Tortura contra alunos: polícia pede prisão de donos de escola em SP
Criança amarrada em pau, pressões psicológicas e humilhações estão entre as denúncias gravadas em vídeo
Flávia Travassos
A Polícia Civil pediu a prisão temporária dos donos de uma escola infantil particular, no Cambuci, região central de São Paulo, por suspeita de tortura contra os alunos. O próximo passo é a decisão da Justiça.
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Uma senhora, que preferiu não se identificar, disse que ouvia de case, quase todos os dias, alunos chorando.
"[Um dia] eu fui até lá e vi uma menininha chorando em um quarto, sozinha. Eu perguntava "O que ela tem?", e o homem [que estava responsável por ela] na escola me respondeu "Ela quer a mãe dela". Mas não era, ela tava sozinha, fechada naquele quartinho.", disse
Segundo uma jovem de 18 anos, que já foi professora do colégio, esse tipo de castigo acontecia com frequência. Ela gravou um vídeo que mostra uma bebê, de 1 ano e 6 meses, sendo obrigada a guardar os brinquedos. Na gravação, é possível ver a dona da escola sentada em uma cadeira, dizendo para a criança ajoelhada um pouco a frente, junto aos brinquedos e chorando: "Pode ficar do jeito que eu te coloquei, até guardar, pode olhar pra quem você quiser, ninguém vai te socorrer, guarda!"
Alunos também eram humilhados na frente de outras crianças. "E hoje você não fez xixi na roupa por qual motivo? Vou começar a conversar com você e vou gravar as suas respostas. Quando a sua mãe, seu pai, ou sei lá quem vir te buscar, eu vou pegar e colocar aqui a resposta do seu filho pra mim. Assim eu provo que louco aqui é você, não eu", disse uma das professoras
Depois de ouvir 14 testemunhas, os investigadores entenderam que os alunos foram torturados.
"Eu fui absorvendo, fui buscando elementos, indícios que me convecessem que aquilo era tortura. Acabei sendo convencido e coloquei isso no processo. O promotor também entendeu que era tortura e encaminhou para uma vara especializada", afirmou Fábio Daré, delegado responsável pelo caso.
Mães que procuraram a polícia disseram que a escola tinha mais irregularidades, como CNPJ inapto, além de contratarem menores de idade para lecionar. O cadastro do colégio está inapto desde 2021, por omissão de declarações a Receita Federal. A advogada de defesa do casal de proprietários da escola disse, nesta 6ª feira (23.jun), que o casal irá se apresentar, mas não disse quando.
"Se sair a prisão [do casal], vou ouvi-los somente depois de serem presos. Antes, não", disse Daré.
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