Afeganistão: acesso das mulheres à educação é dificultada pelo Talibã
Os fundamentalistas defendem a segregação das salas de aula
SBT Brasil
No Afeganistão, o Talibã tenta se mostrar mais moderado e se aproximar do ocidente para controlar a crise no país, mas na prática não é o que tem acontecido, principalmente em relação aos direitos das mulheres. Para elas, o acesso à educação, que já era difícil, ficou ainda pior com a chegada do grupo ao poder.
Uma menina afirma que o Talibã deixou um bilhete na escola onde a mãe é diretora, com ameaças de morte a professoras e estudantes. "Eles não querem porque sou uma garota. Não tenho os mesmos direitos de um garoto. Sou nada para eles", relata. Ela e a irmã tentam fugir do país., no momento em que os fundamentalistas tentam se apresentar um lado mais diplomático. Quem acompanha o grupo tem dúvidas de que todos entre as dezenas de milhares de integrantes aprovem essa aproximação com os ocidentais.
Para um professor paquistanês Syid Irfan, da Universidade de Pexauar, o Talibã pode ser vítima da própria radicalização. "Aqueles da base podem não concordar com o que aqueles que estão no topo estão fazendo. E estes soldados têm outras opções. O Estado Islâmico (EI), por exemplo, é uma delas", diz o professor. Um dos pontos mais sensíveis desta relação entre o topo e a base da pirâmide do Talibã é o papel das mulheres.
Em uma escola na periferia de Cabul, um estudante conta que está feliz com o fato de as meninas continuarem a poder estudar. Os fundamentalistas defendem a segregação das salas, como já acontece em muitos países de religião muçulmana. A dificuldade de unidades de ensino locais é que há muito mais garotos do que garotas estudando. As famílias no Afeganistão tendem a investir muito mais nos meninos do que nas meninas. Portanto, é difícil para eles, com menos meninas nas salas de aula, fazer essa segregação, de ter salas apenas par garotos e apenas para garotas.
Menos de 10% do total de alunos de uma escola são meninas, por exemplo. As turmas ainda podem ser mistas, diz o diretor, Fazal Hadi. Ainda de acordo com ele, mesmo antes do Talibã, já era algo cultural. No caso de uma unidade de ensino privada, por exemplo, a tendência é que as famílias deem preferência à educação dos meninos. E o diretor concorda com isso.
Não à toa, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), menos de 30% das afegãs são alfabetizadas. Entre os homens, o índice é quase o dobro. Quando pensam em futuros engenheiros, médicos e professores, o foco de boa parte da população e do Talibã é muito mais neles do que nelas.
Hermatullah, o coordenador de uma escola, diz que as leis islâmicas precisam ser respeitadas. No Afeganistão e em boa parte do mundo islâmico, conversas com elas ou dar prioridade para as mulheres é algo fora de questão.