A estrutura do GSI é necessária? Entenda discussão
SBT News fala sobre a oportunidade do governo de repensar órgão
SBT News
Com novos vídeos divulgados dos atos golpistas de 8 de janeiro que indicam que militares e o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estariam sendo coniventes com a depredação ocorrida no Planalto, Lula exonerou o então ministro do órgão, general Gonçalves Dias, e indicou interinamente o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, para comandar o Gabinete e promover uma faxina dos militares que ocupam cargos.
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Até o momento, Cappelli exonerou cerca de 87 militares que estavam nomeados no GSI desde o governo Bolsonaro.
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Com a crise, surge o questionamento sobre a estrutura e funcionamento do GSI. O SBT News convidou professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adriana Marques, para debater o assunto. Assista à íntegra da entrevista abaixo:
"Com a estrutura de hoje, não é necessário"
Perguntada pelo jornalista Leonardo Cavalcanti sobre a necessidade do GSI, Adriana afirmou que a crise com o Gabinete é uma oportunidade de repensar a estrutura do órgão. Na opinião da professora, o GSI, com a estrutura de hoje, não é necessária, visto que nenhum país de democracia plena conta com uma estrutura como o GSI.
"Poderia ser criada uma autoridade para discutir as questões nucleares e as questões cibernéticas. Essas tecnologias disruptivas merecem uma atenção especial e poderiam estar subordinadas a uma autoridade que cuidasse especificamente dessas tecnologias que são tecnologias de uso dual (produtos para fins civis e que podem ter aplicações militares), não são tecnologias militares, logo não tem é nenhuma necessidade delas estarem subordinadas a uma estrutura governamental chefiada por um oficial General", disse.
Em março, o governo tirou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o comando militar do GSI e o integrou à Casa Civil. Assim, havia a expectativa de aliados que, com a crise de 8 de janeiro, o órgão também tivesse a chefia desmilitarizada. No entanto, Lula confirmou que deve indicar o general da reserva, Marcos Antônio Amaro dos Santos, que trabalhou na segurança de Dilma Rousseff, para chefiar o Gabinete.
Militar ou civil?
Adriana, contudo, afirma que a discussão deveria ser a reestruturação do Gabinete e não se o comando vai ser exercido por um civil ou por um militar. Para a professora, o ministro interino do GSI, Ricardo Capelli, pode "ter toda boa vontade do mundo" e trocar todos os militares do órgão que isso não deve resolver o problema.
Ela afirma que desde o início da Nova República, instituída na década de 1930, a segurança presidencial era exercida pela Casa Militar. Esta existiu até o governo de Fernando Henrique Cardoso, que, com uma política de enxugar a máquina pública, cria o GSI para comandar a segurança presidencial e aloca a Secretaria de Assuntos Estratégicos, criada no Governo Collor, ao recém-criado órgão. Dilma, durante o mandato na presidência, reestituiu a Casa Militar, que foi extinta por Michel Temer.
Segundo Adriana, sem um órgão que cuida exclusivamente da segurança presidencial, como a Casa Militar, o governo vem distribuindo atribuições para outros ministérios e vem acumulado crises. Assim, "não tem resolvido o problema central, que é simplesmente acabar com a estrutura do GSI e substituir por uma estrutura mais adequada", afirmou.
"O governo do presidente Lula agora precisa de tranquilidade para governar. E ele só vai ter essa tranquilidade à medida em que ele não tiver que ficar lidando com com crises militares ou com crises envolvendo militares 'dia sim e o outro também'. Então o presidente Lula vai ter que enfrentar essas questões se nós quisermos manter a nossa democracia", afirmou.
Apresentada então a um levanametno que Lula retirou cerca de 90% dos militares nos ministérios, por Bolsonaro e Temer, mas os realocou no Ministério da Defesa e no GSI, a professora lembra que desde o segundo mandato da presidente Dilma, foram criados cargos militares no executivo, fora das Forças Armadas, sem ligação com questões relacionadas à defesa nacioanal.
De acordo com Adriana, isso tem como consequência mais oficiais generais no governo e mais oficiais generais sendo promovidos, situação que, segundo ela, tinha que ser considerada no governo de transição.
"Esse é o problema de não ter havido uma discussão mais estruturada sobre o setor de defesa na época do governo de transição Iisso tinha que ter sido discutido porque essa situação tem que ser revertida", afirmou.
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