Um ano após enchentes, ferrovias gaúchas seguem isoladas e impactam economia local
Na segunda reportagem da série de reportagens "Feridas Abertas", SBT Brasil mostra que ferrovias do Rio Grande do Sul ainda estão isoladas do restante do país
Guilherme Rockett
Eduardo Pinzon
Natalia Vieira
Há um ano, chuvas sem precedentes abalavam os meios de transporte no Rio Grande do Sul. A imagem de um avião de carga parado no meio da água virou símbolo da enchente. A cheia do Guaíba inundou a pista do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre e, durante sete meses, nenhum voo chegou ou partiu dali.
As pontes destruídas pela força da correnteza também levaram meses para serem reconstruídas. É o caso da estrutura que liga os municípios de Lajeado e Arroio do Meio, no Vale do Taquari. A ponte havia ruído no início de maio do ano passado, com a primeira cheia que atingiu o Vale do Taquari. Na época, o Exército chegou a instalar passarelas flutuantes temporárias, que também foram levadas pela enchente.
O governo do Rio Grande do Sul levou 11 meses para reconstruir a nova estrutura, que é cinco metros mais alta que a anterior para que possa resistir a futuras enchentes. Além disso, ainda há três bloqueios parciais em rodovias federais. Um deles fica na BR-386, sobre o Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela. Com parte da estrutura em obras, o trânsito afunila e motoristas são obrigados a trocar de pista.
E o que mais preocupa são as ferrovias gaúchas, que seguem isoladas do restante do país. 759 quilômetros de trilhos continuam obstruídos, impedindo a ligação com outros estados. Na chamada "Ferrovia do Trigo", essencial para o escoamento de produtos como o etanol, ainda há túneis inundados e barreiras caídas. Um dos pontos críticos é o viaduto V-13, o mais alto da América Latina, onde a vegetação já invade os trilhos.
Com a interrupção, a safra do norte do estado que antes seguia nos vagões agora precisa ser transportada por caminhões, o que aumenta o custo do frete. O turismo também foi afetado. A linha "Trem dos Vales", que levou 115 mil passageiros em quatro anos, está inativa.
"O trem era um forte indutor desse turismo, impactando em mais de 350 empreendimentos, gerando mais de mil empregos", explica Rafael Fontana, presidente da Associação dos Municípios de Turismo do Vale do Taquari (Amturvales). "Com o impacto da ferrovia, acabou desestimulando essa economia local, dos pequenos negócios, especialmente", completa.
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Uma churrascaria em Encantado, com capacidade para receber 300 turistas, viu o movimento cair pela metade após a paralisação da linha férrea.
"A gente teve que diminuir a nossa equipe, pra poder compactar e permanecer aberto nesse período que o trem não está funcionando", conta a empresária Sandra Luiza Winck.
Ainda não há previsão para a liberação da ferrovia. Em uma propriedade rural, a família de agricultores que investiu na construção de um café colonial para turistas, agora vê tudo parado.
"Atendíamos em torno de 260 pessoas por dia. Hoje a gente sente muita falta disso", lamenta o agricultor e empresário Marciano Brandão.