Ambulantes oferecem preços mais baixos para passagens irregulares e fraudulentas no transporte público de SP
De janeiro a julho, mais de 280 mil cartões foram apreendidos, de acordo com a CPTM; poder público e usuário tem responsabilidade, afirma especialista
Fernanda Trigueiro
Ambulantes foram flagrados vendendo bilhetes de transporte público ilegais em vários pontos de São Paulo, por um preço mais baixo, e que adquiriram de forma fraudulenta.
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Nesses esquemas de fraude, os vendedores ilegais ficam na porta de estações ou pontos de trem, abordando passageiros e oferecendo preços mais baixos.
Em um ponto de ônibus da Lapa, zona oeste da capital, um ambulante oferece o passe que custa R$8,50 por R$ 7, por exemplo.
O flagra: preços mais baixos e cartões pela janela
O esquema de venda ilegal é simples: o vendedor clandestino vende a passagem e entrega o cartão ao passageiro. Com o cartão em mãos, é possível ver que cada um tem uma identificação diferente: nome, chave Pix, local e uma numeração.
Dentro do ônibus, é possível passar pela catraca sem dificuldade. Depois, o passageiro devolve o cartão TOP ao ambulante pela janela. Do lado de fora, o vendedor clandestino faz anotações para fazer o controle das viagens.
Pelo menos três homens foram flagrados participando do esquema criminoso, tendo vários cartões em mãos. Alguns chegam a abordar até quem só passa pelo ponto.
Em pelo menos dez minutos parados, a equipe de reportagem do SBT contou ao menos sete passageiros adquirindo a passagem de forma irregular. O lucro fácil e rápido chega a quase R$ 50, um crime contra a economia popular que provoca impactos negativos no transporte público e em quem depende dos ônibus e trens todos os dias.
A recarga dos bilhetes também é feita de forma fraudulenta. Na estação da CPTM de Perus, zona noroeste de São Paulo, a reportagem flagrou um ambulante que faz operação que possibilita recarregar valores altos no Bilhete Único, colocando menos dinheiro.
Mesmo com a presença de policiais militares e guardas municipais, os ambulantes não se inibem. Para o produtor de reportagem, o vendedor ilegal ofereceu recarregar R$ 400, com apenas R$ 150. "R$ 50 eu ponho R$ 150. R$ 100 eu ponho R$ 300 e R$ 150 eu ponho R$ 400', explica o homem, que se identificou como "Rafael".
Com uma maquininha na mão, o ambulante explica que é necessário um esquema: passar pela catraca da CPTM para desbloquear o cartão. Desconfiado, o produtor e o vendedor foram juntos. Uma passagem foi "gasta" e, ao verificar o saldo, foi possível comprovar que o sistema foi burlado: os R$ 150 viraram R$ 400 para ir e vir.
Sistema de bilhetagem está "ultrapassado", diz especialista
De acordo com Ciro Biderman, diretor da FGV Cidades, “isso significa que é menos recurso entrando no caixa da prefeitura”, o que atrapalha a melhora de serviços para a população e de infraestrutura, inclusive no próprio transporte público. Ele também afirma que o sistema de bilhetagem da cidade de São Paulo está ultrapassado.
Segundo Igor Pantoja, coordenador de Relações Institucionais do Instituto de Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo, tanto o usuário, que comete a infração, quanto o poder público têm responsabilidades neste processo. “Quanto ao próprio poder público, ao não oferecer a qualidade merecida pela população no transporte público, acaba também reduzindo a própria credibilidade do sistema”, afirma.
Empresas e órgãos se posicionam
A Guarda Civil Metropolitana informou que não tem conhecimento da venda irregular de bilhetes, enquanto a Secretaria de Segurança Pública disse que monitora a venda ilegal e que, quando um criminoso é identificado, é detido em flagrante. Segundo a pasta, oito foram presos na capital paulista em 2024.
A CPTM, responsável pelos trens de São Paulo, informou que colabora com as autoridades e que também é uma vítima da ação dos criminosos. A SPTrans, que controla a circulação dos ônibus, afirma que, de janeiro a julho deste ano, mais de 280 mil cartões foram cancelados por recarga ilícita ou irregular. No ano passado, foram quase 260 mil cancelamentos, no mesmo período.
Já a Autopass, empresa de bilhetagem eletrônica do cartão TOP, informou que monitora e analisa as transações suspeitas e que 4 mil cartões foram retirados de circulação nos últimos 12 meses por suspeita desta prática.
*reportagem de Fernanda Trigueiro, Cristian Mendes, André Paino e Nito Lima