Dalai Lama completa 90 anos em meio a disputa pela escolha de seu sucessor
Líder espiritual do Tibete vive no exílio e enfrenta resistência da China, que tenta controlar o processo de sua sucessão

SBT News
com informações da Reuters
O líder espiritual tibetano, Dalai Lama, completou 90 anos neste domingo (6), em meio a uma crescente disputa sobre quem escolherá seu sucessor: os tibetanos, seguindo uma tradição milenar, ou o governo da China.
Nascido em 6 de julho de 1935 como Lhamo Thondup, em uma família de camponeses no nordeste do Tibete, ele foi reconhecido aos dois anos como a 14ª reencarnação de Chenrezig, o Buda da Compaixão. Rebatizado como Tenzin Gyatso, foi entronizado aos quatro anos no Palácio de Potala, em Lhasa, e assumiu os plenos poderes de Estado aos 15, tornando-se não apenas um líder espiritual, mas também político da região.

A trajetória do Dalai Lama mudou radicalmente após a invasão chinesa do Tibete, em 1950. Exilado desde 1959, após uma revolta fracassada contra o domínio chinês, ele vive na cidade indiana de Dharamsala, onde fundou um governo tibetano no exílio e continua sendo a principal referência espiritual dos budistas tibetanos.
Pequim considera o Dalai Lama um “separatista perigoso” e afirma que o próximo líder espiritual da tradição tibetana deve ser escolhido sob supervisão estatal, com base em práticas da era imperial chinesa, como o uso da chamada “urna dourada”.

O Dalai Lama, por sua vez, já declarou que seu sucessor nascerá fora da China e alertou seus seguidores a rejeitarem qualquer nome indicado por motivos políticos. Ele também deixou instruções por escrito para que a escolha siga critérios religiosos e seja conduzida por representantes da Fundação Gaden Phodrang, criada por ele em 2015.
Como funciona o processo de sucessão?
A tradição tibetana prevê que a alma do Dalai Lama reencarne após sua morte, sendo reconhecida em uma criança que demonstre sinais espirituais específicos. No caso do atual líder, ele foi identificado por monges quando ainda era um menino, ao reconhecer objetos que pertenciam ao seu antecessor.
A indefinição sobre o futuro do cargo preocupa tanto fiéis quanto governos. A Índia, que abriga mais de 100 mil tibetanos, vê na presença do Dalai Lama em seu território uma ferramenta diplomática frente à China. Já os Estados Unidos reforçam que a escolha do novo Dalai Lama deve ser feita pelos próprios tibetanos, sem interferência de Pequim.
Em 2024, o então presidente Joe Biden sancionou uma lei para pressionar a China a respeitar os direitos culturais e religiosos do Tibete.
O Dalai Lama ainda não revelou se a instituição do cargo continuará após sua morte. Segundo ele, essa decisão será tomada em conjunto com os líderes espirituais tibetanos e a comunidade budista.
Aos 90 anos, Sua Santidade continua sendo uma figura de respeito global, admirado por seu ativismo pacifista e por manter viva a identidade cultural de seu povo, mesmo longe de sua terra natal.
Comemorações
Em uma cerimônia marcada por cores, devoção e emoção no templo principal de Dharamsala, cidade montanhosa no norte da Índia, milhares de seguidores do mundo todo se reuniram, neste domingo (6), para celebrar o 90º aniversário do Dalai Lama.
Vestido com seu tradicional manto amarelo e bordô, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz foi recebido com aplausos e sorrisos por uma multidão composta por monges, fiéis e admiradores de diferentes partes do mundo.
A celebração foi o ponto alto de uma semana de homenagens organizadas por seus seguidores, durante a qual ele voltou a desafiar a China ao reafirmar sua fé no futuro do Tibete e mencionar sua esperança de viver além dos 130 anos, além de reencarnar após sua morte. Pequim, que o considera um separatista, reagiu com críticas, como tem feito historicamente em relação ao líder religioso.
O Dalai Lama é amplamente reconhecido como uma das figuras religiosas mais influentes do mundo, com seguidores que vão muito além do budismo tibetano. Para muitos presentes, a ocasião teve um significado profundo.