O silêncio de Bolsonaro: presidente falou por apenas 4 minutos após derrota
Recluso no Alvorada, teve 18 agendas em duas semanas e média de 1 hora e 2 minutos de trabalho por dia
Dono de um governo marcado por vastas declarações, o presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou o silêncio após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições. Recluso no Palácio da Alvorada, tem evitado aparições e falou publicamente por apenas 4 minutos e 38 segundos. Neste sábado (12.nov), o chefe do Executivo completa 11 dias sem conversar com a imprensa ou com apoiadores.
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A única aparição presencial foi em 1º de novembro quando, em um discurso de 1 minuto e 58 segundos, disse que seguiria "cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição", defendeu as manifestações de caminhoneiros que, à época, fechavam estradas pelo país contestando o resultado das urnas, mas pediu que os atos fossem pacíficos e sem prejuízos ao restante da população. No mesmo dia, foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) e teria dito que "acabou", em referência à eleição.
No dia seguinte, fez um pedido explícito, pela internet, para que os caminhoneiros liberasse as vias, em um vídeo de 2 minutos e 40 segundos. Essa aliás, foi uma das duas únicas postagens de Bolsonaro no Twitter desde que perdeu a eleição. Usuário ativo de redes sociais, o presidente abdicou até mesmo de suas lives semanais -- que chegaram a ser diárias às vésperas do pleito. Pela primeira vez desde o início do mandato, ele passou duas semanas seguidas sem fazer uma transmissão na 5ª feira.
Bolsonaro também tem evitado o Planalto. Desde a derrota para Lula, esteve no palácio apenas uma vez, em 3 de novembro, quando o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, estiveram na sede do Executivo federal para tratar da transição com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP). Na data, o capitão reformado teve um rápido encontro com o ex-governador de São Paulo.
Os encontros do presidente com ministros e auxiliares têm se dado no próprio Alvorada. Mas têm sido poucos e breves. Pela agenda oficial, em duas semanas, Bolsonaro teve apenas 18 compromissos, que totalizaram 14 horas e 30 minutos -- média de 1 hora e 2 minutos por dia.
O presidente não compareceu nem mesmo ao anúncio de seu futuro político. Coube a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que não falava havia 10 anos -- após o envolvimento no escândalo do Mensalão -- convocar a imprensa para dizer que Bolsonaro seria presidente de honra da sigla e que teria "todo o apoio para fazer o papel de líder de oposição do futuro governo".
Esse, aliás, parece ser o objetivo de Bolsonaro após deixar o Planalto e ficar sem um cargo público pela primeira vez em 34 anos -- eleito vereador em 1989, entrou para a Câmara dos Deputados em 1991, de onde só saiu para assumir a Presidência em 2019. No único sinal que deu até o momento sobre seus próximos passos, o capitão reformado apontou que "a direita surgiu de verdade no nosso país" e se disse honrado em ser "o líder de milhões de brasileiros".