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Um padre de festa junina

O personagem que marcou negativamente os debates do 1o. turno e mostrou como o sistema legal pode criar embaraços ao sistema democrático

Um padre de festa junina
padre kelmon
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Esta jornada política, indiscutivelmente ficará marcada pela presença de um personagem pitoresco apelidado nos debates pela candidata a presidente Soraya Tronicke de padre de festa junina e de candidato padre, o senhor Kelmon Luis da Silva Souza.

Ele foi candidato a presidente da República, mas ninguém sabe claramente nem haverá mais oportunidade de saber que tipo de propostas teria para solucionar os complexos problemas do país.

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O tal indivíduo, que se apresenta em público com uma batina, um grande crucifixo e uma espécie de solidéu sobre a cabeça, usando a denominação de Padre Kelmon, segundo Dom Tito Paulo George Hamma, Arcebispo da Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, não se trata de sacerdote em nenhum dos graus, nem no Brasil e em nenhum outro país do mundo.

Parece não ser exagero afirmarmos, portanto, tratar-se de pessoa que iludiu a boa-fé das pessoas ao apresentar-se publicamente como padre, ao usar batina de padre.

Tal pessoa criou uma percepção imaginária que não corresponde à realidade. Apropriou-se da história, da reputação da Igreja Cristã, em seu benefício, da credibilidade de que goza a Igreja, para dela usufruir como pseudo-candidato, estando ao lado de outros verdadeiros candidatos, com história política, para poder se fazer presente nos debates televisivos com aparência de suposto candidato e vestimenta de sacerdote que nunca foi.

Foi marcante uma cena de bastidores do debate na TV Globo em que este indivíduo, que foi candidato pelo PTB, substituindo Roberto Jefferson, impedido por motivos criminais, troca papeis com aparente intimidade com o presidente da República, ficando claro que foi a ele terceirizado o papel de agredir o oponente político do presidente, nitidamente poupando-o de desgaste.

Que estava ali prestando um serviço de "candidato auxiliar". Já vimos cenas deprimentes equivalentes no ambiente do futebol e outros esportes, quando um time auxilia o outro, entregando o jogo.

Interessante observar que as principais lideranças do PTB ignoraram o tal "Padre Kelmon" nestas eleições, não o apoiando, deixando de mencionar sua existência em postagens nas redes sociais bem como em materiais de campanha, o qual, mesmo assim recebeu um milhão e meio de reais do fundo eleitoral para supostamente fazer "campanha".

Nos debates televisivos nos quais participou não apresentou sequer esboço de qualquer política pública de qualquer área para equacionar a solução de qualquer problema social do país.

Observou-se no debate final, promovido pela Globo, que adotou atitude escancarada, deliberada, no sentido de obstruir a fala do adversário do candidato oficial à reeleição. Interrompia-o seguidamente, mesmo sendo avisado que não poderia fazê-lo, pelo mediador William Bonner. Insistiu em fazê-lo obstinada e reiteradamente como um robô programado para aquela ação.

Padre Kelmon foi candidato à Presidência da República pelo PTB | Reprodução

Foram várias interrupções seguidas, e de nada adiantava Bonner advertir e repetir a advertência de que candidatos e assessores assinaram documentos concordando com as regras do debate.

Ali parecia estar presente um implacável cumpridor de uma missão -- obstaculizar o desempenho daquele que ocupava o primeiro lugar nas pesquisas -- o oposicionista. A análise de sua postura mostra frieza e tranquilidade obstinadas para xingar o candidato-alvo sem se abalar com a situação, a serviço do presidente.

Ao ser entrevistado após o debate pela apresentadora Renata Lo Prete, a frieza e tranquilidade são mantidas e nem fez questão de disfarçar o papel que ali cumpria e sequer pediu voto convicto para si mesmo, dizendo que o eleitor poderia decidir entre ele e o presidente, evidenciando novamente a parceria entre ambos. 

Outra faceta notável do discurso do "padre" foi seu discurso devidamente programado para convenientemente se vitimizar, atribuindo aos candidatos a pecha de insensíveis seres que desrespeitam religiosos -- como se ele fosse de fato um verdadeiro sacerdote.

O uso ardiloso da batina e aquele desempenho teatral visava criar óbvias narrativas para as redes sociais a partir dos embates ali construídos pelo personagem obviamente fictício, que não tendo apoio dos pares de partido recebeu número pífio de votos, o que evidencia que se tratava sua candidatura de manobra para iludir eleitores e turvar as águas da democracia.

Na seção eleitoral na qual votou em Salvador foi registrado apenas um voto para si e ele sequer confirma se foi o seu.

É chocante a percepção de que o sistema legal admite situações perniciosas como esta, que causam nítido embaraço ao debate democrático. Infelizmente o vale-tudo partidário chancela situações assim porque o coronel, dono do partido, tudo pode.

Porque não há deveres rigorosos de prestar contas nem regras de integridade, apesar de estarmos lidando com estruturas que se alimentam e sobrevivem de dinheiro público -- fundos partidário e eleitoral.

Além da imprescindível investigação e providências neste caso concreto, é imperioso que tenhamos preventivamente reforma partidária, estabelecendo regras, código de ética, integridade, limites, rigor, sob pena de eternizarmos e naturalizarmos este tipo de fraude à luz do dia. E isto somente ocorrerá se for exigido pela sociedade e for construído pacto social neste sentido.
 

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