Malária é detectada em meio a surto de doença misteriosa que vem causando mortes no Congo
Onda de doenças no país africano já ultrapassou mil casos e causou 60 óbitos; entenda o que é malária e se há risco de chegar no Brasil
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Wagner Lauria Jr.
com informações da AP
Centenas de pessoas testaram positivo para malária na província de Equateur, no noroeste da República Democrática do Congo, em meio a uma onda de doenças que já ultrapassou mil casos e causou 60 mortes.
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As autoridades de saúde investigam a situação e não descartam outras possíveis causas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que, apesar da malária ser uma doença comum na região, ainda são necessárias investigações epidemiológicas e clínicas detalhadas, bem como testes laboratoriais adicionais.
A agência relatou que os primeiros surtos foram identificados em duas vilas separadas por mais de 160 quilômetros, no final de janeiro, e que até o momento quase 1.100 casos foram registrados.
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Investigando a origem do surto
Até agora, infecções foram detectadas em cinco vilas, segundo o Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África). Os especialistas avaliam se a contaminação pode estar relacionada à água ou alimentos consumidos, além de outras doenças como gripe e febre tifoide. No entanto, os exames têm apontado principalmente para casos de malária.
Primeiros casos e mortes rápidas
O primeiro surto foi identificado na vila de Boloko, onde três crianças morreram em menos de 48 horas após ingerirem um morcego. A OMS registrou 12 casos e oito mortes nessa comunidade, sendo que quase metade dos óbitos ocorreram poucas horas após o início dos sintomas.
Medo e dificuldades no atendimento
A população local tem demonstrado grande preocupação. Eddy Djoboke relatou que fugiu de Bomate com sua família para evitar a contaminação, mas um de seus filhos apresentou sintomas suspeitos logo após a viagem. "Fomos solicitados a fazer testes e estamos aguardando os resultados", disse à Associated Press.
Outra moradora, Marthe Biyombe, contou que seu filho foi infectado e enfrentou dificuldades para receber tratamento devido à escassez de medicamentos nos hospitais locais. "Ficamos duas semanas sem remédios. Tivemos que comprar por conta própria antes da chegada dos médicos da OMS com novos suprimentos", relatou à agência.
Acesso restrito e a distância entre as comunidades afetadas têm dificultado a assistência às vítimas, com várias mortes ocorrendo antes da chegada das equipes médicas. As autoridades seguem investigando as causas da doença e monitorando o surto para conter sua propagação.
O que é malária? Há casos no Brasil?
Segundo o Ministério da Saúde, a maior parte dos casos de malária no Brasil são causados pelo Plasmodium vivax. Ela é uma doença infecciosa aguda causada por protozoários transmitidos pela picada do mosquito Anopheles
De acordo com a Pasta, no primeiros seis meses de 2024 o país registrou 65.146 casos de malária, no entanto, segundo a pasta, o número de mortes por malária teve redução de 25% em relação a 2023.
"O perfil epidemiológico da malária no Brasil, assim como o risco de transmissão, são diferentes dos observados na África, onde a doença é quase exclusivamente causada pelo P. falciparum e atinge as crianças, na maioria das vezes, sendo responsável por alta taxa de gravidade e mortalidade", disse, em nota, o Ministério da Saúde.
No começo do ano passado, foi iniciada a primeira campanha de vacinação contra malária no mundo, através da vacina R21/Matrix-M. A adoção foi feita por Camarões e a ação será destinada aos bebês de seis meses de idade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 77% dos óbitos pela doença ocorrem em menores de 5 anos.
Ainda não há previsão de lançamento de uma vacina contra a P. vivax, segundo o ministério. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por aprovar a entrada de imunizantes no país, confirmou a informação da Saúde e disse que não recebeu nenhum pedido de registro da Mosquitrix.
Cloroquina pode ser usada no tratamento da malária
A cloroquina, medicamento alvo de polêmicas durante a pandemia, após o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados defenderem o seu uso contra a Covid-19 mesmo sem comprovação científica, pode ser utilizada no tratamento de alguns tipos de malária. Mas a sua recomendação requer orientação médica.