Obras do metrô e segurança foram destaques em debate do SBT em 2014
Sete candidatos ao governo de São Paulo se enfrentaram na TV naquele ano
Guilherme Resck
O SBT realiza neste sábado (17.set) -- às 18h30 --, em pool com os veículos Estadão/Eldorado, Terra, Veja e Rádio Nova Brasil FM, um debate entre os principais candidatos a governador de São Paulo: Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (PSDB), Vinicius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT). Nessa mesma época, há oito anos, a emissora transmitiu um debate entre Walter Ciglioni (PRTB), Laércio Benko (PHS), Paulo Skaf (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB), Alexandre Padilha (PT), Gilberto Natalini (PV) e Gilberto Maringoni (Psol), que concorriam ao Palácio dos Bandeirantes naquele momento.
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O jornalista Carlos Nascimento, do SBT, fez a mediação. Entre os temas abordados pelos políticos, segurança pública e as obras do metrô foram os destaques. Alckmin -- que disputou a reeleição e venceu no primeiro turno naquele ano -- sofreu várias críticas. Ciglioni foi o primeiro a perguntar a um concorrente, e direcionou a questão ao tucano. O indagou sobre o que o governo estava tomando como medida para frear o tráfico de drogas. "Essa é uma situação extremamente grave", falou Alckmin em relação à afirmação de Ciglioni de que o Brasil havia se tornado "playground mundial na questão da cocaína e do craque". O governador propôs o combate ao tráfico com polícia e atendimento ao paciente. "Dependência química é doença, como é tuberculose", pontuou. Por causa disso, de acordo com ele, havia estabelecido o Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras Drogas (Cratod) funcionando 24 horas.
Benko, o segundo a perguntar, indagou a Skaf se votaria nulo para presidente da República ou em Dilma Rousseff (PT) -- o que respondeu implicitamente, dizendo "eu voto com o meu partido" --; prometeu concluir o Rodoanel e acabar com a chamada progressão continuada nas escolas; disse que as obras do metrô estavam "em ritmo muito devagar" e que era preciso acelerar por meio de parcerias público-privadas, por exemplo; e afirmou que discurso de Alckmin sobre as obras do metrô estarem sendo entregues parecia "replay da campanha de 2010, 2006 e 2002, 98, tudo vai sair do papel, tudo está sendo planejado, mas concretamente não acontece nada".
Skaf, por sua vez, perguntou a Natalini como combater os "monstros estupradores". Conforme o político do Partido Verde (PV) no debate, o "problema de criminalidade hoje no estado de São Paulo e no Brasil é o avanço e o enraizamento do crime organizado". Em outro momento, o presidente da Fiesp afirmou que o a segurança pública era um problema no território paulista "por falta de um comando mais firme do próprio governador", em ataque a Alckmin. Depois, alfinetando Skaf, o tucano pontuou: "Nós assumimos o governo do partido dele, do chefe da campanha dele, o Fleury, a polícia não tinha gasolina, não tinha bala, o policial não tinha colete a prova de bala".
O governador foi indagado ainda sobre se estava preparado para sancionar ou vetar uma lei, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que proibia a utilização de máscaras em manifestações; no ano anterior, havia ocorrido as chamadas Jornadas de Junho. "Nós somos contrários a qualquer tipo de máscara. Uma coisa é manifestação, outra coisa são atos de violência. Aliás a população veio às ruas ano passado para que não tivesse dinheiro para estádios de futebol, em São Paulo não teve um centavo em dinheiro para estádio", falou Alckmin. Acrescentou que a lei seria sancionada.
Skaf disse que sancionaria "na hora" se fosse governador e, questionado pelo jornalista Fabio Diamante, do SBT, qual era "o novo caminho" que falava trazer para a segurança pública no estado, afirmou que estava consultando várias pessoas, entre as quais especialistas, delegados e coronéis, para implementar medidas para a área se eleito. Outro político a criticar o tempo da execução das obras do metrô e a situação da segurança pública em São Paulo, no debate em 2014, foi o ex-ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha. Em relação ao primeiro tema, falou que as obras eram executadas "lentidão". Sobre o segundo, declarou que a falta de segurança antes era um problema só das capitais e das regiões metropolitanas, mas "se transformou num estado gravíssimo alastrado em todo o nosso estado".
Sua proposta para melhorar o cenário era usar o esforço de todas as polícias, incluindo a federal, por meio de um centro integrado. Havia se inspirado num modelo americano. "Nós paulistas temos que buscar as melhores soluções no mundo independente do posicionamento ideológico que temos", falou. De acordo com Maringoni, entretanto, a sugestão era "um salto no escuro", porque a polícia americana estava usando armas utilizadas na Guerra do Iraque, por exemplo.
Em outro instante no debate, Maringoni foi questionado por Natalini sobre o que faria "para se imunizar contra esse micróbio chamado corrupção". Segundo o político do Psol, esta era "seríssima, e muitas vezes os candidatos ficam iludindo a população dizendo que o problema são dos homens e mulheres bons e das pessoas más". "A raiz da corrupção no nosso sistema eleitoral está no financiamento privado de campanha", completou. Pouco depois, alfinetou Alckmin dizendo que dois financiadores da campanha do tucano eram rés "no escândalo de cartel de trens do Mensalão", e outro havia sido denunciado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A crise hídrica iniciada em São Paulo naquele ano foi outro tema abordado. Padilha foi questionado se, num eventual governo, faria um racionamento oficial caso o problema continuasse. "Não farei. O que eu farei, a partir do dia 1º de janeiro de 2015, é implantar o programa Água Dia e Noite", respondeu. O programa incluía realizar todas as obras da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Alckmin, por sua vez, disse que era "a maior seca desse último século" e que sua gestão estava trabalhando com planejamento, obras e conscientização diante do cenário. Conforme Natalini, a crise hídrica era "violentíssima". "Se não chover no final do ano, vai faltar água para beber. Então não adianta vir aqui dizer que vai fazer coisa mirabolante".
Sobre educação, Padilha perguntou a Alckmin por que o Ensino Médio "só piorou" nos quatro anos do seu governo. Na resposta, o tucano atacou o Partido dos Trabalhadores: "O compromisso de São Paulo com a educação é bem diferente do PT". De acordo com o governador, o então prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), havia reduzida investimentos na educação em sua gestão.
Preparação
Geraldo Alckmin, que venceu a eleição de 2014 para governador de São Paulo no primeiro turno, normalmente se reunia um dia antes com sua equipe de campanha para se preparar para o debate e, na data do evento, ficar focado neste. Entretanto, para uma pessoa que participou da campanha, naquele ano o clima da corrida ao Palácio dos Bandeirantes foi "mais ameno" do que o de quatro anos depois, quando João Doria foi o candidato tucano. "O que tinha era uma dúvida se o Geraldo conseguiria ganhar no primeiro turno ou se teríamos segundo turno em São Paulo, e ele ganhou no primeiro turno, com uma diferença bem pequena, mas levou no primeiro turno em 2014", pontuou, em entrevista ao SBT News.
Ainda em suas palavras, "foi uma campanha mais propositiva e 2018 foi uma campanha mais de ataque". No treinamento de Alckmin para os debates, jornalistas participavam. Eram estabelecidas perguntas e respostas e analisado como os concorrentes de Alckmin reagiriam no evento real.
Importância dos debates
Para o cientista político José Trigo, do Mackenzie, após 2018, quando as redes sociais tiveram "grande participação" nas eleições, não ficou claro como elas influenciariam no pleito de 2022 e qual seria o peso do horário eleitoral e dos debates neste ano. "Pelo menos até aqui em setembro, nos temos percebido que o horário eleitoral não conseguiu surtir o mesmo efeito nas campanhas, mas os debates parece que ressurgiram, ganharam importância. Então o debate por si só, pela sua natureza, já um foro de discussão bastante importante para a política. Mas parece que eles tiveram o seu apelo renovado nessas eleições", acrescentou, em entrevista ao SBT News.
Em relação a 2014, observa que não havia "na eleição estadual uma polarização muito grande" e o debate entre os candidatos a governador, "naquele momento foi importante, como os debates são, mas o Alckmin estava muito mais na esteira de um PSDB consolidado no estado de São Paulo, em que o PSDB teve uma série de gestões muito bem avaliadas pela população". O ex-tucano, conforme Trigo "nunca foi um político de grande expressão em debates, com a capacidade de retórica". "É só a gente lembrar qual foi o desempenho dele, no caso um mal desempenho, nos debates que ele teve com Lula à Presidência da República". O petista e o ex-governador se enfrentaram em 2006.
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Trigo avalia também que "os debates significam talvez o único espaço longe das redes sociais". "As redes sociais são manipuladas, dirigidas, organizadas, ao passo que os debates exigem do candidato uma articulação, exigem que ele tenha uma versatilidade maior do que nas redes sociais. Nas redes sociais o candidato pode esconder. Num debate ao vivo o candidato não esconde. Então isso é bastante importante".
Na visão da doutoranda em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora d'A Tenda das Candidatas, Hannah Maruci, "o debate é um momento extremamente importante para a democracia, uma vez que é uma oportunidade para que os candidatos e candidatas mostrem o quanto estão apropriados de seus próprios planos de governo, quais suas eventuais lacunas quando confrontados e quais seus pontos positivos". Ainda conforme ela, a existência desses eventos faz com que aqueles que disputam cargo do Executivo "tenham de pensar sobre temas que podem surgir e que não necessariamente teriam sido abordados por eles, trazendo assim uma responsividade do candidato ou candidata em relação à sociedade".
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