Governo se reúne com policiais na tentativa de jogar aumento para 2023
Ministro se encontra com associações nesta 2ª feira (18.abr). Vai prometer reajuste no ano que vem
Uma reunião entre as associações de policiais federais, rodoviários e agentes penais com o ministro da Justiça, Anderson Torres, está marcada para esta 2ª feira (18.abr). A proposta do governo, segundo apurou o SBT News, é jogar o reajuste salarial para o próximo ano, com a garantia de prever os recursos no orçamento.
Na semana passada, o governo federal decidiu atribuir 5% de reajuste salarial a todos os servidores federais a partir de julho. A medida teria um impacto de cerca de R$ 6 bilhões no orçamento deste ano, valor acima do R$ 1,7 bilhão previsto para os supostos aumentos.
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Nos bastidores, as associações dos policiais estão reticentes com a proposta do governo, por acreditarem que é uma tentativa de "empurrar o problema com a barriga" e garantir o apoio ao presidente Jair Bolsonaro na campanha. Os policiais, que formam uma fatia importante do eleitorado de Bolsonaro, ficaram sem o reajuste prometido e podem ter adiado o plano de reestruturação de carreira.
"É claro que na reunião alguém vai culpar o Paulo Guedes (ministro da Economia) pela frustração do reajuste, mas aí fica fácil, Guedes não é candidato", disse ao SBT News um dos integrantes de uma das associações com assento nas negociações desta 2ª feira no Ministério da Justiça. "Não sei se alguém vai engolir, a pressão da base é grande."
A Lei Eleitoral proíbe a concessão de aumentos nos seis meses que antecedem as eleições. O Orçamento de 2022 tem previsto R$ 1,7 bilhão para o aumento dos salários, mas até agora não viabilizou a proposta de um novo plano de carreira. As entidades sustentam que os pareceres do governo indicam que o plano de reestruturação da carreira pode ser feito até julho.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcus Firme, afirma que as entidades irão cobrar do ministro da Justiça, nesta 2.ª, uma explicação sobre o reajuste linear de 5% para todo funcionalismo e sobre como serão contempladas as demandas da categoria. Aceitar um adiamento para depois das eleições está fora de cogitação.
"Esperamos não ouvir essa proposta. Porque não dá mais para esperar, até porque está mais do que definido, não tem o que discutir mais. É fazer, é vontade política", disse Firme. Os policiais formam uma fatia importante do eleitorado de Bolsonaro."O presidente tem tudo para cumprir o que foi prometido. Até porque é uma questão de honra. Para nós policiais, essa questão de honra é coisa muito séria. Fica ruim quando se promete, se tem um compromisso e não cumpre."
Pressão
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) antecipou para 3.ª (19.abr) a assembleia-geral extraordinária para discutir o aumento de 5% para todos os servidores federais.
O delegado Luciano Leiro, presidente da ADPF, que disse ter ficado indignado com o aumento linear, sem atendimento da demanda da categoria de uma reestruturação das polícias, espera um aceno do governo na reunião com o ministro. "Tudo indica que, mais uma vez, o presidente da República não parece ter a intenção de cumprir o compromisso de enviar ao Congresso Nacional uma Medida Provisória, nesse sentido."
A Fenapef tem assembleia marcada também na 3.ª (19.abr). "Devemos lembrar que o governo foi eleito com a promessa de que valorizaria os profissionais de segurança pública e, até então, os profissionais dessa área, tão utilizada pelo governo e, em especial, pelo próprio presidente em suas propagandas na apresentação dos recordes alcançados, foi incapaz de promover qualquer modificação estrutural ou a reestruturação da carreira", diz nota da Fenapef, divulgada na semana passada.
PRF
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (Fenaprf), Dovercino Neto, avalia que a categoria não pode mais esperar. "O que a gente espera é algo palpável. Não existe mais a possibilidade de se esperar. Esse crédito foi dado há muito tempo e a gente passou por coisas ruins nesse governo. Essa seria a chance do governo se redimir."
Para Neto, a categoria entende que falta ação efetiva. "Se não vão cumprir com a palavra, com a promessa, de durante esse governo conceder a reestruturação, mostra que ele não prioriza a segurança pública. E e a reação da categoria é imprevisível." Segundo ele, a expectativa é de uma proposta palpável do governo, "não de um prazo a mais".