Senadoras comentam declaração machista do ministro da CGU
"Não é descontrolada, é exercer seu papel com firmeza para defender outras mulheres", diz Tebet
A fala machista do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, direcionada a senadora Simone Tebet (DEM-MS), nesta 3ª feira (21.set), foi comentada na abertura da sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta 4ª feira (22.set). A senadora afirmou que já é página virada, mas que como líder da bancada feminina no Senado, precisou falar sobre, com caráter educativo.
"Podem nos chamar de feias, de gordas, de velhas, a gente sabe se defender disso tudo. Mas é histórico que a mulher, [...] quando começou a buscar espaços de poder, começou a ser taxada de uma pessoa histérica, louca, descontrolada. Até um pouco antes do século passado, nos internaram em manicômios. Essa palavra não vem à toa. Ela está no inconsciente daqueles que ainda acham que mulheres são inferiores. Essa palavra nos toca muito fortemente. [...] Quando a mulher eleva sua voz ela é histérica, descontrolada. Não. Ela exerce seu papel com firmeza, com o dever que tem de defender todas as outras mulheres, muitas vezes, oprimidas no Brasil", ressaltou a senadora.
Na sessão da CPI desta 3ª feira (21.set), Rosário chamou a senadora de "descontrolada" após ser questionado sobre contradições em seu depoimento por Tebet. Na mesma hora, os outros senadores presentes repreenderam a atitude do ministro da CGU e a sessão foi suspensa. Simone reconheceu a solidariedade dos colegas.
"Ontem, em rede nacional, o Senado Federal se engrandeceu. Nós vimos senadores, todos que estavam aqui, fazendo a defesa da mulher brasileira. De que aqui não, aqui se respeita a mulher como uma igual, de direitos, mas também de obrigações. Nem mais, mas também de não menos", disse a senadora.
Eliziane Gama, senadora pelo Cidadania do Maranhão, participou da CPI de forma remota e deixou registrada a sua manifestação sobre o ocorrido.
"O que a gente acompanhou ontem, presidente, é algo inaceitável. Algo inadmissível. Temos um estudo que mostra que as mulheres são duas vezes mais interrompidas do que homens nos debates. Chamar a mulher de descontrolada, a palavra calma, histérica, são falas que durante gerações, nós mulheres ouvimos no dia a dia. Uma fala misógina, uma fala machista, uma fala inaceitável", relatou Eliziane.
A senadora afirmou que o ataque do ministro não foi só à Simone, mas a mais de 50% da população brasileira, também à 12 senadoras.
"Não é um grito, não é uma palavra, que vai nos fazer recuar. Que vai nos parar. Estamos mais firmes do que nunca, participando ativamente da CPI e fazendo valer as nossas prerrogativas", ressaltou.
A senadora Zenaide Maia (PROS-RN) contribui também para o debate de forma remota.
"Nos causou espanto, agrediu a Simone e agrediu todas as mulheres, se você discorda de algo que está errado, é você que está desequilibrada", disse.
A senadora Leila Barros (Cidadania-DF) disse que teria a mesma postura firme e de defesa da mulher novamente.
"Uma imagem diz mais que mil palavras. [...] Ele em alguns momentos se alterou com o relator, com outros senadores, mas com a Simone foi diferente. Foi diferente e pra quem diz que não foi, que nós exageramos na nossa atitude ontem, eu digo a essas pessoas, que elas revejam como foi o comportamento e que coloquem a mão na consciência para ver como são tratadas as mulheres, não só nessa casa, mas nesse país. E nós não podemos mais tolerar isso", concluiu.