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Brasil

Flávio Dino: "Bolsonaro terceirizou governo e se autodemitiu"

Ao SBT News, governador do MA analisa cenários para 2022 e avalia união de Jair Bolsonaro com Centrão

Imagem da noticia Flávio Dino: "Bolsonaro terceirizou governo e se autodemitiu"
Flávio Dino
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Um dos principais nomes da esquerda brasileira, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), acaba de trocar de partido, em um movimento que também mira as eleições de 2022. Aventado como possível candidato a vice em uma chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), coloca-se como pré-candidato ao Senado, mas tem trabalhado intensamente em prol da disputa presidencial. A escolha pelo PSB, aliás, deve-se a isso. Dino crê que a sigla possa ser um "polo de aglutinação" para reunir partidos de centro-esquerda, a fim de tentar frustrar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em entrevista ao SBT News, o governador analisou cenários para as eleições do próximo ano -- as quais, ele considera, serão uma transição para o surgimento e a ascensão de novos nomes na política brasileira --, bem como falou sobre sua gestão no estado, que tornou-se referência na vacinação contra a covid-19. Dino também avaliou o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado -- cobrando investigação de supostas irregularidades em estados e municípios, mas na esfera adequada, e considerando que o Ministério da Saúde tem "gravíssimas responsabilidades" no elevado número de mortes no país. Ele comentou, ainda, a aproximação de Bolsonaro do Centrão, e disse que o presidente "terceirizou o governo, se autodemitiu e virou decorativo".

Confira abaixo a entrevista:

O senhor acaba de trocar de partido. O que o levou a deixar o PCdoB e a escolher o PSB, e até que ponto esses movimentos foram pensados também com vistas às eleições de 2022?

Houve um peso muito alto da legislação eleitoral partidária, altamente restritiva quanto ao número de partidos no Brasil, cláusula de barreira para edição de coligações... Acredito que haverá uma redução geral do número de partidos. Penso que o PSB pode e deve funcionar como um polo de atração, de aglutinação, de outras legendas partidárias, uma grande frente eleitoral para que, com isso, tenhamos força política, programática, eleitoral para a consecução de um partido representativo de centro-esquerda, sintonizado com exigências contemporâneas do mundo do trabalho, da economia verde, da ciência e tecnologia, como tais itens constam no programa do PSB. É como em um condomínio, eu estivesse residindo em um mesmo condomínio, apenas mudei de casa, para a casa vizinha, e penso que essa mudança visa exatamente que essa frente eleitoral permaneça unida e que esse condomínio permaneça cada vez mais unido e cada vez mais forte. 

O candidato dessa frente eleitoral é o ex-presidente Lula?

Nós estamos muito longe de uma definição quanto a isso, porque o próprio presidente Lula não tem colocado com muita nitidez ainda este debate eleitoral. E creio que ele está certo. Nós temos outras agendas que são mais urgentes a esta altura, tendo em vista a crise sanitária e a dramaticidade da situação econômica e social do Brasil, no que se refere a gás de cozinha, alimentos, temos agora a crise humanitária derivada dessa onda de frio no Sul e Sudeste... Então nós temos uma agenda pública muito sobrecarregada e os políticos devem se dedicar primacialmente a elas. Razões pelas quais penso que as definições ficarão para abril, maio de 2022. Temos, claro, no PSB muitos que defendem a pré-candidatura do ex-presidente Lula, mas não há nenhuma decisão partidária ainda quanto a isso.

O senhor se filiou ao PSB junto ao deputado Marcelo Freixo. No caso dele, estava encaminhada uma ida ao PDT que foi interceptada pelo ex-presidente Lula. Também foi assim no seu caso? O senhor conversou com o ex-presidente antes de decidir pelo PSB?

De modo algum. Eu não conversei com o ex-presidente Lula sobre essa questão partidária, inclusive porque sei do apreço que ele tem e da relação muito próxima com o PCdoB. Então seria a última pessoa que eu procuraria para esse tipo de debate, porque seria até uma situação de constrangimento. Então não houve nenhuma interferência dele. O que houve da minha parte foi um intenso diálogo com o deputado Marcelo Freixo e outros personagens que cogitavam e cogitam mudar de partido. Nós fizemos várias reuniões, mas sem a participação do ex-presidente Lula. E nessas reuniões, com vários políticos, quem resolveu de fato levar adiante nesse momento a mudança partidária fomos eu e o Marcelo Freixo e fizemos juntos, exatamente como um debate visando ao fortalecimento do PSB.

Uma candidatura de Lula 20 anos após a primeira vitória dele revela uma dificuldade de renovação na esquerda? Há uma dependência muito grande dele?

Acho que há uma crise geral na política do mundo. Você veja nos Estados Unidos: qual foi a saída para derrotar o [ex-presidente Donald] Trump? O [presidente Joe] Biden, um antigo quadro que foi vice-presidente da República do [ex-presidente Barack] Obama, já um senhor de praticamente 80 anos e acabou sendo a saída nacional. A Angela Merkel ficou um longo período no governo da Alemanha, uma década e meia praticamente. Então nós temos uma dificuldade geral no mundo em relação à política e no Brasil também, não é algo próprio da esquerda. Você veja que nas pesquisas [de intenção de voto] temos o ex-presidente Lula, existe o atual presidente da República e mais outras figuras em um patamar bem menor. Acho que não é algo próprio da esquerda, penso que é uma espécie de transição que a política brasileira neste instante está vivenciando. Uma transição geracional até, em que aqueles que fizeram a transição da ditadura para a democracia estão mais ou menos encerrando as suas atividades. E aí você tem figuras estelares que até já nos deixaram, como Mário Covas, [Leonel] Brizola, Ulysses Guimarães, recentemente o Marco Maciel, e outros que vão reduzindo as suas atividades. Nós temos o ex-presidente Lula, o ex-presidente Fernando Henrique, o ex-presidente José Sarney, a ex-presidente Dilma que estão ainda em atividade, mas é uma geração que ainda não se revelou, não se traduziu na formação de outros quadros de igual envergadura. Eu acho que essa eleição de 2022 vai ser uma espécie de encerramento de um ciclo na política brasileira, e, aí sim, abertura de espaço para novas lideranças.

O senhor mencionou as eleições norte-americanas, e uma figura central na eleição de Joe Biden foi a vice, Kamala Harris. O senhor chegou a ser aventado como possível vice-presidente em uma eventual chapa com o ex-presidente Lula, mas já disse que se coloca hoje como pré-candidato ao Senado. Se tivesse que escolher um vice-presidente para uma possível chapa de Lula, quem que o senhor indicaria? Acha que é preciso ceder espaço para angariar mais votos? 

Eu tenho dito que é uma prerrogativa de quem disputa um cargo majoritário -- o governo, a Presidência da República -- ter a última palavra, a palavra definitiva sobre o seu vice, porque o vice é o sucessor, é o substituto, é um auxiliar direto do titular do cargo. Então eu acho que ninguém se candidata a vice e é muito difícil especular quanto a isso. O que eu tenho sustentado, e isso compõe o núcleo da minha resposta a essa questão, é que o ex-presidente Lula, ele sim, tem que buscar uma posição sempre mais centrista. Eu acho que a sociedade brasileira é muito esgarçada por conflituosidades. Esses anos todos foram muito difíceis. O Bolsonaro se notabiliza por exacerbar conflitos. Agora mesmo o conflito com o Poder Judiciário, com o Supremo [Tribunal Federal], com o Tribunal Superior Eleitoral. A sociedade também está cansada, exaurida um pouco com isto tudo que atrapalha o país. Então eu acho que, independentemente de quem seja o companheiro ou a companheira de chapa do ex-presidente Lula, é preciso que ele próprio tenha essa posição mais ponderada, mais alinhada com o pensamento médio da sociedade, para repactuar o país, para que nós tenhamos uma unidade nacional, porque isso é decisivo para que a gente possa voltar a progredir economicamente e socialmente.

"Lula tem que buscar uma posição sempre mais centrista [...] mais ponderada, mais alinhada com o pensamento médio da sociedade"

Seu apoio hoje é cobiçado por dois pré-candidatos ao governo do Maranhão: o seu vice, Carlos Brandão (PSDB), e o senador Weverton Rocha (PDT). Quando decidirá quem vai apoiar? Há chance de uma união? O Weverton é do partido de Ciro Gomes. Essa costura regional pode influenciar na disputa presidencial de alguma forma? 

Nós temos hoje 16 partidos que me ajudam a governar o Maranhão, uma aliança bastante grande. Quando eu fui candidato à reeleição, houve, rapidamente, uma unidade de todos em torno da reeleição. Agora a situação é bem diferente, eu não posso mais ser candidato à reeleição, é natural que surjam essas duas postulações e outras. Na verdade, temos três, quatro, cinco nomes que hoje circulam como pré-candidatos. Nós fizemos recentemente uma reunião desses 16 partidos e definimos o cronograma, visando à unidade, que vai até o mês de novembro. No mês de outubro nós teremos a definição derradeira das regras eleitorais, isso influencia muito fortemente na própria estruturação dos partidos, das candidaturas, das alianças, e aí vamos partir do mês de novembro para definição do candidato que vai ter o meu apoio e, por conseguinte, da imensa maioria do nosso grupo, quiçá de todo ele. Então eu hoje trabalho nesse sentido da convergência. São nomes legítimos, não há dúvida, têm uma trajetória que respalda essa postulação, e você tem razão no aspecto de que um dos ingredientes, muito importante para mim, para a minha definição, é exatamente o papel que essa aliança jogará para a definição nacional, porque hoje eu levo em conta sobretudo esses dois objetivos: garantir a continuidade da nossa experiência vitoriosa, exitosa do governo do estado e ajudar a política nacional a encontrar rumos melhores.

O Maranhão tornou-se uma referência na vacinação, com São Luís sendo a primeira capital a vacinar pessoas de 18 anos sem comorbidades e Alcântara sendo a primeira cidade a ter 100% da população adulta imunizada, ambas ainda em junho. A que atribui isso?

Coordenação estadual, planejamento e gestão. Tudo aquilo que, infelizmente, tem faltado em nível nacional desde o início da pandemia. A vacinação aqui obedece a um planejamento, você tem alocação de vacina de acordo com o critério de eficiência. Eu editei um decreto: 85% é o parâmetro que autoriza as cidades a receberem novas vacinas. Se eu entrego para a cidade 'X' 100 vacinas e a prefeitura não aplica pelo menos 85, ela não recebe novas doses. Então impele que as prefeituras, para receber novas doses, vacinem mais pessoas e aqueles, portanto, que têm patamares mais altos de eficiência recebem mais rapidamente mais vacinas. É um critério de mérito. E ao mesmo tempo nós tivemos a definição da CIB, na Comissão Intergestores Bipartite do governo do estado, uma reserva técnica de vacinas que têm sido empregadas nos mutirões que temos feito, que nós chamamos aqui, em homenagem às festas juninas, de 'arraiás da vacinação'. Os arraiás são mutirões em que o governo do estado e as prefeituras atuam juntos, como no caso da cidade de Alcântara, cidade da Raposa e outras que conseguiram chegar já a esse patamar de 100% da primeira dose administrada. Destaco em terceiro lugar o fato de haver equipe do governo do estado aplicando vacinas. Você tem as equipes municipais e nós temos aproximadamente mil pessoas, que são digitadores, que são vacinadores, que vão para os municípios e ajudam diretamente na vacinação. E destaco, finalmente, o fato de ter ocorrido aqui aquele evento adverso no navio com a chamada cepa indiana na época, e ensejou a destinação de doses extras da vacina por parte do Ministério da Saúde. A soma desses quatro fatores fez com que nós tivéssemos esses sinais de sucesso, embora, claro, ainda estejamos com uma enorme demanda. Ontem mesmo eu participei desses mutirões e vamos fazer outros, todos os dias temos feito, porque o Maranhão é muito grande territorialmente. São 217 cidades, o nosso território é maior que o território da Itália e isso faz com que nós tenhamos sempre cidades em ritmos diferentes. Mas eu acredito que até o mês de outubro nós teremos 100% da população adulta imunizada com a primeira dose.

Apesar desse avanço em São Luís, o Maranhão é apenas o 21º no ranking nacional. Por que o interior não avança no mesmo ritmo? São só questões logísticas?

As questões logísticas são as menos importantes, uma vez que eu tenho, desde o início, aviões e helicópteros dedicados a essa tarefa, entregando as vacinas. Às vezes as dificuldades estão na aplicação, porque os municípios têm as suas próprias dificuldades, daí essas equipes estaduais ajudando. Nós tivemos o período de chuvas que também influencia, porque povoados ficam isolados, certas regiões ficam isoladas. [Foram] chuvas muito intensas no Maranhão, aqui nós somos mais Amazônia do que Nordeste nesse aspectos do regime de chuvas. E nós temos também um outro problema: às vezes as vacinas são aplicadas e não aparecem no sistema informatizado do Ministério da Saúde. Isso acontece muito também e daí nós temos incentivos e equipes até de digitadores, porque a gente verifica que está aqui no sistema que o município tem 3 mil doses lá em estoque. A Secretaria de Saúde do Estado liga e a Secretaria Municipal diz 'não, nós só temos 500'. Mas aplicou e não lançou no sistema? Isso sempre gera esta defasagem e nós lutamos todos os dias contra ela.

O senhor integra o Consórcio Nordeste, que buscou a compra da vacina russa Sputnik V. Mas o envio delas foi cancelado pelo governo russo após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, dizer que o Brasil "não tinha necessidade" desses imunizantes. Como fica agora? O envio ainda segue sem prazo?

Nós temos um impasse, porque a Anvisa liberou, mas com 28 restrições. Com novas fases de testes, fases experimentais, exigências de novos protocolos, inclusive com custos para aplicação desses testes novos que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] demandou. Havia um acordo com o ex-ministro [da Saúde Eduardo] Pazuello de que a vacina Sputnik seria incorporada ao Programa Nacional de Imunizações. O atual ministro [Marcelo Queiroga] chegou a sinalizar que isso ocorreria, depois mudou de ideia. Ele considera que os imunizantes já contratados são suficientes, de modo que hoje eu diria que o cenário é de absoluta indefinição. Nós não temos a incorporação no PNI, não temos liberação definitiva da Anvisa, a operação de compra, portanto se tornou de altíssimo risco e muito onerosa, muito cara. Nós estamos aguardando oficialmente o Ministério da Saúde dizer que não consta no PNI, vamos ver o que a Anvisa diz em relação a essas fases, que foram esses 28 procedimentos, alguns já foram atendidos, para vermos inclusive já o horizonte de vacinação para o próximo ano. Eu acredito que nós teremos outras etapas de vacinação, não será apenas um ano, pelo menos é o que eu imagino, e creio que é preciso que haja uma evolução de todos no sentido de compreender que, quanto mais modalidades vacinais, melhor para a população. Melhor no sentido do acesso e também no sentido do preço, porque a concorrência ajuda a encontrar preços melhores. Essa vacina [Sputnik] está sendo largamente aplicada na Argentina, por exemplo. De que modo que hoje a situação é de impasse e não vejo um horizonte de curto prazo de solução.

"Operação de compra da Sputnik V se tornou de altíssimo risco e muito onerosa. [...] Situação hoje é de impasse e não vejo um horizonte de curto prazo de solução"

Como o senhor avalia declarações de integrantes do governo contrárias a algumas vacinas? Isso dificulta a ampliação da imunização?

Isso atrasou o início da vacinação. Um gravíssimo erro. Isso custou milhares de vidas, porque a cada dia nós temos 1.300, 1.500, 2.000, 3.000 mortos. Cada dia tem um peso muito grande. Então esse foi o maior erro de todos os erros. Veja que são dezenas, mas esse atraso na compra de vacinas por preconceitos políticos ideológicos acabou sendo o principal erro, monumental erro, um absurdo completo e que levou a danos e sofrimentos que poderiam não ter ocorrido. Além disso, acabou despertando uma espécie de dúvida. Ontem mesmo havia um ator muito conhecido insistindo nessa tese disparatada de chip, DNA, enfim, coisas que não têm base científica alguma, e isto também dificulta que as pessoas se vacinem. Depois houve esta outra ideia de que vacina tal ou qual não tem eficácia. Interessante que esse debate nunca existiu no Brasil. Todas as pessoas tomam vacina de gripe e não sabe quem é o fabricante da vacina de gripe, de onde veio, ou tantas outras vacinas que nossos filhos tomam, tríplice, BCG, meningite, e nunca ninguém perguntou se é este ou aquele fabricante. É uma coisa só da pandemia do coronavírus. Realmente um momento muito esquisito, muito inusitado. Tudo isso realmente acabou atrapalhando a vacinação e fazendo com que o esforço seja muito alto e não haja, inclusive, um planejamento para o próximo ano, que é a principal inquietação que eu tenho hoje. O Conselho de Saúde da União Europeia já está reunido para discutir vacinação para 2022 e 2023. No Brasil existe algum debate sobre isso? Zero, nenhum. Nós não sabemos e deveríamos a essa altura estar cuidando. Qual é o horizonte temporal de eficácia das vacinas? É preciso reforçar em razão, inclusive, das variantes? Todos os anos? Alguém tem que estudar isso. Normalmente quem faz isso é o Ministério da Saúde, por força de lei, inclusive, para que haja a preparação adequada. De nada adianta chegar no meio de janeiro ou fevereiro e alguém descobrir que precisa imunizar a população de novo em 2022, por hipótese. E aí é que as pessoas vão tratar de comprar vacinas? Isso é uma irresponsabilidade inaceitável, e eu espero que, em algum momento, as instituições de controle consigam inclusive punir pessoas que se dedicam a mentir e a criar fake news.

Como o senhor avalia o trabalho da CPI da Covid no Senado? O presidente Jair Bolsonaro tem insistido para que a comissão investigue também governadores, principalmente os do Consórcio Nordeste. Qual a avaliação do senhor sobre isso? 

O Bolsonaro fala muito até porque não faz quase nada. Então ele tem que ocupar o dia dele com alguma coisa. Como ele não trabalha, não inaugura obra, não tem governo, não tem reunião, não tem nada e agora terceirizou o governo a partidos, a políticos, que ele dizia que não prestavam e agora já prestam, ele se dedica a ficar falando essas coisas o dia inteiro e tentando desviar as suas responsabilidades. Qualquer problema nacional ele diz que a culpa é dos governadores. A gasolina subiu, o gás, a comida... Tudo ele diz que é culpa dos governadores. Se tem coronavírus, a culpa é dos governadores. Se tem vacinas, se não tem vacinas, é tudo culpa dos governadores. Ele podia entregar o governo para uma comissão de governadores então. Eu integraria uma comissão de quatro, cinco ou seis governadores e governamos no lugar dele. O Brasil andaria melhor com esse grupo. Agora, se há um caso, dois ou três de alguém, governador, prefeito, ministro seja lá o que for que desviou dinheiro público tem que ser investigado, sem dúvida. Tem que ser punido, tem que ser preso. Quem desvia dinheiro da saúde tem que ser preso. Os casos têm que ser apurados, venham de onde vierem, nos termos da lei. E esse é o ponto. Você não pode transformar uma CPI ou um tribunal em um vale-tudo. Existem regras. Uma CPI pode investigar estados? Pode, desde que se cuide de recursos federais. Por quê? Porque existe o princípio federativo. Cada estado tem a sua assembleia. Cada prefeito acusado de corrupção, se é dinheiro federal, ele pode ser investigado pela Polícia Federal, pela CGU [Controladoria-Geral da União]. Se é uma CPI, tem a CPI da Câmara Municipal. A CPI do Congresso deve, segundo o próprio regimento interno do Senado, cuidar da esfera federal. É isso que está escrito e o Supremo já disse. Nós sempre dissemos isso e o Supremo confirmou o que sempre dizíamos. Agora, sou a favor que todos sejam investigados, que todos sejam punidos, e os fatos aí estão à luz do dia. Houve desvio de dinheiro do combate à pandemia? Infelizmente houve. Agora, não é possível afirmar e não foi exclusivamente na esfera estadual. Houve casos de municípios? Houve sim. Quantas operações da polícia já houve e eu quero, da minha parte, que aconteçam mais. Houve problemas em estados? Houve. Agora, houve também na esfera federal. Então você não pode usar o debate político para se eximir da sua responsabilidade. O Ministério da Saúde tem gravíssimas responsabilidades, o Senado já revelou isso, e é preciso que o presidente da República, em vez de ficar tentando fazer um papel que não é seu, de acusador, cuide de arrumar a sua própria casa. Afinal, a pandemia ainda está aí e nós precisamos corrigir os rumos quanto ao futuro, a exemplo dessa situação da vacinação a que fiz referência.

"Houve problemas em estados? Houve. Agora, houve também na esfera federal. Então você não pode usar o debate político para se eximir da sua responsabilidade. O Ministério da Saúde tem gravíssimas responsabilidades"

O senhor falou que o presidente 'terceirizou' o governo. Imagino que esteja se referindo à aproximação dele com o Centrão, que é um grupo volumoso no Congresso. De que forma o espectro politico da esquerda vê essa aproximação com o Centrão? O senhor acredita que Bolsonaro pode se fortalecer, tanto pra avançar a pauta dele no Congresso quanto em 2022? Ou acaba perdendo uma parte do eleitorado mais fiel com essa união?

Ele perde um discurso importante que ele fez contra o Centrão. Diziam que era um amontoado de ladrões, cantavam musiquinha. Quem disse que o Centrão era aglomerado de assaltantes do dinheiro público foi essa gente extremista do bolsonarismo. E agora se juntam. Fica difícil, fica esquisito. De fato, perde uma parte do eleitorado e acho que não convence a base desse denominado Centrão. Eu vejo muita gente se aproveitando ali do governo, da fraqueza do Bolsonaro, mas mais adiante vão abandonar. Quando chegar o processo eleitoral, vão abandonar a tranquilidade e vão buscar outros caminhos pela fragilidade do Bolsonaro. A bem da verdade, o que houve nesses dias é que o Bolsonaro praticamente se autodemitiu, terceirizou e se autodemitiu, virou decorativo. Agora quem governa é o Centrão. A locação de recursos públicos e Orçamento já estavam nas mãos do Centrão, e de políticos de um modo geral, no Congresso Nacional. Agora essas figuras também estão no coração do Poder Executivo. Para o Bolsonaro, sobrou o cercadinho e a live apenas. 

Que legado o senhor pretende deixar para o Maranhão terminando os oito anos de governo?

Nós construímos uma rede de serviços públicos e direitos inédita no nosso estado. Entregamos 16 hospitais macrorregionais, regionais. Quando cheguei ao governo, havia 25 máquinas de hemodiálise, hoje são 480. Havia seis restaurantes populares, hoje são 55. Vou deixar com 68 restaurantes populares, são mais de mil obras educacionais. São alguns exemplos do que chamo de rede de direitos, rede de serviços públicos. Segurança alimentar, educação, saúde... Saltos grandiosos que foram dados nesse período. Hoje temos mais oferta de serviços públicos de qualidade à população do que havia antes. Esse é o principal legado, isso é desenvolvimento, isso é bem-viver, isso é aplicar o dinheiro público com seriedade. E tudo isso só foi possível exatamente pela probidade, transparência, honestidade na gestão do dinheiro público. E isso diante de dificuldades inéditas em termos globais, a pior crise sanitária na história da humanidade. Não obstante essa dificuldade, temos conseguido avançar. Esse é o principal legado. Claro que, no meu coração, tem um lugar especial para alguns programas, como o 'Escola Digna', que a meu ver é a avenida que está sendo aberta e pavimentada e entregue pronta para que nossas crianças e jovens possam sonhar em realizar seus sonhos nas próximas décadas no Maranhão.

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