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Brasil

Lideranças indígenas comentam atuação de garimpos na Amazônia

Ação ilegal impacta diretamente as aldeias, que também convivem com a violência por parte dos garimpeiros

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Homem andando de barco no Rio Amazonas
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Problema antigo no Brasil, os garimpos ilegais voltaram a ser destaque com o deslocamento de dragas no Rio Madeira, bacia que corta os estados do Amazonas e Rondônia. Impactos ambientais, como o desmatamento e a contaminação dos afluentes são alguns dos reflexos ocasionados pela aproximação dos garimpeiros, que, em busca de ouro, também ameaçam as populações indígenas que vivem na região. A ameaça se dá de duas frentes: por meio da degradação do meio ambiente, ligada diretamente à sobrevivência dos povos, e da violência exercida diante dos nativos, que passam a sofrer, inclusive, ameaças de morte.

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Ao SBT News, lideranças indígenas comentaram o cenário, ressaltando que, mesmo entre os povos, há nativos que passaram a atuar juntos dos garimpeiros e políticos. "São várias lideranças. Entre elas, há indígenas que estão na cidade, que já conseguiram se adaptar. Eles têm influência política e se juntam, justamente, com políticos inescrupulosos que alimentam o minério dentro da terra deles".

O Greenpeace faz monitoramentos na região com o objetivo de mapear os garimpos. De acordo com a organização não governamental, desde 2016, o garimpo ilegal já destruiu ao menos 632 quilômetros de rios em torno da Terra Indígena Munduruku, no sudoeste do Pará. O desmatamento também aumentou. Em 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (PL), "a atividade garimpeira na região Amazônica foi responsável pelo desmatamento de uma área de 10,5 mil hectares de florestas, o que significou um aumento de 23% em relação a 2018, quando foram desmatados 8,5 mil hectares", apontou André Freitas, gerente de florestas da ONG. A área corresponde a mais de 10 mil campos de futebol.

Os elevados indíces de mercúrio ainda impactam a fauna e a flora, como explica Freitas: "a contaminação da fauna e da flora impacta a oferta de pescado, tornando-o inapropriado para o consumo humano. A movimentação da atividade garimpeira e o elevado nível de ruído afasta a caça e a pesca em áreas geralmente percorridas por indígenas. Esses impactos interferem na dieta de indígenas e populações tradicionais, além de modificar drasticamente sua relação atávica [ou seja, antepassada] com a natureza". 

Segundo um laudo divulgado pela Polícia Federal em dezembro, durante uma operação no Rio Amazonas, foram constatados que 85% dos materiais analisados apresentaram contaminação por mercúrio. O indíce é de 15 a 95 vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A substância, por sua vez, fica concentrada no organismo de quem consome os alimentos contaminados.

Perguntados sobre a presença de minério na região, as lideranças relataram que as consequências já são visíveis nos povos. "Em duas aldeias, o povo vai ser praticamente extinto. Todos estão contaminados. As crianças nascem com deficiência física. As mães não podem ter bebês. Como elas não podem engravidar, provavelmente, vão sumir do mapa". Outro desafio para as populações é o surgimento de doenças, como a covid-19, transmitidas com a aproximação dos garimpeiros às aldeias.

Questionado, o Ministério Público Federal (MPF) no Pará, afirmou, por meio da assessoria, enfrentar a situação por diversas frentes. "Além do trabalho diário de investigar e processar os grupos que invadem terras indígenas ou outras áreas em que a mineração é ilegal, o MPF também tem atuado para que o Brasil tenha mais eficiência no controle do comércio do ouro, para que quem revenda seja punido da mesma forma que quem extrai ilegalmente". Procurados, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente não se manifestaram.

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