"O Brasil tem uma agenda importante de educação midiática", diz Alexandre Sayad
Coordenador da Aliança Global da Unesco falou com o SBT News sobre o tema
SBT News
A cooperação entre o governo brasileiro e entidades como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (Unesco) foi um dos destaques do evento "Educação Midiática para a Democracia e Equidade Social", o Encontro Internacional de Educação Midiática que reuniu na última semana, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, autoridades e especialistas para um debate sobre a importância da informação na formação de uma audiência crítica, desde a infância, e no enfrentamento do fenômeno das fake news.
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O coordenador da Aliança Global da Unesco, Alexandre Sayad, contou ao SBT News um pouco sobre a atuação da organização no Brasil e no mundo para a promoção da educação midiática.
"O Brasil hoje tem uma agenda importante de educação midiática, haja visto que o governo agora tem um departamento de educação midiática. A questão da informação, que antes era muito regulada, e muito cobrada em cima dos veículos tradicionais [...] agora, as mídias digitais também vão ter que ter alguma responsabilidade sobre essa questão. Então, essa é uma tendência mundial que entra na pauta de todas as ações que a Aliança Global da Unesco faz no mundo, sejam elas na universidade, na escola, junto aos meios, junto às associações da sociedade civil", ele explicou.
Alexandre Sayad também destacou a necessidade de melhor capacitação dos profissionais de educação para as necessidades de aprendizado das novas gerações.
"A formação inicial de professor tem que considerar a questão das mídias, do algoritmo de inteligência artificial e a formação continuada também", observou Sayad.
"Tem uma questão mais particular, que já é histórica no Brasil, que é uma defasagem da formação inicial dos professores na universidade para o que eles encaram na sala de aula. Se essa defasagem já acontecia, agora você pode multiplicar ela por dois, por três, conforme o tempo passa, essa brecha vai aumentando".
Outro tema comentado pelo coordenador da Aliança Global foi o impacto das novas tecnologias, como a inteligência artificial.
"A inteligência artificial é reconhecida, pelos especialistas, como uma tecnologia de impacto sistêmico. Ela tem um poder de impacto como o da luz elétrica. Ela não vai impactar só a maneira de educar, ela vai impactar tudo, já está impactando".
SBT News -- Como a Unesco está trabalhando a questão de educação midiática no Brasil hoje?
Alexandre Sayad -- Eu respondo globalmente, então, não vou falar do Brasil especificamente. Mas, o Brasil hoje tem uma agenda importante de educação midiática, visto que o governo agora tem um departamento de educação midiática, quer dizer, a questão da informação que antes era muito regulada e muito cobrada em cima dos veículos tradicionais. Agora as mídias digitais também vão ter que ter alguma responsabilidade sobre essa questão. Então, essa é uma tendência mundial que entra na pauta de todas as ações que a Aliança Global da Unesco faz no mundo, seja na universidade ou na escola junto aos meios, juntos de associações, da sociedade civil, quer dizer, essa é uma pauta geral e acho que ela começa a entrar no Brasil agora como um elemento também do jornalismo.
SBT News -- Sobre o acesso à informação, como a gente lida com as desigualdades do mundo? E em muitos casos desigualdades extremas como é caso de América Latina, África, Ásia e outras regiões?
Alexandre Sayad -- Eu digo que a educação midiática é um tema "Glocal", ele é global e é local. Ele é global porque ele é um assunto, algoritmo não tem nacionalidade, já viu algoritmo brasileiro? Algoritmo britânico? Não, ele é Global. Mas, por outro lado, as localidades têm suas características, você não precisa nem pegar a América Latina como exemplo, se você pegar o Brasil, a diversidade do Brasil, se tem uma floresta em termos de biodiversidade também na área tecnológica, locais que não tem acesso nem a internet, nem de banda lenta quanto mais de banda larga e locais que têm uma internet excelente comparados aos Estados Unidos e a Europa, escolas que estão bem equipadas, escolas que não estão, quer dizer; isso tem que passar pela particularidade do local e muitas vezes quem tá envolvido na comunidade das preocupações políticas e sociais daquele local, é quem lidera o movimento para que aquela questão da educação mediática cresça.
SBT News -- Como empoderar professores e educadores para desenvolver um senso crítico? Principalmente nas crianças e adolescentes, eles já estão inseridos nesse mundo da digitalização. A Unesco ela trabalha em parceria com os vários governos, como empoderar os governos e como empoderar os educadores nesse sentido?
Alexandre Sayad -- Formação inicial de professor, tem que considerar a questão das mídias, do algoritmo, da inteligência artificial e a formação continuada também, e é para professor, é para os pais, ou seja, a questão do algoritmo não pega só o professor, pega médico, engenheiro; mesmo quem não tem trabalho, tá pegando o seguro desemprego, muitas vezes por um aplicativo que usa algoritmo, então a questão do que a gente chama de aprendizagem para a vida toda tem que incluir o digital. E quando a gente fala em digital, a gente está falando do algoritmo, a questão dos professores tem uma questão mais particular que já é histórico no Brasil uma defasagem da formação inicial dos professores na universidade do que eles encaram na sala de aula, você sabe que a defasagem já acontecia. Agora você pode multiplicar ela por dois, por três, conforme o tempo passa essa brecha vai aumentando.
SBT News -- E a evolução da Inteligência Artificial, por exemplo, essa evolução super rápida da tecnologia, vai causar um descompasso ainda maior nos próximos anos ou não?
Alexandre Sayad -- Vai sim, eu acho que a inteligência artificial é, ao contrário de outras coisas que a gente fala, às vezes metaverso e até uma outra natureza. A Inteligência Artificial é reconhecida pelos especialistas como uma tecnologia de impacto sistêmico, o que é isso? Ela tem um poder de impacto de uma luz elétrica, ela não vai impactar só a maneira de educar, ela vai impactar tudo; já está impactando, você entra no banco e pede um empréstimo, já tem um algoritmo de Inteligência Artificial fazendo o cálculo do teu empréstimo. Então, são tecnologias que vão desenvolver numa velocidade tão rápida que essa brecha, essa diferença de aprendizagem essa curva vai aumentar muito rápido.
SBT News -- Quais são os objetivos básicos da UNESCO nos próximos anos? Se você for alertar três objetivos básicos e fundamentais para o desenvolvimento desse trabalho de alfabetização digital, de inclusão digital, o que é preciso fazer?
Alexandre Sayad -- Acesso, é um. Acesso Global a tecnologia; dois, educação midiática para que esse acesso seja qualificado; três, empoderamento que os jovens, os idosos e os adultos possam produzir comunicação com qualidade e com ética, acho que esses três pilares são três endereçamentos precisos. Que a Unesco MIL Aliance, no caso essa aliança global que eu dirijo, tem hoje como função.
Confira a entrevista na íntegra com o coordenador da Aliança Global da Unesco, Alexandre Sayad: