Pequenos empresários usam cartão de crédito para financiar negócios
Levantamento do Sebrae mostra que a média do rotativo do cartão de crédito desse público supera 400%

Mônica Catta Prêta
Sem crédito junto aos bancos, 39% dos pequenos negócios do país usam o cartão de crédito para financiar gastos da empresa. Os dados são da 10ª edição da pesquisa "Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil", realizada pelo Sebrae, que sinaliza a dificuldade de acesso ao crédito junto ao sistema financeiro, levando os empreendedores a optarem pelo cartão de crédito como principal modalidade de financiamento -- atualmente, a média do rotativo do cartão de crédito desse grupo supera 400%. De acordo com a entidade, a burocracia, a exigência de garantias e as altas taxas de juros funcionam como barreira, obrigando esses empreendedores a buscarem financiamento fora dos bancos e optando pelo cartão de crédito ou a negociação de prazo com os fornecedores.
O levantamento aponta ainda que, além do cartão, os empreendedores também utilizam o parcelamento direto com os fornecedores (20%), cheque especial (7%), empréstimos junto a parentes e amigos (7%), financiamentos em bancos particulares (7%) e públicos (4%). A pesquisa "O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil 2023" coletou 6.237 entrevistas por telefone, de 1 a 30 de junho. Foram ouvidos microempreendedores individuais (MEI) e donos de micro e pequenas empresas dos setores de Comércio, Serviços e Indústria. A série histórica do levantamento, iniciado em 2013, mostra uma queda significativa na modalidade de pagamento de fornecedores a prazo, que já foi a principal fonte de financiamento (67% dos empresários em 2015).
O presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima, alerta para os riscos do cartão de crédito, porém, no momento, não vê outra opção: "Se você tira o cartão hoje, você interrompe uma cultura que não vai se recompor do dia pra noite numa outra alternativa porque o Brasil ainda convive, infelizmente, com taxas de juros inexplicáveis e esdrúxulas, que submete a nossa economia e, principalmente, os pequenos negócios no nosso país."
Os empresários Débora e Gustavo Montuan sabe bem o que é isso. O casal, que antes trabalhava com venda de roupas e acessórios femininos se reinventou e, no auge da pandemia, abriu um bar na zona norte de São Paulo. Já na fase na reforma do local, usaram o cartão de crédito para custear as despesas. Hoje, o cartão também é a forma de pagamento das embalagens usadas no delivery. "Como tem uma demanda grande, eu tenho que fazer a recompra quando está terminando. Eu fico ali sempre com o cartão de crédito", explica Débora, que garante comprar só o que eles podem pagar para não entrar no rotativo.

Ela lembra ainda que durante todos os anos como empreendedora, tentou crédito junto aos bancos: "Junto ao banco é muito difícil, muito burocrático, eles pedem garantia de imóvel, automóvel, e nós não temos nada quitado para dar de garantia. Se conseguia, o valor era insuficiente e o juro elevado", lamenta. A única exceção foi um crédito que conseguiu junto ao Governo para reformar o estabelecimento: "Mas ainda assim não foi suficiente, uma parte foi no cartão de crédito".
Com despesas em torno de R$ 13 mil por mês com estoque, manutenção e salário de funcionários, o casal não se descuida e paga as faturas sempre antes do vencimento, para não cair no chamado crédito rotativo. Gustavo explica que "o acesso é muito mais fácil e tem o parcelamento que ajuda muito; é um risco, mas é o que está dando certo, por enquanto."