Eduardo Bolsonaro ao SBT: Sanção dos EUA contra Moraes teve data marcada para sair por duas vezes
Em entrevista exclusiva, nos EUA, deputado licenciado afirmou que há uma tentativa de descredibilizá-lo e negou ataque à soberania brasileira
Patrícia Vasconcellos
Por dois dias, lideranças do universo da política e de Wall Street, sede do mercado financeiro dos EUA, estiveram reunidos em Miami, na Flórida. Foi a primeira Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac, na sigla em inglês) Latina, reunindo nomes conservadores que, nesta edição, focaram na comunidade das Américas Central e do Sul que vivem e investem nos Estados Unidos.
Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo Partido Liberal licenciado do cargo desde março deste ano, discursou no sábado (28), junto a nomes como as deputadas republicanas Mayra Flores (Texas) e María Elvira Salazar (Flórida).

Às margens do evento, o SBT conversou com exclusividade com o parlamentar brasileiro por vinte e nove minutos. Na primeira entrevista individual a uma rede de TV aberta do Brasil durante essa permanência no exterior, Eduardo Bolsonaro falou sobre temas que permeiam o Brasil e os Estados Unidos. Comentou o inquérito no Supremo Tribunal Federal aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República envolvendo seu nome e falou sobre o processo enfrentado pelo seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Eduardo, Bolsonaro é vítima de "ativismo judiciário" e afirmou que hoje, no Brasil, fazer oposição é sinônimo de ser criminalizado. Ele afirma, porém, que suas críticas não são contra o Judiciário do Brasil, mas se referem ao ministro do STF Alexandre de Moraes que, de acordo com ele, "tem destoado e cometido flagrantes ilegalidades e inconstitucionalidades”.
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Eduardo Bolsonaro comentou ainda as decisões recentes da Suprema Corte e da diplomacia norte-americana sobre temas que envolvem internet, liberdade de expressão e ordens executivas. Afirmou que, por duas vezes, houve uma data para o anúncio de sanção norte-americana contra o juiz do Supremo Alexandre de Moraes e que isso só não aconteceu, relata Eduardo Bolsonaro, por instabilidades políticas que mexeram com os bastidores da política dos Estados Unidos. "A última delas foi o bombardeio de Israel ao Irã", disse.
O deputado licenciado também indicou não ter dúvidas de que a decisão do Departamento de Estado em restringir a emissão de vistos a estrangeiros e autoridades de outros países que censuram cidadãos ou empresas norte-americanas foi estimulada pelo que acontece no Brasil, apesar de o texto publicado pela instituição não citar qualquer país. "Nós já tivemos, inclusive, cidadãos americanos que tiveram expedidos mandados de prisão contra eles”, afirmou.
Sobre as próximas eleições presidenciais, em 2026, o deputado diz que Jair Bolsonaro foi vítima de uma "decisão esdrúxula do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] em tempo recorde". Ele afirma que, se conseguir reverter a inelegibilidade, o ex-presidente é o melhor nome para sair candidato, mas que o dele está à disposição.
Eduardo também defendeu sua atuação política nos Estados Unidos. "A esquerda foi para a Haia, Tribunal Penal Internacional, pedir a prisão de Jair Bolsonaro, chamando ele de genocida. Por que a atividade da esquerda é legal e a minha aqui nos Estados Unidos é ilegal?”
Leia a entrevista na íntegra:
Deputado Eduardo Bolsonaro, obrigada por abrir sua agenda e falar conosco do SBT nessa que é a primeira entrevista concedida a uma rede de TV aberta do Brasil aqui nos Estados Unidos. Obrigada.
Eu que agradeço a oportunidade. Sempre bom falar com uma imprensa respeitável como a do SBT.
Obrigada. É a segunda vez que nos encontramos às margens da CPAC, que é a convenção conservadora aqui dos Estados Unidos. Em fevereiro, tive a oportunidade de entrevistá-lo rapidamente na capital dos Estados Unidos e aconteceu nesse fim de semana aqui na Flórida a CPAC Latina. O senhor discursou no primeiro dia e é a primeira vez que essa CPAC Latina acontece, que é a junção de lideranças políticas e também do universo financeiro de Wall Street. Como esses dois universos, político e financeiro, sob a perspectiva latina, se conectam aqui nos Estados Unidos?
O evento foi organizado pelo Tony Delgado, que é o líder do Latino Wall Street. É uma escola de educação financeira e ele percebeu que existe muita relação entre a política, as decisões políticas, o Ministério da Economia, a Presidência e o Congresso, que isso sempre está impactando no mercado, no posicionamento, nas compras de ações, etc. Então, ele teve a ideia de fazer essa união. Como ele é latino, fez essa versão latina do CPAC. E os Estados Unidos, por ser uma terra farol da democracia, acaba recebendo muitos latinos que vêm descontentes com o seu país, seja por questão de segurança, seja por falta de oportunidade de trabalho ou até revoltados com a corrupção, e vêm para cá para construir uma terra onde possam ter uma dignidade e um conforto melhor para a sua família. Então, os latinos aqui estão muito concentrados, principalmente na Flórida, cubanos, pessoas de El Salvador, Nicarágua, Brasil, Colômbia, acabou sendo o local perfeito para essa audiência.
Nesse seu discurso na CPAC Latina, em Miami, no primeiro dia do evento, o senhor falou da guerra do judiciário no Brasil, que, segundo suas palavras, tem mirado lideranças conservadoras de uma forma não correta. Sob a sua perspectiva, o que não está correto nas decisões do Judiciário brasileiro?
Na verdade, o meu direcionamento sempre tem o foco do Alexandre de Moraes, não necessariamente todo o judiciário brasileiro, porque, se a gente for generalizar, a classe política é a primeira realmente a merecer críticas. Mas o Alexandre de Moraes tem destoado e tem cometido flagrantes ilegalidades e inconstitucionalidades. Por exemplo, você vai correr politicamente para condenar o Jair Bolsonaro porque ano que vem é ano de eleição e ele não quer fazer o ano que vem. Isso é uma afronta a qualquer tipo de procedimento padrão devido ao processo legal. Quando você processa pessoas comuns que não têm foro privilegiado na Suprema Corte, isso também é uma outra violação. Então existe uma série de violações. Quando você pega o juiz que se diz vítima, onde o juiz que faz a inquisição de pessoas que fazem delação premiada, como o caso de [tenente-coronel Mauro] Cid, algo expressamente proibido em legislação federal, tudo isso aí contribui para esse tipo de crítica. Na defesa, ele fala que são ataques, mas na verdade são apenas críticas. E finalizo lembrando as matérias do jornalista Glenn Greenwald, em que ele conseguiu o WhatsApp do entorno de Moraes e juízes conversaram dizendo que o Moraes quer me pegar, quer pegar o Eduardo Bolsonaro. Essa é a pessoa que está abrindo investigações até hoje contra mim devido à minha atividade aqui nos Estados Unidos, que eles próprios disseram dois meses atrás que era uma atividade legal.
Citando esse novo processo que o senhor mesmo citou agora, que foi aberto recentemente, acolhendo o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), a acusação afirma que, com esses discursos aqui no exterior, o senhor estaria interferindo no andamento de um outro processo que investiga o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023. Como o senhor vê essa afirmação?
Eles tentam me descredibilizar primeiro dizendo que a minha ação aqui é uma ação totalmente pessoal para salvar o meu pai, Jair Bolsonaro. Mentira. O Jair Bolsonaro nunca esteve na mesa das conversas que a gente tem aqui, seja na Casa Branca, seja no Congresso. É óbvio que a gente deseja uma anistia, porque isso daí significa o fim da perseguição política no Brasil. Existem diversos parlamentares que têm inquérito dentro do STF, parlamentares que são cotados inclusive para ganhar eleições, lideram disputas para eleição de senador ano que vem. Por exemplo, o Felipe Barros no Paraná. Essa é a minha crítica. E não existe um ataque à soberania brasileira. As sanções são instrumentos legais à disposição dos Estados Unidos e que são aplicadas tradicionalmente a países considerados ditaduras. Venezuela, Irã, Cuba, Nicarágua. É que o Brasil cada vez mais está indo por esse caminho ditatorial, onde é criminalizado fazer oposição. Não dá para encarar isso daí como uma democracia normal.
Como o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023 deveria ser investigado?
Olha, como todas as manifestações da esquerda antigamente foram investigadas. Eu já vi policial legislativo tomar flechada na perna. Essas pessoas não foram sequer detidas. Eu já vi manifestações do MST onde 30 policiais militares foram feridos, dentre eles mulheres, pessoas que tiveram a tomar ponto na cabeça, traumatismo craniano. Ninguém foi para a cadeia. O 8 de janeiro, em que pese lamentável, triste, pode-se dizer até repugnante, foi um quebra-quebra de portas, mesas, não saiu ninguém ferido, não teve um tiro, não teve uma arma apreendida e ainda assim essas pessoas são acusadas de abolição violenta do Estado Democrático Direito. Formação de quadrilha armada, porque eles dizem que havia militares ali da reserva que têm arma, mas as armas ficam em casa. Ninguém puxou um fuzil. Não teve apoio da polícia, não teve apoio do Exército. Se você for num país que realmente vive uma ditadura e falar para eles, começar a descrever o 8 de janeiro e dizer para eles que isso foi uma tentativa de golpe, eles vão dar risada na nossa cara, porque isso daí todo mundo sabe que no máximo é um crime impossível, o que no direito penal brasileiro não dá sequer cadeia.
Coincidentemente, no dia da gravação dessa nossa entrevista, domingo 29 de junho, acontece no Brasil uma manifestação na Paulista, em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro está lá. Algumas pessoas estão preocupadas com o estado de saúde dele. O senhor conversou com o seu pai antes dessa manifestação? Ele está de alguma forma preocupado?
Preocupado é com o julgamento dele. A saúde nem tanto. Ele tem o apelido de cavalo. Foi 17 anos atleta do Exército, o primeiro de turma dele da Espcex, na escola de educação física, lá na Praia da Urca, na Praia Vermelha. A saúde dele, é claro, já tem 70 anos, não é nenhum garoto, mas não é o que mais me preocupa, sendo bem sincero. Tem muito mais preocupação com o ativismo judicial, que pretende jogar na cadeia um presidente que não teve nenhum enriquecimento ilícito, não causou nenhum dano ao contribuinte, muito pelo contrário, sai pelas ruas, ele é amado, enquanto o atual ocupante da cadeira presidencial jamais fez sequer uma demonstração pública de poder popular, a não ser alguns pequenos eventos regados à sua militância, todos sabem como. O que me preocupa muito mais é essa injustiça. Porque, Patrícia, no final das contas, eles querem enterrar o nosso movimento. Esse é o alvo do Alexandre de Moraes. Porque se Bolsonaro cair, vai cair toda a direita. Haverá uma disputa por uma nova liderança. Não haverá um apoio recíproco de lado a lado, sem uma liderança, para os nossos candidatos ao Senado no ano que vem. Então, essa é a grande tacada do Alexandre de Moraes. E isso daí vai abrir espaço para uma terceira via. Uma pessoa que faça, de repente, uma direita permitida, ou uma pessoa que venha a negociar tudo com o STF, enfim.
Trazendo um comparativo aqui para os Estados Unidos, a Suprema Corte dos Estados Unidos definiu, na última sexta-feira (27), que instâncias inferiores não devem interferir em ordens do Executivo. A juíza, na descrição do voto da Suprema Corte, afirmou que, se assim fosse, o Judiciário estaria definindo normas para o Executivo. Isso para contextualizar um exemplo aqui dos Estados Unidos, que envolve Judiciário e Executivo. Essa discussão dos três Poderes, o senhor vê alguma relação dessa discussão no nosso país?
É exatamente a mesma discussão. As estratégias para se barrar governos que não são de esquerda são exatamente as mesmas. Mas por que a divisão de esquerda e direita? Porque a esquerda é muito bem organizada no mundo inteiro. Você vê só, o [Joe] Biden não teve esses problemas com juízes. Você não viu um juiz de primeira instância, em uma grande discussão nos Estados Unidos, se essa ordem deveria ou não ser seguida. E olha que o Biden passou aqui, durante um bom tempo também, uma pandemia, tiveram diversas obrigações que hoje se mostram ineficazes, uso de máscara, etc. Obrigação de vacinar-se. Isso daí não era um problema com o Biden, mas é um problema com o [Donald] Trump. É um problema com o Bolsonaro. Nayib Bukele [presidente de El Salvador], na sua primeira chamada, foi numa entrevista, ele publicou a primeira chamada telefônica com Javier Milei, então recém-presidente eleito da Argentina. Ele disse que o maior desafio do Milei vai ter que ser vencer essas pessoas que querem bloqueá-lo. O Bukele só se transformou no Bukele e conseguiu dar um jeito na segurança pública de El Salvador no meio do mandato presidencial dele, quando ocorreram as eleições para o Congresso. O Congresso foi renovado, com uma maioria esmagadora a favor do Bukele. E qual foi a primeira coisa que ele teve que fazer? O impeachment dos cinco ministros da Sala de Justiça, o equivalente ao nosso STF no Brasil, e o procurador-geral da República. E só depois disso o Bukele conseguiu fazer as reformas legislativas que transformaram El Salvador do país mais violento do mundo em um país mais seguro do que o Canadá hoje em dia. Então é aí que anda esse problema. E a esquerda nunca reclama. Por quê? Porque a esquerda se beneficia de tudo isso. Ela se beneficia desse jogo de ativismo judicial, no tapetão, porque eles se protegem, porque esse é o mecanismo que fez eles chegarem ao poder. É o mecanismo que tirou Lula da cadeia e em dois anos o transformou em presidente da República. É o mecanismo que eu tive, fui obrigado a deletar posts durante a campanha de 2022 relacionando Lula a Nicolás Maduro. É o mecanismo que proibiu de eu fazer uma campanha mostrando a verdade sobre o Lula.
Já que o senhor citou posts, a questão do que é escrito nas redes sociais. Aqui nos Estados Unidos há vários projetos de lei que estão parados no Congresso numa tentativa de estabelecer regras para o conteúdo das redes sociais. Não é preciso ter, deputado, regras para o que é postado em redes sociais? Não é preciso definir isso em um universo tão novo? Não é necessário, independentemente do país?
É que nós já temos mecanismos para fazer isso. Qual é a diferença de eu, numa praça pública, cometer um crime contra a honra, cometer um crime contra a honra escrevendo uma carta ou numa postagem? Pouco importa o meio que você utilize. Quem se sente ofendido já tem como ir à justiça e acessar isso daí. Eu não vejo motivo para fazer uma nova regulamentação, porque, na verdade, por trás dessa nova regulamentação está a censura.
Veja só, o STF acabou de atropelar o Congresso mais uma vez, porque o Congresso já rechaçou o voto nesta matéria e isto é uma decisão. Então o Congresso foi desrespeitado. Não existe harmonia entre os Poderes, porque nós barramos a análise do projeto 2630, que regulamentaria as redes sociais, e o STF regulamentou. Dentre os vários itens, será obrigado a rede social a deletar o post, mesmo sem autorização judicial, porque, caso contrário, será multada a rede social. Dentre os vários pontos, você tem ali a violência com relação à sexualidade e violência de gênero. Ora, se eu enxergo um homem vestido de mulher, eu não posso chamar de homem? Se eu chamar de mulher e aquilo ali se sentir ofendida, você não vai poder falar nada? Como é que vai ficar o âmbito das piadas? Vai passar a ser regra no Brasil o que aconteceu com o Léo Lins? Ou você acha que o humorista vai ficar confortável de fazer uma piada dessa e vai entrar o movimento LGBT alguma coisa lá e vai processar a pessoa, vai ser multada, vai ter que deletar o post? Não é o Brasil que eu quero.
Em abril, o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou uma política de restrição de vistos a estrangeiros e lideranças de outros países que atuem de forma a censurar americanos ou empresas americanas. Não houve nessa determinação do Departamento de Estado citação a nenhum nome de pessoa específica ou ao país. O senhor vê uma relação da decisão que foi tomada pelo Departamento de Estado com a realidade brasileira?
Com certeza.
Mas a decisão foi estimulada pelo que acontece no Brasil?
Com certeza. O Brasil é um laboratório para essas ideias de censura e causa uma grande preocupação. Nós já tivemos, inclusive, cidadãos americanos que tiveram expedidos mandados de prisão contra eles. Alexandre de Moraes expediu o mandado de prisão contra Flávia Cordeiro, por exemplo, para não citar o caso de Allan dos Santos, Paulo Figueiredo, Rodrigo Constantino, entre outros jornalistas, ou a juíza Ludmila Lins Grilo. Mas nesse caso, por exemplo, uma cidadã americana fez um tweet aqui dos Estados Unidos, o Alexandre de Moraes não gostou, expediu o mandado de prisão contra ela. Os Estados Unidos têm que sancionar o Alexandre de Moraes para se proteger, para evitar que esse vírus venha para cá. Pergunto a você, no Brasil, se uma pessoa acessar a Truth Social, ela não vê os vídeos. Isso porque a Truth Social utiliza os servidores da Rumble, e a Rumble não pode estar no Brasil, está bloqueada. Se você estiver aí vendo o perfil, por exemplo, de um blog argentino, uma mídia argentina, que eu dei entrevista aqui no Cpac Latino, está fazendo a cobertura do evento, no Brasil você não consegue ver, você precisa de um VPN. E graças a Deus que o Moraes não fez igual ele fez no tempo do X, para finalizar, quando ele expulsou o X, onde ele falou que quem utilizasse VPN para ver as postagens do X incorrerá em multa. Olha que absurdo, nem poder usar VPN você vai poder. Então, não dá para dizer que isso aí é uma democracia.
O senhor mesmo falou aqui na entrevista e no palco da CPAC Latina que o senhor entende a necessidade de sancionar o juiz brasileiro. A preocupação e a acusação que vem do Brasil é que, ao fazer essas afirmações e esses contatos aqui, o senhor estaria atuando de forma a impedir um processo que está em julgamento no Brasil, agir contra os interesses do Brasil. O senhor não vê dessa forma?
Não, nunca pedi liberdade ao Jair Bolsonaro. O que faço, na verdade, é algo muito mais suave do que a esquerda sempre fez. A esquerda foi para a Haia, Tribunal Penal Internacional, pedir a prisão de Jair Bolsonaro, chamando ele de genocida. Por que a atividade da esquerda é legal e a minha aqui nos Estados Unidos é ilegal? Inclusive, isso aí demonstra que o poder das instituições americanas é muito maior do que qualquer organismo multilateral.
Já que citamos aqui redes sociais e Elon Musk é dono do X, o antigo Twitter, o senhor acredita que o fato de ele não estar mais oficialmente no governo de Donald Trump afeta ou muda o andamento dos processos das big techs ou das empresas, não só ligadas a ele, que têm relação com o Brasil?
Não, porque isso tudo está acontecendo não é fruto de uma ação específica do Elon Musk. Inclusive, o Elon Musk está sob investigação no Brasil, acredite se quiser. O Elon Musk está no inquérito das fake news no Brasil. E o Alexandre de Moraes já deu um recado, foi noticiado pela imprensa, de que ele sabe que vai ficar no STF até 2043. E o governo Donald Trump dura quatro anos. É dizer, ele está esperando a oportunidade para ultrapassar o governo Trump, quem sabe com uma nova administração de esquerda, do Partido Democrata, ele fazer uma associação e utilizar os seus inquéritos brasileiros para perseguir Trump, Jason Miller, Elon Musk e várias outras autoridades do governo norte-americano. Espero que as instituições norte-americanas estejam cientes disso, porque certamente isso vai ocorrer, está ocorrendo com a gente aqui. Se nada for feito, vai ocorrer com eles no futuro também, se esse cenário se configurar.
O senhor chegou a encontrar Elon Musk em algum momento, enquanto ele estava no governo?
Patrícia, qualquer coisa que eu fale pode envolver outras pessoas. Eu agradeço a pergunta. Não estou me esquivando dela, mas eu estou falando que, por razões óbvias, por a gente não viver uma democracia saudável, nós não podemos nos permitir publicizar determinados contatos que nós tenhamos ou não tenhamos. Dou como exemplo o deputado Gustavo Gayer, que não coincidentemente, depois de dizer que estava falando com o Elon Musk pelo telefone celular, uma ou duas semanas depois a Polícia Federal deu uma batida na casa do deputado e apreendeu o seu celular.
O senhor está aqui nos Estados Unidos licenciado, uma licença não remunerada, com recursos pessoais ou de família?
Sim.
Como o senhor lida com notícias e críticas que vêm por conta do senhor estar aqui licenciado, com recursos pessoais e não no papel de deputado?
Na verdade, você faz política muito mais fora da atividade cartorária de Brasília. Eu sou a prova viva de que o título de deputado, ele obviamente é interessante, pode te dar uma moral, mas as relações pessoais que a gente faz, e a gente só faz in loco, elas são mais importantes por vezes do que os meros, com todo respeito, porque eu já fiz várias vezes, projetos de lei que têm uma dificuldade muito grande de serem aprovados e etc. Então, quando eu vim para cá, dei uma satisfação ao meu eleitorado, porque sou funcionário público, sou escravo da vontade daqueles que eu represento, mas eu tive um apoio muito grande deles e eles conseguiram perceber que a atividade que eu estou prestando aqui é muito mais essencial do que a atividade que eu estava prestando lá na Câmara dos Deputados do Brasil. Então, inclusive, recebo pessoas oferecendo doações de Pix, eu recuso, porque eu consigo me sustentar aqui com o que eu tenho hoje em dia, agradeço, e a prova de que eles continuam me apoiando é que eu não paro de aumentar seguidores nas redes sociais. Acabei de romper a barreira de 6,3 milhões de seguidores no Instagram, por exemplo.
Esse licenciamento da Câmara tem um prazo?
Até final de julho eu tenho que retornar para o trabalho.
E o senhor já sabe o que vai fazer?
Eu ainda não tomei essa decisão.
Se pode falar?
Posso falar aqui em primeira mão para vocês. Eu ainda não tenho uma decisão tomada com relação a isso, até porque eu tenho que conversar com a minha esposa, isso passa pela família, passa por outros fatores, mas é muito provável que eu não consiga retornar ao Brasil a tempo. Eu acredito muito que a gente vai conseguir sancionar o Alexandre Moraes, essa sanção já deveria ter saído.
Tem algo que o senhor possa dizer?
Eu posso falar, em duas oportunidades a sanção dele já teve data marcada para sair. E só não ocorreram devido a instabilidades políticas. A última delas foi o bombardeio de Israel ao Irã e isso tomou a atenção de toda a Casa Branca. Senão, o Moraes já estaria sancionado. Isso daí, em primeira mão para o SBT.
O senhor disse então que não sabe ainda exatamente em que situação vai permanecer nos Estados Unidos.
Aí tem toda a questão migratória, de visto, etc. Mas isso também está bem encaminhado, não me preocupa.
Numa entrevista recente a uma revista brasileira, o senhor sinalizou que tem intenção de concorrer à Presidência em 2026. É um plano ou já é uma decisão tomada?
Eu nunca fiz campanha, nunca falei abertamente sobre isso, mas fiquei muito feliz quando saiu meu nome lá no Paraná Pesquisas, empatado com o Lula, na margem de erro. E também agora, mais recentemente, na Pesquisa da Futura, botando quatro ou cinco pontos à frente do Lula no eventual segundo turno. Isso demonstra que o nome Bolsonaro segue firme e forte, que o Jair Bolsonaro tem a sua liderança preservada, ele, para mim, tem que ser o candidato à Presidência. Não tem motivo para que não seja. Essa decisão esdrúxula do Tribunal Superior Eleitoral em tempo recorde, tornando-o inelegível por oito anos, porque se encontrou com embaixadores e criticou a urna eletrônica e porque fez um discurso para cerca de um milhão de pessoas sem utilizar recurso público, isso daqui é uma afronta à democracia. Isso é tirar no tapetão aquele opositor que vai ganhar do Lula.
Mas, não havendo essa possibilidade, o senhor é o nome?
Eu coloco o meu nome à disposição. Se o presidente Jair Bolsonaro entender pertinente.
O senhor já teve essa conversa?
Ele não bate o martelo. Eu acho que ele está muito certo, o presidente Bolsonaro. Enquanto eu tiver a possibilidade dele reverter tudo isso e lançar-se à Presidência da República, ele, de fato, não tem que passar o bastão para outro. Porque não faz sentido, você imagina. Ele hoje chega, apoia uma pessoa, daqui a pouco o cenário muda, ele pode concorrer, aí ele vai ter que tirar o apoio, mas já fez compromissos. Então, essa instabilidade não permite a ele fazer esse tipo de conduta. E eu tenho muita fé que ele vai conseguir sair candidato.
Caso seja o senhor o nome, como seria essa campanha estando aqui nos Estados Unidos?
É que para eu ser o nome, a gente tem que sancionar o Alexandre de Moraes, para que eu tenha o conforto de retornar ao Brasil sem sofrer nenhuma retaliação. Não cabe aqui, da noite para o dia, me condenar a 12 anos de cadeia por causa da minha atividade, que dois meses atrás ele disse que era legal. Então, tudo passa por isso, mas eu acho que a gente, no momento correto, tudo ao tempo de Deus, a gente vai conseguir ter um cenário mais claro de como é que será essa corrida de 2026.
Como o senhor vê o Brasil hoje no cenário internacional? O senhor, que já está aqui há algum tempo, vê em relação à economia e também ao tema imigração, que foi tratado na CPAC Latina e que impacta os países da América do Sul e América Central?
Com relação ao tema imigratório, nós somos estrangeiros. Cabe aos Estados Unidos fazer a regulamentação, a legislação pertinente do país. E havia uma crítica muito grande devido à maciça imigração ilegal, que inclusive estava aumentando os índices de criminalidade nos Estados Unidos. Então, o que eu vejo é o Trump querendo consertar esse tipo de coisa.
O senhor vê como uma decisão acertada?
Eu vejo que é uma política interna deles. Eu não fico confortável para ficar comentando, dizendo se é certo ou se é errado, porque diz muito respeito a eles. Agora, é claro, morando aqui nos Estados Unidos, eu agradeço. Quando ele manda os criminosos do Tren de Arágua [facção criminosa venezuelana], ou quem sabe futuramente até do PCC, para as prisões do Nayib Bukele em El Salvador, fico muito mais feliz, porque são estupradores, são criminosos. Esse tipo de pessoa, de fato, tem que ser realmente deportada, extraditada e etc. Mas retornando à sua primeira pergunta, do Brasil, basta você tirar o termômetro a partir da reunião dos BRICS. A condição é que os países, historicamente, aliados do Lula, nem Putin, nem Xi Jinping, se disponibilizaram para ir ao Brasil. E cada vez mais que o Lula se coloca a favor de grupos terroristas, ele torna mais pequeno, torna o Brasil cada vez mais um anão diplomático.
É que sobre Putin também recai a condenação de um tribunal, e ele pode ser detido.
Sim, mas o Maduro foi recebido na posse do Lula aqui no Brasil. Então, o desprestígio com o Lula acaba sendo notório, quando o Putin, talvez por receio disso daí, não queira vir ao Brasil. Mas o Brasil não tem mais espaço em lugar nenhum no mundo. O Lula quer ser mediador tomando partido de terroristas. Ninguém vai levar isso daí a sério. Ele recebe navios do Irã de guerra sancionados pelos Estados Unidos. Navios que já foram acusados de tráfico de terroristas. Meu Deus do céu, que país é esse? É o pessoal que aceitou o Cesare Battisti ficar aqui no Brasil e diz que o pessoal do 8 de janeiro são perigosos terroristas. É o país que mandou um avião da FAB pegar a ex-primeira-dama do Peru condenada por corrupção e trazê-la para o Brasil, mas se nega a trazer o corpo da brasileira inocente que morreu, infelizmente, lá na Indonésia, trazer o corpo para cá.
O corpo será trazido.
Mas não pelo avião da FAB. A família vai ter que pagar. Por que uma condenada por corrupção peruana tem mais direitos do que uma família de um pagador de imposto brasileiro? É a pergunta que eu faço ao Mauro Vieira, ao Celso Amorim, ao Lula. Não tem cabimento isso. Você tem que dar o exemplo. Você está na Presidência da República. Com Bolsonaro, ele ficava nas embaixadas, ele ficava em hotel de trânsito do Exército.
O Lula com a Janja fica nos hotéis mais caros do mundo. Isso não tem cabimento. Imagina o cidadão lá com dificuldade para comprar um café quase a R$ 100. Vai ao mercado, vê o arroz e o feijão explodindo. Aí ele olha o Lula, está no hotel cinco estrelas. Está dando recorde de lei, acho que foram R$ 16 bilhões ano passado, para a Lei Rouanet, para a artista ficar indo sambar e receber prêmio internacional. Esse não é o país que a gente quer.
Deputado, a polarização política é realidade no nosso Brasil e aqui nos Estados Unidos. O senhor vê, a médio ou a curto prazo, a possibilidade de esquerda e direita conviverem de uma forma construtiva? E mais harmônica?
Olha, eu vejo que o Lula não é líder da esquerda.
Mas aí eu não me refiro a nenhuma liderança, deputado. Eu me refiro a visões políticas de direita ou esquerda, sem personalizar.
É porque dentro da esquerda...
Eu não estou personalizando, se é possível...
Não, mas por exemplo, tem a direita e tem a esquerda. Você disse acertadamente que existe uma polarização. Mas vi semana passada o Lula processando o Ciro Gomes devido a uma crítica que o Ciro Gomes fez aos banqueiros. O Ciro Gomes é tido como uma pessoa de esquerda. Porém, é isso que eu estou desconstruindo nesse raciocínio. Estou falando que existem pessoas que até que sejam identificadas com espectro de esquerda, dá pra conversar. Eu tenho certeza que se eu sentar pra conversar com o Ciro Gomes, com o Rui Costa Pimenta, do PCO, até com umas alas do PDT mais ligadas a Leonel Brizola do passado, o pioneiro do voto impresso, das críticas à informatização de uma eleição, eu tenho certeza que a gente vai conseguir chegar a um denominador comum em algumas pautas.
Mas o ideal, para o melhor do país, não seria sentar com todos?
Não. Não tem como sentar com o pessoal do PSOL que deu a facada na barriga do meu pai. Me desculpe. Essas pessoas querem nos ver assassinadas. É o tipo de pessoa que está por aí assassinando seus opositores. A mesma coisa é dizer, vai sentar com o pessoal que, enfim, é ligado ao PCC que entra numa favela sem trocar tiro. Não tem como você ter. Porque aí é uma questão de valores. É o mínimo, é o básico que você tem pra conversar com alguém. Não tem como conversar com alguém que quer me assassinar. O PSOL é isso. O PSOL prega a revolução. Então, em alguns setores da esquerda, dá até pra você chegar a um denominador comum, por exemplo, nessa parte de liberdade de expressão. E aí fica o nosso convite para que ocorra essa união. Quem sabe até pra distensionar essa polarização. Mas eu acredito, o que eu vejo é que essa polarização é fruto de uma mudança de estratégia dentro da esquerda radical que não permite mais o debate. Você fala que é contra cotas raciais nas universidades ou em concursos públicos, eles falam que você é racista. Eles não sentam para conversar. Você fala qualquer coisa, eles falam que você é nazista. Eles chamam até Israel, Benjamin Netanyahu, de nazista. Então, não existe lógica nisso. Toda hora tentando fazer uma semiótica, tentando nos rotular do que há de pior no mundo. Mas a gente já passou dessa fase. As pessoas entenderam que isso tudo aí é estratégia de militância política, tanto que elegeram Jair Messias Bolsonaro em 2018.
Outro lado
Procurado para comentar as declarações de Eduardo Bolsonaro, o PSOL respondeu em nota:
"Além de tentar conspirar contra o próprio país no exterior, e passear na Disney com recursos de origem incerta, o deputado ataca de modo gratuito e calunioso um partido democraticamente estabelecido, demonstrando seu pouco apreço pela ordem democrática, bem ao estilo da extrema-direita, que articulou e estimulou um golpe de Estado ao não aceitar o resultado das urnas. Vale lembrar ainda que o pai dele foi quem pregou o fuzilamento de adversários políticos e também participou das articulações golpistas para assassinar o presidente e o vice-presidente eleitos junto a um ministro do STF."
Pedimos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um posicionamento sobre a entrevista do deputado licenciado, mas também não obtivemos resposta.