, 74% dos gestores afirmam que o motivo para ausência é a falta de infraestrutura de acesso à rede na região onde a escola se localiza, 71% mencionam a falta de infraestrutura de acesso à rede na escola e, para 48%, o alto custo da conexão.