Girl Power: mulheres indígenas viram caciques em aldeias na Amazônia
Comunidades de etnia ticuna rompem tradição e assumem cargos de liderança durante a pandemia
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Duas comunidades indígenas da etnia ticuna, uma das maiores do Brasil, começaram a ser lideradas por mulheres neste ano. Na cultura indígena, o cargo de chefe da aldeia é tradicionalmente ocupado por homens.
As duas comunidades ficam localizadas na região do Alto Solimões, próximo à tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia.
Trindade Bernardino Fidelis, de 52 anos, virou cacica da comunidade de Umariaçu II em junho deste ano. Hoje, ela é líder de uma aldeia com cerca de 5.500 indígenas.
A alguns quilômetros dali, outra aldeia ticuna também passou a ser chefiada por uma mulher recentemente. Luciana Custódio Marques, de 40 anos, ocupa o posto de liderança máxima da comunidade de Campo Alegre, formada por cerca de 4.000 pessoas.
O processo de escolha do cacique de uma comunidade também sofreu mudanças ao longo do tempo. Em muitas culturas, o posto de chefe da aldeia é hereditário, passado de uma geração para outra. Agora, é feito por eleição.
É um processo semelhante àquele com o qual a maioria dos brasileiros está familiarizada. Há chapas com candidatos, cada qual com propostas diferentes. Os integrantes da aldeia então são convidados a votar em quem preferem. Quem tiver o maior número de votos assume o posto de cacique. Em grande parte onde a escolha da liderança é feita por eleição, o voto não é obrigatório.
Segundo Jorge Baruf, coordenador da Funai no Alto Solimões, das 460 comunidades existentes na região, em menos de 10 a liderança é exercida por uma mulher.
As duas cacicas viraram chefes em um período em que tiveram de enfrentar a pandemia do coronavírus, que já matou 886 indígenas no Brasil, segundo o levantamento mais recente realizado pelo movimento Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A covid-19 também contaminou mais de 41.000 indígenas de 161 povos diferentes.
Na comunidade de Umariaçu II, apenas duas pessoas morreram desde março. Trindade, que disse ter sido infectada, afirmou que se curou graças a remédios próprios de sua cultura.
"Quando a doença chegou aqui, a comunidade praticamente parou. E eu também peuei covid. Aí a comunidade parou de vez", contou. "E graças aos nossos remédios caseiros, que a gente tem aqui, eu me recuperei. Eu fiz um chá caseiro com folha de jambu e folha de chicória para me recuperar da doença".
Teindade disse ainda que outras pessoas da aldeia também se medicaram com esse chá.
Em Campo Alegre, a situação foi semelhante. No começo, Luciana relatou que toda a população ficou assustada e foi orientada por autoridades federais a ficarem na comunidade. Em sua aldeia, duas pessoas morreram por causa da covid-19.
"A gente lutou muito para a população não se deslocar. Não sair da aldeia. E com as orientações da Funai, a gente reforçou esse pedido. Mas muitas vezes é preciso sair por causa da alimentação", afirmou.
De acordo com a líder ticuna, os moradores de Campo Alegre também fizeram uso de remédios caseiros para se proteegerem. Mas, diferentemente do que foi usado em Umariaçu II, por lá, o medicamento era produzido com os produtos da abelha: o mel, usado para beber, e a fumaça da combustão dos favos.
A reportagem conversou com vários médicos que acompanharam as visitas a essas aldeias. Todos eles afirmaram que, durante os atendimentos, orientaram os indígenas a manter o uso dos remédios de sua cultura "por respeito". E complementavam o tratamento receitando o uso de medicamentos tradicionais.
As duas comunidades ficam localizadas na região do Alto Solimões, próximo à tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia.
Trindade Bernardino Fidelis, de 52 anos, virou cacica da comunidade de Umariaçu II em junho deste ano. Hoje, ela é líder de uma aldeia com cerca de 5.500 indígenas.
"Eu, como mulher, estou na comunidade pensando nas diferenças, na união de todos, e que eu tenha cada vez mais o apoio das mulheres. Não só delas, mas de todos: crianças, dos jovens, de todos mesmo. Que tenhamos esse apoio sempre", disse Trindade.
A alguns quilômetros dali, outra aldeia ticuna também passou a ser chefiada por uma mulher recentemente. Luciana Custódio Marques, de 40 anos, ocupa o posto de liderança máxima da comunidade de Campo Alegre, formada por cerca de 4.000 pessoas.
"Estou no primeiro ano sendo cacica da aldeia. Primeiro, fui vice-cacica. Agora estou aqui, completando quase um ano no posto, assumindo a responsabilidade, estando à frente da comunidade para ajudar as pessoas e para dar apoio a todos que moram aqui", afirmou.
O processo de escolha do cacique de uma comunidade também sofreu mudanças ao longo do tempo. Em muitas culturas, o posto de chefe da aldeia é hereditário, passado de uma geração para outra. Agora, é feito por eleição.
É um processo semelhante àquele com o qual a maioria dos brasileiros está familiarizada. Há chapas com candidatos, cada qual com propostas diferentes. Os integrantes da aldeia então são convidados a votar em quem preferem. Quem tiver o maior número de votos assume o posto de cacique. Em grande parte onde a escolha da liderança é feita por eleição, o voto não é obrigatório.
Segundo Jorge Baruf, coordenador da Funai no Alto Solimões, das 460 comunidades existentes na região, em menos de 10 a liderança é exercida por uma mulher.
Pandemia
As duas cacicas viraram chefes em um período em que tiveram de enfrentar a pandemia do coronavírus, que já matou 886 indígenas no Brasil, segundo o levantamento mais recente realizado pelo movimento Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A covid-19 também contaminou mais de 41.000 indígenas de 161 povos diferentes.
Na comunidade de Umariaçu II, apenas duas pessoas morreram desde março. Trindade, que disse ter sido infectada, afirmou que se curou graças a remédios próprios de sua cultura.
"Quando a doença chegou aqui, a comunidade praticamente parou. E eu também peuei covid. Aí a comunidade parou de vez", contou. "E graças aos nossos remédios caseiros, que a gente tem aqui, eu me recuperei. Eu fiz um chá caseiro com folha de jambu e folha de chicória para me recuperar da doença".
Teindade disse ainda que outras pessoas da aldeia também se medicaram com esse chá.
Em Campo Alegre, a situação foi semelhante. No começo, Luciana relatou que toda a população ficou assustada e foi orientada por autoridades federais a ficarem na comunidade. Em sua aldeia, duas pessoas morreram por causa da covid-19.
"A gente lutou muito para a população não se deslocar. Não sair da aldeia. E com as orientações da Funai, a gente reforçou esse pedido. Mas muitas vezes é preciso sair por causa da alimentação", afirmou.
De acordo com a líder ticuna, os moradores de Campo Alegre também fizeram uso de remédios caseiros para se proteegerem. Mas, diferentemente do que foi usado em Umariaçu II, por lá, o medicamento era produzido com os produtos da abelha: o mel, usado para beber, e a fumaça da combustão dos favos.
A reportagem conversou com vários médicos que acompanharam as visitas a essas aldeias. Todos eles afirmaram que, durante os atendimentos, orientaram os indígenas a manter o uso dos remédios de sua cultura "por respeito". E complementavam o tratamento receitando o uso de medicamentos tradicionais.
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