Saiba semelhanças e diferenças das guerras do Vietnã e do Afeganistão
Imagens de desespero e tumulto com a retirada das tropas norte-americanas foram parecidas nos dois cenários

SBT News
Após a tomada do Afeganistão pelo grupo extremistra islâmico Talibã em 15 de agosto, as imagens que registraram o desespero dos moradores para sair do país estão sendo comparadas às da derrota norte-americana na Guerra do Vietnã e à queda de Saigon, em 1975. Agora, muitos críticos do atual governo dos Estados Unidos rotulam a queda de Cabul como "a Saigon de Joe Biden".
A foto que imortalizou a derrota norte-americana no Vietnã, mostrando moradores e refugiados tentando subir em um helicóptero no telhado de um prédio, reapareceu nas redes sociais após o Pentágono anunciar a retirada das tropas militares do país e o Talibã começar a agir.
À esquerda: Saigon, Vietnã, 1975
? Ricardo Setti (@ricardosetti) August 16, 2021
À direita: Kabul, Afeganistão, 2021 pic.twitter.com/NqLumvDHkB
Saigon - Vietnã
? Alexandre Aguiar PFF2 ? (@alexaguiarpoa) August 15, 2021
29/4/1975
Evacuação da embaixada dos Estados Unidos
? Hugh Van Es/UPI
Cabul - Afeganistão
15/8/2021
Evacuação da embaixada dos Estados Unidos
? Rahmat Gul/AP pic.twitter.com/qbZPneSnXV
Vietnam 1975 Afganistan 2021 pic.twitter.com/NSd3dE85pD
? O?ul Tuna (@sogultuna) August 17, 2021
As cenas do Afeganistão foram registradas no aeroporto de Cabul horas depois que o Talibã anunciou a conquista do país. Como os voos comerciais foram suspensos temporariamente, os moradores locais invadiram a pista do campo de aviação e se agarraram aos aviões militares norte-americanos que estavam deixando o país.
Para Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP, ambas as imagens refletem a derrota dos Estados Unidos, como uma grande potência, para uma potência menor, ocasionando o que é chamado de guerra assimétrica. "Do ponto de vista simbólico, há muitas semelhanças, principalmente por conta da retirada das tropas militares norte-americanas", diz Poggio. "Fundamentalmente, a questão mais relevante é a imagem de uma grande potência perdendo uma guerra em um derrota absolutamente clara, tanto no Vietnã como no Afeganistão", completa.
"Isso prova a máxima da questão da guerra de guerrilha, que, segundo o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, mostra que o tempo costuma estar do lado do guerrilheiro (potência mais fraca), porque, com o tempo, a potência mais forte, nesse caso os Estados Unidos, vai perdendo não a capacidade militar, mas sim a capacidade política e a vontade de continuar lutando", explica. Além disso, ambos os conflitos "registraram uma longa discussão e negociação de como sair dos combates" e nos dois houve uma tentativa dos EUA de potencializar o exército local.
Quando os acontecimentos foram comparados, o presidente norte-americano Joe Biden afirmou que não há nenhum ponto de similaridade possível entre as tropas militares deixarem o Afeganistão e o "doloroso" fim da guerra do Vietnã: "Não haverá ninguém que precise ser evacuado por via aérea do telhado da embaixada americana no Afeganistão. Não é nada comparável".
Poggie relembra também que as situações encaram diferenças importantes. "Em 1975, nós estávamos no contexto de Guerra Fria e agora, mesmo tendo uma disputa entre os Estados Unidos e a China que não pode ser tirada de consideração, não é exatamente o mesmo tipo de conflito que havia naquele contexto do Vietnã", afirma. "Outra questão é que quando eles [americanos] se retiram definitivamente do Vietnã, os Estados Unidos passavam por uma momento de crise devido à renúncia do então presidente Richard Nixon, o caso Watergate, problemas domésticos, etc", acrescenta.
Em relação aos resgates, o exército dos Estados Unidos evacuou seis mil vietnamitas e mil americanos em uma operação que durou cerca de 18 horas e envolveu 81 helicópteros. Já no Afeganistão, a Força Aérea americana informou na última 3ª feira (17.ago) que sete aviões do modelo C-17 Globemaster III já partiram de Cabul com 700 a 800 passageiros, dentre eles 165 americanos. Países como Espanha, Alemanha e Reino Unido também enviaram aviões em missões de resgate.
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Afinal, o que aconteceu no Vietnã?
No começo de 1975, diante do avanço das tropas do Vietnã do Norte (aliado da China e União Soviética) no Vietnã do Sul (aliado dos Estados Unidos), o governo norte-americano decidiu encerrar a sua participação na Guerra do Vietnã, após quase 20 anos de combates, admitindo a derrota militar. Com a retirada das tropas militares americanas, a situação foi ficando caótica à medida que os soldados norte-vietnamitas se aproximavam de Saigon, a capital do Vietnã do Sul.
Em abril do mesmo ano, Saigon foi tomada pelas forças do Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul foi derrubado, unificando o país sob um regime comunista -- que dura até hoje. Com isso, os vietnamitas que trabalhavam no governo do sul ou que colaboraram com as forças americanas tentaram desesperadamente sair do país com medo de represálias, gerando um grande caos nas ruas diante da embaixada americana.
Segundo estimativas, a Guerra do Vietnã causou a morte de quase 58 mil soldados norte-americanos e de mais de 1,1 milhão de vietnamitas, além de centenas de milhares de civis.
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Já nos combates dentro do Afeganistão, o número de mortos chegou a 2.420 soldados americanos e 65 mil soldados do governo afegão. Estima-se também que o Talibã tenha perdido 51 mil combatentes durante os conflitos.