Rabobank vê menor pressão sobre os preços agora e riscos para fim do ano
Instituição associada ao agronegócio avalia que BC deve cortar os juros em 0,25 pp e permanecer cauteloso
Estudo do RaboBank, que se define como parceiro internacional do agronegócio, descreve os impactos da inflação sobre a economia brasileira. A edição atualizada do Brasil Weekly, divulgada nesta 3ª (18.jul), é uma análise da conjuntura macroeconômica do país sob seus principais indicadores.
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O trabalho da instituição se baseia nos dados recentes da macroeconomia brasileira. No recorte atual, o ponto de partida é a inflação, conforme os principais pontos abaixo:
- A inflação do IPCA registrou o primeiro número negativo do ano: -0,08% em junho sobre maio. A previsão média do mercado era de queda de 0,10% e a do Rabobank -0,13%. Os preços de Alimentos e Bebidas, com - 0,66%, e Transportes, - 0,41%, puxaram o indicador. Já a inflação de serviços aumentou e provou ser persistente.
- O ritmo atual foi ajudado pela sazonalidade e pela queda nos preços das commodities.
- A inflação do IPC em 5,1% a.a. (de 5,4% antes) para o final de 23, mas aumentando para 3,9% a.a. (de 3,7%) no final de 24.
- O Copom traz a taxa de política para 12% no final de 23 (de 12,5% antes) e 9,5% no final de 24 (de 10% antes).
- Externamente, a inflação do IPC nos EUA ficou em 3% a.a em junho, abaixo das expectativas, e afastando as pressões de aumento do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para além de julho. O Rabobank espera um aumento em julho, mas um segundo aumento ainda não está descartado.
- No mercado interno, a inflação do IPCA de junho ficou em 3,2% a.a. e, apesar das pressões da inflação de serviços, esse relatório deixa o mercado se perguntando se o corte de flexibilização no Brasil está próximo.
Em entrevista ao SBTNews, o economista-chefe do RaboBank para América do Sul, Maurício Une, interpretou os dados na visão da instituição.
SBTNews: Qual o cenário da macroeconomia aplicado ao agronegócio?
Rabobank: Saímos de 2022 com pressão sobre commoditiess agrícolas, muito problema de escoamento de produção ao redor do globo. Gargalos logísticos que foram sendo resolvidos ao longo do tempo. Em 2022, ainda tinha lockdown na China e problemas nos portos: acúmulo de carga não escoada, fretes ficavam muito caros e era repassado para os preços.
SBTNews: Isso mudou?
Rabobank: Com a China fora do lockdown, o escoamento melhora e bens comercializavéis têm ficado mais baratos. Isso traz a inflação pra baixo. Na semana passada saiu o IPC [preços ao consumidor] americano que acumula 3% em 12 meses. Isso tem muito a ver, então, com a descompressão de preços de bens comercializáveis.
SBTNews: E vai durar?
Rabobank: A gente acha que essa calmaria nos preços de bens agrícolas pode ser interrompida ao longo do proximo semestre, a partir do momento que a gente tá vendo cada vez mais preocupações com o fenomeno El Niño. No final do ano, sazonalmente a gente tem preços de alimentos mais altos e, se a gente tiver um efeito El Niño forte, teremos impactos não só na inflação [aumento] de alimentos mas também de energia elétrica. Pode ser que os reservatórios não estejam tão cheios como geralmente ficam. Final do ano tem chuvas, o impacto de energia não seria tanto no final do ano, mas no meio do ano que vem. Risco de inflação daqui a um ano e potencial de inflação de seis meses decorrentes do El Niño. No Brasil, ao menos, é um alerta, não é uma coisa que impacte o resultado neste momento.
SBTNews: O setor tem qual prognóstico?
Rabobank: A gente contava com um PIB [Produto Interno Bruto] que poderia reagir positivamente ao agro; a gente etsava com uma previsão do agro crescer 7% neste ano e, nesse momento, depois do que se viu no primeiro trimestre, hoje contamos com o setor agro crescendo ao redor de 10,1%. Muito a ver com a safra da soja. No agroinfo [relatório interno do RaboBank], a expectativa é de a safra de soja crescer 21,1%: são 155 milhões de toneladas de produção de soja, 27 milhões a mais do que na passada. Milho também em destaque, alta esperada de 12,2% sobre o ano anterior, ou 14 milhões de toneladas a mais do que no ano passado, e cana de açucar safra 9,5% maior, com 600 milhões de toneladas de cana no Centro-Sul. Café acreditamos que vai ser algo como 4,4% a mais no ano.
SBTNews: São números difíceis de se repetir...
Rabobank: A surpresa do agro se concentrou no primeiro trimestre. Nos demais, a gente fica mais à mercê da própria dinâmica da demanda doméstica, algo já deprimida por conta da influência da política monetária [aumento dos juros]. A gente acha que como as expectativas de inflação chegaram a 4% pra 2024 e 2025 no começo de junho [dentro da meta], depois com essas definições do novo marco fiscal, do andamento da reforma tributária com o Iva Dual [ nova modalidade de cobrança de impostos], a primeira retira riscos de a inflação acelerar e a reforma do iva dual tem a perspectiva de uma economia mais produtiva: a direção é de ser teoricamente mais produtiva.
SBTNews: E com inflação menor...
Rabobank: Agora, a gente começa já a ver menos pressão pra que a inflação ficasse tão alta como antes: pensávamos em inflação de 5,4% e agora divulgamos 5,1% no final de 2023. Com inflação mais baixa achamos que o Banco Central começa a cortar em 0,25pp os juros. O BC tem que ser cauteloso, porque a gente está falando de uma inflação subindo no segundo trimestre, mas se ela vai chegar em 5,1% no final do semestre, é porque a gente tem o esgotamento do efeito calendário da desoneração dos combustíveis. Então, o BC não tem um espaço muito grande pra cortar. Temos que ter em mente que inflação no segundo semestre tem esses dois fatores: efeito calendário ficando pra trás e o segundo que no final do ano podemos ter El Niño.
Sobre o Rabobank
O Rabobank é um banco de atuação global especializado em soluções financeiras para o agronegócio. No Raboresearch, o banco desenvolve conteúdo sobre tendências e previsões sobre o agronegócio no Brasil e no mundo. A instituição tem sede na Holanda e mais de 9 milhões de clientes, com atuação em mais de 30 países. No Brasil está há 30 anos, e tem 17 agências.
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