Depoimento de hacker dá fôlego a governistas contra Bolsonaro
Aliados de Lula vão insistir em pedidos de investigação
A base do governo ganhou força para insistir em pedidos de informações financeiras e de quebras de sigilo do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos de 8 de janeiro.
Com solicitações que ainda não haviam sido acordadas no colegiado, a avaliação de parlamentares é a de que as declarações concedidas pelo hacker Walter Delgatti Neto pressionem o avanço das solicitações.
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Nos bastidores, conforme apurou o SBT News, a expectativa é de que a quebra de sigilo de Bolsonaro e de informações financeiras dele e de Michelle sejam aprovadas na próxima 3ª feira (22.ago). Os pedidos estavam na mesa da comissão há semanas, e vieram na esteira das investigações da Polícia Federal a respeito da suposta venda de presentes oficiais recebidos.
Eles não avançaram pelo entendimento do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), de que não estariam relacionados às investigações de 8 de janeiro.
Na perspectiva de parlamentares, as denúncias antidemocráticas apresentadas por Delgatti podem conduzir Maia a reavaliar o posicionamento. Na última 5ª feira (17.ago), o hacker disse ter recebido uma série de pedidos ilegais durante o último governo, incluindo um pedido do próprio presidente para que ele tentasse invadir o sistema das urnas eletrônicas e para criar um código-fonte falso, que simulasse um erro no sistema de votação.
Segundo ele, a intenção era fazer com que urnas eletrônicas fossem descredibilizadas. As denúncias ainda serão apuradas, mas o teor antidemocrático pode reaproximar pedidos contra o ex-presidente ao foco da comissão. A demanda já foi repassada ao presidente Arthur Maia.
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Aposta na CPMI
Além das denúncias, parlamentares apostam em conseguir os pedidos por também serem a maioria dentro do colegiado. A CPMI do 8/1 é vista, ainda, como a forma de participação do Congresso nas investigações contra Bolsonaro. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o caso das joias e presentes chegou a ser cogitada, mas não ganhou apoio do governo e estacionou em 112 assinaturas - para abrir o colegiado, são necessárias 171.
Líderes partidários avaliaram ao SBT News que uma nova comissão nem é discutida. A base do governo considera que outro colegiado pode interferir no tempo para discussão de outras propostas no Legislativo.
Próximas convocações
O próximo a depor à comissão será o sargento do Exército Luis Marcos dos Reis. Ele foi um dos auxiliares de Bolsonaro enquanto presidente, e é citado em relatório do Coaf como militar que repassou recursos além da remuneração. Está preso, assim como o tenente-coronel Mauro Cid. A base do governo quer convocar também o ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira, o ex-advogado de Bolsonaro Frederick Wassef e o sargento do Exército Luis Marcos Dos Reis.
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Do outro lado, oposicionistas querem a convocação do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A pressão para ida dele aumentou após ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha afirmar à comissão que ele havia sido informado dos riscos de invasão aos Poderes em 8 de janeiro.
Defesa de Bolsonaro
A defesa do ex-presidente defendeu que as informações apresentadas pelo hacker à CPMI são falsas, e informou que vai entrar com uma queixa-crime contra Delgatti. Detalhes do processo ainda não foram oficializados, mas o processo vai apontar os crimes contra honra, calúnia e difamação.
O assessor de Bolsonaro Fabio Wajngarten também afirmou que todas as declarações feitas pelo hacker são mentirosas, e que não houve o cometimento de crimes durante a gestão de seu governo. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na última 6ª, Bolsonaro afirmou ter se encontrado com Delgatti, mas afirmou que as conversas foram para aperfeiçoar o sistema eletrônico de votação.
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