Você já ouviu falar em trombofilia? Condição pode levar à infertilidade em mulheres; entenda
Especialista aponta que é possível minimizar os riscos e ter uma gestação saudável e segura; saiba mais
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Brazil Health
A trombofilia é uma predisposição a formar coágulos de maneira excessiva.
Nosso sistema de coagulação mantém um equilíbrio para que o sangue coagule quando necessário, como em um ferimento, e não coagule quando estiver circulando nos vasos sanguíneos, levando oxigênio e nutrientes aos órgãos.
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Algumas pessoas apresentam alterações nesse sistema de coagulação, o que pode levar à formação de coágulos, dificultando a circulação do sangue e causando problemas como tromboses, embolia, AVC e até complicações na gestação.
Existem dois principais grupos de trombofilias:
● Hereditárias, ou seja, causadas por mutações genéticas. O indivíduo nasce com essa alteração e pode desenvolver um quadro de trombofilia.
● Adquiridas, que surgem ao longo da vida, desencadeadas por doenças autoimunes ou por uma síndrome chamada síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAAF).
É importante destacar que o desenvolvimento de tromboses e demais complicações é multifatorial, ou seja, não depende apenas de uma alteração laboratorial, mas de outros fatores como tabagismo, obesidade, alterações hormonais, varizes, imobilização ou repouso prolongado, entre outros.
A pesquisa da trombofilia deve ser feita somente com indicação de um especialista, a partir de uma boa história médica associada à solicitação de exames genéticos e marcadores da coagulação.
Como a trombofilia afeta a gravidez e a fertilidade?
Durante a gravidez, o feto é nutrido e oxigenado pela circulação de sangue materno na placenta.
Gestantes com trombofilia podem formar trombos, coágulos que reduzem ou até impedem essa nutrição e oxigenação, obstruindo os vasos.
Essas obstruções, totais ou parciais, levam a complicações graves, como:
● Abortamentos espontâneos no início da gravidez;
● Perdas gestacionais tardias;
● Pré-eclâmpsia, que é o aumento da pressão arterial da mãe, levando a riscos maternos e fetais;
● Restrição do crescimento fetal;
● Descolamento da placenta, que pode levar ao óbito do bebê.
Em relação à fertilidade, ainda há muitas controvérsias na literatura científica. Não está clara a relação da trombofilia com a infertilidade, mas há uma possível associação com falhas de implantação, ou seja, um aumento da dificuldade para o embrião se fixar no útero durante a fertilização in vitro.
As trombofilias devem ser sempre pesquisadas em mulheres que desejam engravidar?
Sabe-se que nem todas as pessoas com exames alterados para trombofilias desenvolverão complicações. Por isso, as sociedades nacionais e internacionais de hematologia, ginecologia, obstetrícia e reprodução humana não recomendam a realização de exames sem uma indicação clínica adequada.
Isso significa que não se deve solicitar exames para pesquisa da doença se não houver um histórico bem definido, como:
● Abortos repetidos (mais de dois sem outras causas identificáveis);
● Complicações graves em gestações anteriores;
● Histórico pessoal de trombose;
● Casos de trombose na família.
Os critérios para a indicação da pesquisa são bem específicos para evitar diagnósticos errôneos, o que poderia levar a tratamentos desnecessários e a outros riscos.
Como é feito o tratamento?
Os tratamentos são realizados com anticoagulantes e acompanhamento especializado. O uso incorreto desses medicamentos pode causar complicações tão graves quanto a própria trombofilia. A trombofilia é uma condição que deve ser diagnosticada, acompanhada e tratada por um especialista.
É possível minimizar os riscos e ter uma gestação saudável e segura. A necessidade de pesquisa deve ser criteriosa e seguir as recomendações dos protocolos das sociedades médicas, para evitar diagnósticos equivocados e tratamentos desnecessários.
*Fabia Vilarino é ginecologista especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Ginecológica Endoscópica credenciada pelo CRM 105.234 RQE: 72263/722631/722632