Além de impactos ambientais, queimadas podem afetar setor elétrico
Uma em cada três interrupções de energia no país ocorre em função de incêndios ambientais
SBT News
O aumento de focos de incêndio pode trazer impactos que vão além da perda da biodiversidade, como uma série de possíveis interferências no setor elétrico. No último ano, quando mais de 100 mil queimadas foram registradas no país, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 586 perturbações nas linhas de transmissão por conta dos incêndios também foram detectadas.
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As causas dos focos são atribuídas a diferentes fatores: desmatamento, fenômenos naturais e até o descontrole das chamas durante atividades agrícolas. "O Brasil está com o mercado aquecido no agronegócio, então o envolvimento cada vez mais desse agronegócio feito em áreas rurais também pode estar favorecendo o aumento dos focos de incêndios no Brasil", conta Reginaldo Pereira, professor do departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília.
Com mais registros de queimadas, é possível esperar que haja também mais interferências no setor elétrico. O professor da UnB explica que isso se dá pelos circuitos serem desligados quando há detecção de fumaça. Há também a possibilidade de dano nas linhas de transmissão, quando são atingidas diretamente pelos incêndios. Além disso, o maior impacto da seca pode provocar outros efeitos no que diz respeito à crise hídrica.
"É justamente a mudança de clima. As queimadas têm elevado muito a emissão de gases, principalmente CO2 para a atmosfera, e isso tem aumentado a seca e afetado recursos hídricos. Tem afetado demais a seca em algumas regiões do país, e exatamente essa interação das queimadas com excessiva atmosfera deve estar contribuindo com as mudanças que estamos vendo em várias regiões do país", detalha.
O setor elétrico
Dados da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do país, apontam que um terço das interrupções de eletricidade no Brasil ocorre por conta das queimadas ou incêndios irregulares. Isso pela interferência na distribuição elétrica de energia.
Gabriela Desiré, diretora-executiva de operações da ISA CTEEP, explica o porquê do desligamento imediato das linhas de transmissão quando há incêndios próximos às linhas da distribuidora. "A queimada vai trazer temperaturas elevadas para a linha e pode causar problemas. A linha desliga, desabastece as distribuidoras e ocasiona o desligamento de uma região inteira. A ionização do ar provoca altas temperaturas que promovem esse desligamento e o risco de danificar equipamentos."
Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2020, houve um aumento do total de perturbações em relação aos últimos três anos, com destaque para o acréscimo de eventos relacionados a queimadas. Com 586 perturbações nas linhas de transmissão, o número de 2020 foi o maior registrado nos últimos cinco anos. Em 2019, foram 418.
De acordo com levantamento da ISA CTEEP, foram registradas, de janeiro a dezembro de 2020, aproximadamente 133 ocorrências com queimadas próximas às linhas da empresa, um aumento de cerca de 400% em relação ao mesmo período de 2019. Dentre as cidades mais impactadas estão Araraquara, Ribeirão Preto, Bauru e Mirassol, no interior do estado de São Paulo.
Gabriela Desiré afirma que o aumento das queimadas e do impacto das mesmas na distribuição da energia elétrica é sentido no bolso do consumidor. "Quanto maior o número de áreas que são devastadas pelos incêndios, maior as despesas das empresas para atuar no combate ao fogo, na manutenção das linhas de transmissão. Tudo entra no custo da empresa para que não deixe de ser tão eficiente. E esse custo volta para o consumidor através das tarifas de energia", destaca.
A empresa, ao identificar um foco de queimada próximo a linha de transmissão, aciona o corpo de bombeiros da região e combate o fogo também com a utilização da tecnologia. Quando o incêndio atinge a linha de energia, além do sistema de monitoramento eletrônico alertar, se houver um balão -- uma das causas de queimadas -- preso ao sistema, a ISA CTEEP envia um drone incinerador, que reduz em 80% o tempo de retirada de objetos presos ao local (confira no vídeo abaixo). De acordo com a Força Aérea Brasileira, em 2020 foram avistados 601 balões, que são ilegais no país. Em 2021, já são 721 registros.