Exclusivo: policiais fraudaram cena do crime na morte de dois inocentes
Espécie de polícia paralela participou da ação, na zona leste de São Paulo, em novembro de 2021

SBT Brasil
O laudo da corregedoria da Polícia Civil de São Paulo sobre as mortes de dois inocentes -- ao qual o SBT Brasil teve acesso com exclusividade -- revelou que os agentes fraudaram a cena do crime. A investigação constatou também que um dos seis atiradores não é policial, o que mostra a atuação de uma polícia paralela na operação, realizada em novembro do ano passado.
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A farsa foi montada minutos depois que os policiais civis mataram dois inocentes, na madrugada do dia 25 de novembro do ano passado, na zona leste de São Paulo, durante uma blitz.
Os investigadores do 24º Distrito Policial mataram o mecânico Guilherme Tibério Lima, de 25 anos, que passava pelo local e não tinha percebido a barreira policial. José Domingos dos Santos, que catava material reciclado na rua, levou um tiro na cabeça e morreu.
Pra completar, os investigadores estavam acompanhados de três agentes de uma ONG que diz prestar apoio à vítimas de violência - o Instituto Nacional de Defesa e Promoção à Pessoa, Indep. Na prática, eles são o que a gíria chama de gansos - um tipo de polícia paralela.
Um laudo feito pela unidade de inteligência da corregedoria prova que os investigadores alteraram a cena do crime e enganaram os policiais do departamento de homicídios, que tinham sido chamados. Liderados pelo então chefe dos investigadores, Marcelo Ruggieri, os gansos foram retirados na cena do crime.
Um deles, Ronaldo Bretan Gomes Correa, tinha atirado três vezes contra o carro do mecânico, que estava morto dentro do veículo. Outro ganso, Evandro Dantas Conde, tinha até dirigido a viatura da Polícia Civil, a pedido de Marcelo Ruggieri. O advogado Lucas Tucunduva, que também não poderia estar na operação, também foi retirado dali. Ele é escrivão, mas nunca prestou concurso. A nomeação dele está sendo investigada.
Os investigadores também limparam a cena do crime. Eles recolheram as cápsulas dos mais de 30 tiros que foram disparados na desastrada operação. Os policiais só não perceberam uma coisa: uma câmera de segurança.
No laudo de inteligência estão as imagens da fraude. Instantes depois das mortes, um homem de camiseta listrada recolhe algumas das cápsulas. Morador da região, ele pega as cápsulas, entra na casa e sai em seguida pra procurar mais.
Oito minutos depois, um policial aparece. Em seguida, outros investigadores se juntam a ele e recolhem mais cápsulas no asfalto. Eles usam até lanternas pra limpar a cena do crime.
Uma hora depois, os policiais abordam o morador. Eles conversam e, ao final, as cápsulas são entregues. Um investigador tira até uma foto do número da casa do homem.
O morador foi ouvido na corregedoria e confirmou que entregou os cartuchos a um Policial Civil. Por ter mentido em um depoimento anterior, ele também será indiciado por fraude processual.
Para o ouvidor das polícias, Elizeu Soares, além de um processo criminal, os investigadores devem ser expulsos da polícia: "uma ação fraudulenta atentaram contra a vida de duas inocentes e ainda por cima sem seguir os protocolos da própria Polícia Civil depois tentaram fraudar o local dos fatos local do crime. Esses policiais não são policiais, as atitudes deles são atitudes de criminosos".
O chefe da operação, o investigador Marcelo Ruggieri, deve ficar com a pena menor. Como a corregedoria não encontrou provas de que ele tenha atirado nos inocentes, Marcelo será indiciado apenas por fraude processual e porte ilegal de arma. Ele emprestou uma arma ao escrivão que participou da blitz.
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